Numa tarde qualquer, passeie por Campinas sem pressa. Coma um pastel no Mercado Municipal e surpreenda-se com todos os doces que o espaço oferece. Dê um pulo no sebo da Feira Cultural da dona Rose Mary ou se aventure por entre os corredores da antiga Biblioteca Municipal Cora Coralina. Caso prefira, guarde o apetite do almoço para desfrutar as delícias goianas do Restaurante do Baiano e, antes disso, vá às compras de tecidos, roupas ou aparelhos eletrônicos que ocupam quadras e mais quadras da Avenida 24 de Outubro. Não deixe de passar pela Praça da Matriz, o coração de Campinas, e sinta-se em outro tempo ao lado dos colégios Dom Bosco e Santa Clara. À noite, feche o dia com uma cerveja barata no bar Carne de Sol do Serginho ao som das mais tradicionais modas de viola. Ao lado do Centro de Goiânia, Campinas apresenta um fluxo quase sempre revisto em regiões mais agitadas da cidade: a correria do dia a dia, o barulho dos carros e a movimentação dos pedestres durante o dia dão lugar, à noite, ao silêncio da vida urbana, numa completa solidão. É neste cenário que mais parece ter saído de script de novela que a estudante de arquitetura Analyvia Machado, 24, passou toda a sua vida, desde quando seus pais, campineiros e vizinhos de casa, se conheceram por entre as praças da região. Não deu outra. A goiana corta Campinas de leste a oeste e se diz apaixonada pelo bairro, numa ode à memória de sua infância. “Eu amo Campinas”, já avisa de antemão. Ao avô coube lhe mostrar o antigo estádio Antônio Accioly, campo do Atlético Clube Goianiense, primeiro time de futebol de Goiânia e um dos maiores orgulhos dos habitantes de Campinas. Já a avó, dona de uma extinta lojinha de tecidos na Rua Sergipe, ensinou para Analyvia a arte da busca das melhores ruas e avenidas para as compras. “Tenho muitas lembranças de quando meus familiares saíam para assistir a alguma partida de futebol no estádio, ou de quando brincava com meus amigos na Praça da Matriz ou no Coreto. Sempre terminávamos na tradicional sorveteria Split”, relembra. InspiraçãoFoi nessas andanças pelas ruas com nomes de cidades do interior de Goiás e de outros estados que Analyvia conheceu a Dona Rose Mary de Camargo, 59, que há exatos 40 anos tratou de abrir a Feira Cultural de Campinas, espaço para a venda de vinis, livros, gibis e revistas. De longe a portinha pode até passar despercebida por entre a correria do encontro entre a Rua Santa Luzia e a Minas Gerais. De perto, as mensagens escritas à mão pela proprietária obrigam os transeuntes a pararem para entrarem no local. “Abri o sebo quando ainda tinha 18 anos, nos anos 60, e até hoje conservo os mesmos móveis e o gosto pela leitura”, aponta Dona Rose. De enciclopédias antigas à livros de poesia de Carlos Drummond de Andrade, o sebo tem de tudo. Dona Rose conta que pessoas de todas as regiões de Goiânia vão até a loja à procura de edições especiais de obras que só podem ser encontradas por ali. E engana-se quem pensa que sebo é lugar de gente mais velha. “Graças ao meu bom Deus que os jovens sempre passam por aqui em busca de algum livro de poesia, romance brasileiro, autoajuda. Que a leitura seja sempre uma fonte de inspiração para todos nós”, comenta.-Imagem (Image_1.1174791)-Imagem (Image_1.1174792)