Uma criança pobre aborda um homem com um pedido inusitado: “Tio! Ei, tio! Me paga um livro?”. Esse é o ponto de partida de Fábula Urbana, livro infantojuvenil escrito pelo jornalista José Rezende Jr, com ilustrações de Rogério Coelho. A obra lançada pela Editora Gato Leitor será apresentada ao público de Goiânia neste sábado (19/2), na Pomar livraria. O autor estará presente das 15 às 18 horas para autografar os livros e conversar com leitores. A entrada é gratuita.À primeira vista, a história pode parecer, como o nome diz, uma fábula urbana. Mas ela nasceu de um pedido real feito por uma criança a José Rezende. Cerca de 10 anos depois, quando buscava inspiração para escrever um conto, o autor se lembrou daquela cena que se passou dentro do shopping Conjunto Nacional, em Brasília, cidade onde o mineiro de Aimorés vive há mais de 30 anos.“Nunca antes nem depois aconteceu algo parecido comigo. Fiquei agradavelmente surpreso, atendi o pedido e ele escolheu um livro”, relata o escritor ao POPULAR.No entanto, apenas o início é igual. Em vez da grata surpresa que sentiu com a abordagem inusitada, José Rezende imaginou um episódio permeado por um conflito psicológico, uma fábula urbana sobre a desigualdade e a importância do livro e da leitura como instrumentos de transformação social.“A história é quase um duelo entre o menino e o homem de terno”, afirma. É assim, sem nomes ou idades definidos, que os personagens são apresentados ao leitor: “o menino pobre” e “o homem de terno”. O autor conta que optou por chamá-los dessa maneira porque, na história, o lugar que eles ocupam na pirâmide social é mais relevante do que a identidade deles em si.De início, assim como José Rezende, o personagem da trama se surpreende com o pedido do garoto. Mas logo em seguida fica com medo, pois o fato se passa tarde da noite, com o shopping quase vazio e sem nenhum segurança à vista. Enquanto repassa diversos de seus preconceitos na cabeça, o homem de terno enfrenta a persistência do garoto, que insiste na necessidade de ter um livro. Afinal, podia ser qualquer um, até “o mais baratinho”.Na trama, os questionamentos e conflitos internos do homem de terno aparecem de uma forma lírica e poética. Ao mesmo tempo, o autor mostra o quanto um livro pode ser importante para um indivíduo. “É uma história sobre desigualdade e toca as pessoas”, diz.José Resende destaca que a desigualdade social no País tem várias origens históricas, permanecendo até hoje, mas pontua o papel da educação para uma mudança na sociedade. “O Brasil tem fila para comprar Jaguar e helicóptero, e tem milhões de pessoas que acordam sem saber o que vão comer. A falta de educação, e consequentemente a falta de leitura, aumenta essa desigualdade. A gente observa que, em uma família pobre, quando um indivíduo consegue ter estudo ele muda a realidade dele. O saber, o acesso ao conhecimento, é uma das ferramentas de mobilidades social”, avalia.Fábula Urbana marca a estreia do autor no universo infantojuvenil. Apesar da classificação, a obra promete agradar públicos de diferentes faixas etárias. “Inicialmente, a história não era destinada ao público jovem. Quando chegou na editora, ficou decidido que seria publicado como um livro infantojuvenil”, revela.José Rezende destaca que o Brasil tem tradição e mercado forte para a produção infantojuvenil, mas aponta desafios: fazer com que a literatura continue sendo atraente quando os jovens se tornam adultos e tornar o preço mais acessível. “Diante de tantas necessidades que as pessoas têm, o livro ainda é um produto caro. Mas não pode ser encarado como supérfluo. O preço dos livros é algo que precisa ser corrigido, buscando formas de baratear para que mais pessoas tenham acesso”, explica.Sobre a concorrência com o mundo digital, o autor contemporiza. “Em uma geração formada pelo audiovisual, o videogame, o You Tube e o Tik Tok são muito atraentes. Mas a gente precisar dar a opção. Na casa do jovem tem livro? Na escola tem biblioteca? De repente ele vai gostar. Não são coisas excludentes. Ele pode jogar videogame e também ler livro.”José Rezende Jr. é ganhador do Prêmio Jabuti em 2010 com o livro de contos Eu Perguntei Pro Velho Se Ele Queria Morrer (e Outras Estórias de Amor). Foi finalista do Prêmio Oceanos e do Prêmio São Paulo em 2020 com o romance A Cidade Inexistente. Atua como repórter da revista Traços, publicação cultural vendida em Brasília por pessoas em situação de rua.-Imagem (Image_1.2404994)