O que é a menopausa?“É o marco da parada de menstruação, perda da capacidade de ovulação e da produção de hormônios pelos ovários”, explica a endocrinologista Fernanda Braga Ruguê. Entre as alterações, estão o aumento do FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante), queda do estradiol, progesterona e testosterona. “O período que antecede essa etapa, a perimenopausa, já é marcado por flutuações hormonais, irregularidade menstrual e sinais e sintomas importantes. Um deles é o aumento de gordura em região de tronco, influenciado pelo aumento do FSH”, explica. Por que tanto receio?Apesar de ser uma etapa natural da vida, a menopausa é carregada de estigma. Assim como a maioria dos efeitos do processo de envelhecimento, o peso do aparecimento deles recai com mais força sobre as mulheres. “A menopausa é estigmatizada porque representa o fim do período reprodutivo na vida da mulher. Encerra-se um ciclo, encerram-se as possibilidades. No homem isso não ocorre, ele tem a possibilidade de procriar por toda a vida”, comenta a ginecologista Ana Flávia Cavalcante.A associação que o fim da idade reprodutiva tem com a transição para uma nova fase, “mais velha”, torna a aceitação difícil para algumas mulheres. A negação e o medo fazem com que muitas tenham vergonha de abordar o assunto entre amigas e de procurar um profissional para iniciar um possível tratamento de sintomas. “Depois do receio do envelhecimento, vem acompanhando todos os medos dos sintomas associados ao período”, aponta. O que é climatério?Já ouviu falar nesse termo? Climatério é o período de transição da menopausa. “Dessa forma, a menopausa (última menstruação) é um fato que ocorre durante o climatério. No climatério há uma diminuição das funções ovarianas, fazendo com que os ciclos menstruais se tornem irregulares, até cessarem por completo”, explica a ginecologista. A irregularidade da menstruação é um dos principais sintomas desta fase. “Estatisticamente, a menopausa ocorre, em média, aos 50 anos. O climatério tem início por volta dos 40 anos e se estende até os 65 anos”, completa. Como surgem os sintomas?“Os sintomas da menopausa ocorrem pelo declínio dos níveis dos hormônios produzidos pelos ovários (estrogênio, progesterona e testosterona). A queda dos níveis de estrogênio desencadeia os sintomas principais e mais incômodos da menopausa, que são os fogachos (ondas de calor), a insônia e as alterações de humor como irritabilidade, tristeza, ansiedade e depressão”, explica Ana Flávia.Desânimo, sensação de cansaço e falta de libido também são queixas frequentes. Fernanda Braga Ruguê destaca que, além dos citados acima, existem os chamados sintomas geniturinários. “São sintomas como atrofia vulvar, ressecamento vaginal, dor no ato sexual (dispareunia) e diminuição da libido”, aponta. O que são as ondas de calor?Entre os sintomas mais conhecidos da menopausa estão as ondas de calor ou fogachos, parte do grupo de sintomas vasomotores. Isso ocorre devido à queda vertiginosa do estradiol no climatério, que tem grande importância no bom funcionamento vascular e controle da temperatura corporal e dos suores. “O estrogênio influencia diretamente na temperatura corporal e existe uma alteração, a nível do sistema nervoso central, em uma região que faz a termorregulação”, comenta a endocrinologista. “Lembrando que o estradiol não cai de uma vez. Ele fica numa montanha-russa e, por isso, ocorrem esses sintomas”, diz. Libido e saúde íntimaAlgumas mulheres relatam intensas alterações na libido, “beirando a zero”. “A diminuição da libido é uma queixa frequente no climatério. Pode vir associada com a sensação de culpa e frustração se a mulher não estiver preparada e com conhecimento sobre o assunto”, diz Ana Flávia. “A queda da libido também é uma queixa associada com a queda dos níveis da testosterona”, aponta.Queixas como incontinência urinária, ressecamento vaginal, redução da elasticidade e perda de tônus muscular da região íntima também podem surgir nesse período. “A incontinência urinária é uma queixa complexa, que deve ser avaliada por especialista e tratada de acordo com a causa. A depender do motivo da incontinência, podemos lançar mão de medicamentos ou de cirurgia”, explica.“Já o ressecamento vaginal, que se dá por atrofia do tecido, pode ser tratado com medicamentos na forma de creme, óvulo ou comprimidos, aplicados dentro da vagina e prescritos pelo médico. Também pode ser tratado com sessões de laser íntimo”, continua a ginecologista. O laser também é uma tecnologia valiosa para a melhora da elasticidade e da firmeza da vagina, perdida com o passar dos anos. “Para as alterações de tônus vaginal, a fisioterapia, em suas diversas formas, é uma excelente opção terapêutica”, finaliza.Existe um nome temido por grande parte das mulheres que está entre os 40 e os 50 e poucos anos: menopausa. Entre os mitos e estigmas que permeiam esse período natural da vida, está o de que a menopausa é uma doença. E não é. Apesar disso, muitas mulheres enfrentam uma série de sintomas com grande intensidade. “Passei a sentir muitos sintomas no ano passado. Cheguei a pensar que estava com Covid-19”, conta a professora aposentada e aromaterapeuta Helenice Gonçalves Jesuíno, de 52 anos.Em meados de agosto, a ansiedade e a taquicardia tomaram conta dos dias de Helenice. “Achava que ia morrer. O coração estava muito acelerado, a ponto de eu procurar um cardiologista”, relata. Em uma das consultas que fez com diversos profissionais, ela comentou sobre suas alterações hormonais e uma médica constatou que ela estava no climatério - e, por isso, os sintomas de ansiedade. “Estava sentindo também muitos fogachos, aquelas ondas de calor. Hoje sei que faz parte, mas na época não fazia ideia do que era”, lembra.Para aliviar os sintomas, o médico pode recomendar a reposição hormonal. No entanto, a mastologista que acompanha Helenice não indica esse tipo de tratamento para ela. “Minha mãe teve câncer de mama. Não posso fazer a reposição com hormônios”, diz. Em busca de terapias alternativas para o controle da ansiedade, ela passou a estudar e investir na aromaterapia. “Tive períodos de muito nervosismo e impaciência. É o que tem me ajudado”, conta.Helenice acredita que o conhecimento prévio de tudo o que envolve o climatério e a menopausa poderia ter acelerado ainda mais o seu diagnóstico. “O acompanhamento que faço com uma mastologista com certeza me ajudou. De tanto eu insistir com os médicos para investigarem minha questão hormonal é que chegaram a essa conclusão”, aponta.Com base nisso, O POPULAR convidou a ginecologista Ana Flávia Cavalcante e a endocrinologista Fernanda Braga Ruguê para tirar as principais dúvidas sobre a menopausa. Reposição hormonal e suas indicaçõesA empresária Vera Lúcia Antunes, de 45 anos, está em recuperação após passar por uma cirurgia chamada ooforectomia no dia 2 de outubro. O procedimento promove a retirada dos ovários e trompas. “Após a cirurgia, comecei a sentir os primeiros sintomas: ondas de calor que duravam uns cinco minutos, perda de sono, raciocínio lento”, relata.Mulheres ooforectomizadas apresentam uma redução brusca da produção hormonal e, por isso, Vera passou a sentir tantos sintomas comuns à menopausa e ao climatério. Outros sintomas associados são alterações do humor, queda da libido, ressecamento vaginal e alteração do sono. “Com acompanhamento da minha ginecologista, comecei a reposição hormonal”, conta. Há cerca de duas semanas, ela vem fazendo o uso da medicação e apresentando uma melhora dos sintomas.A reposição hormonal não é feita somente em casos extremos como o de Vera, que passou por uma cirurgia de retirada de órgão. “Sempre que não houver contraindicações à terapia hormonal na menopausa, a mesma deve ser incentivada”, explica a endocrinologista Fernanda Braga Ruguê. Ela aponta que as contraindicações absolutas são: câncer de mama e tromboses arterial e venosa, trombofilia, sangramento uterino indeterminado e hepatopatia grave.Apesar disso, ainda existe um certo receio quanto a sua indicação, tanto por parte dos médicos quanto dos pacientes. “Existe uma mística e um grande preconceito em relação a tudo que é hormônio. Os principais estudos de segurança relacionados a hormônios em geral e, principalmente, da terapia de reposição da menopausa, podem ser julgados como ‘novos’ na medicina: de 15 a 20 anos. Pode parecer que isso não é novo, mas é sim”, explica. “Eu tenho nove anos de formada e aquilo que aprendemos na graduação às vezes fica enraizado e pode se tornar uma barreira para que o profissional se abra a novos conhecimentos”, comenta.A especialista diz que, principalmente sobre a menopausa, o que é seguro e o que não é está muito bem documentado na medicina. “E é muito importante começar essa terapia no que chamamos de ‘janela de oportunidade’, que é nos primeiros dez anos após a menopausa. Após os dez anos não temos mais os benefícios de diminuir risco cardiovascular - que, inclusive, pode ser aumentado porque a falta do estradiol nesse período vai levando ao enrijecimento das artérias. Quando já está enrijecido, pode ter um efeito contrário”, explica.As vias de reposição vêm evoluindo cada vez mais e, por isso, pode provocar dúvidas. “Isso porque às vezes é feito de maneira inadequada”, comenta. “É preciso lembrar que toda medicação tem efeitos colaterais. Quando se usa hormônios, a expectativa da comunidade médica e da paciente é que haja apenas benefícios. Mas, por exemplo, nos primeiros dois meses de reposição é normal ter sangramento e inchaço na mama”, aponta. Por esse motivo, o acompanhamento deve ser feito de perto. “Assim, a paciente vai encontrar a sua via de reposição ideal, respeitando as contraindicações citadas”, diz. Alterações de pesoEntre os receios da chegada da menopausa está o ganho de peso e a dificuldade de perdê-lo. Isso realmente ocorre? “Sim, pode ocorrer, principalmente se a mulher não tiver hábitos de vida saudáveis, como atividade física e boa alimentação”, diz a ginecologista Ana Flávia Cavalcante. “O ganho de peso está relacionado à perda de massa muscular decorrente da queda dos níveis hormonais, principalmente da testosterona”, continua.Na perimenopausa, o FSH aumenta as células de gordura em número e tamanho na região do tronco. “E, após a queda do estradiol, é favorecida a perda de massa magra muscular e óssea. Há, ainda, o aumento de apetite e redução do gasto energético”, explica Fernanda. Ela aponta que o estilo de vida saudável deve ser intensificado nessa fase, com dieta equilibrada baseada em comida mais natural. “Isso deve ser aliado à atividade física regular, com ênfase nos treinos de força para manutenção da massa muscular, que evita a redução do metabolismo e também auxilia na prevenção de osteoporose”, diz a endocrinologista.A reposição hormonal também auxilia na manutenção do peso, segundo a endocrinologista. “É de extrema importância para evitar a mudança de padrão de distribuição de gordura corporal, assim como manter a saúde cardiovascular e a própria disposição no dia a dia da mulher. Ressaltando, ainda, que o prejuízo no humor e no sono também podem predispor ao maior aumento de peso”, explica.-Imagem (Image_1.2355416)