O quanto a sua saúde mental pode impactar no seu trabalho, e vice-versa? Essa relação têm ganhado os holofotes nos últimos anos e a pandemia trouxe um novo olhar para o assunto. Neste sábado (7), o projeto PsiQUÊ? continua a série de reportagens e entrevista sobre saúde mental no trabalho que seguirá ao longo de todo o mês de maio, com veiculação no POPULAR, TV Anhanguera e rádio CBN Goiânia. Para conferir as ações do projeto, acesse a página especiais.opopular.com.br/psique.O aumento do sofrimento mental relacionado ao trabalho, os impactos da pandemia e a importância de uma empresa investir no cuidado psíquico de seus funcionários estão entre os pontos abordados com a psicóloga, terapeuta ocupacional e consultora de gestores e equipes de RH, Eugênia Sofal. Ela comenta como esse investimento pode ser vantajoso, inclusive financeiramente, e porque essa tendência deve permanecer nas empresas mesmo após o período pandêmico.A pandemia, apesar de não ser a principal causa do adoecimento mental da população, possui grande influência para a preocupação com a saúde mental no trabalho ter sido acelerada. Os medos, as dores e as adaptações desse período também influenciaram, como a especialista comenta abaixo: O que você observa quanto ao trabalho e o adoecimento mental na pandemia?A pandemia trouxe fatores novos e importantes do ponto de vista de um aumento de sofrimento mental. Questões de adaptação, saúde, condições emocionais e afetivas das pessoas. Houve o medo da doença e a dor da perda de familiares e amigos para a Covid-19. Houve também uma restrição de convivência muito grande, como no caso do trabalho que foi para o on-line. O escritório não é só lugar de trabalhar, é também espaço de convivência. Os intervalos são momentos de conversa, de encontros. Esses momentos alimentam e renovam, fazem com que as pessoas se sintam bem. A isso se juntou o fato de que muitas pessoas não têm um espaço adequado em casa para trabalhar. Agora, no momento de retorno ao presencial, vieram ainda novos problemas e novas adaptações. Quais consequências foram observadas?Isso tudo trouxe muitas reflexões. Para além do sofrimento, houve também um aumento de conscientização. Assim, muitas empresas passaram a considerar esses aspectos de uma maneira diferente, os colocaram em um outro patamar. Observei isso com programas de integração. Empresas passaram a oferecer tratamento terapêutico e orientações psicológicas, inclusive voltadas aos pais em relação às crianças, já que elas também tiveram muitos problemas de adaptação. Os problemas foram colocados em destaque, mas não é como se não existissem antes. Pelo contrário, com a pandemia eles apenas emergiram. Como você disse, esses problemas já existiam e continuarão existindo. Por que investir em uma nova forma de tratar seus funcionários?Havia antes uma percepção de o que importa no ambiente de trabalho é a performance e o desempenho. Questões como essa (da saúde mental) não eram consideradas como parte da saúde organizacional de uma empresa. Agora, sabe-se que uma pessoa que está bem e saudável é mais produtiva e se autorealiza. A empresa vai estar bem se os funcionários estiverem — e ela vai estar melhor se os funcionários estiverem melhor. A realização e a autorealização andam mais juntas. Acompanho, hoje, um grande número de empresas que já sabem que a dissociação entre saúde financeira e saúde do ambiente de trabalho não é um fato. Não faço uma generalização porque muitas delas ainda não acordaram para essa questão. O RH também tem atuado nessa adaptação?O RH está muito mais atento a esses fatores hoje em dia. Temos que considerar que medidas paliativas não resolvem, como o próprio nome já diz. As estruturas de atividade, o trabalho em si, normalmente não são o problema, mas sim o ambiente e as relações de poder. É preciso, portanto, haver medidas de ordem para criar um ambiente favorável, porque o sofrimento no trabalho, principalmente quando ligado às relações de poder, é muito danoso para a saúde mental. E quais os resultados já percebidos com essa conscientização?Nota-se um reconhecimento importante, porque não basta a empresa dizer que está fazendo algo. Os funcionários, quando percebem esse empenho genuíno, respondem a isso de uma maneira muito intensa. E o que acho de mais positivo aqui é uma maior relação de confiança. Trabalho pode ser tanto um lugar de realização, como de sofrimento. Trago como exemplo algo que o CEO da empresa em que trabalho diz: que suor eles esperam, porque trabalho exige suor mesmo, mas não esperam lágrimas e nem sangue. Ou seja, o desempenho não é a qualquer custo. Essa postura não era habitual um tempo atrás.