As cavalhadas de mouros e cristãos, em que mascarados montados a cavalo percorrem as ruas da cidade e “lutam” em uma arena. Uma das festividades mais valorosas do Brasil Central, a Festa do Divino de Pirenópolis ganha, a partir desta segunda-feira (13), um plano de salvaguarda desenvolvido pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A celebração, que ficou dois anos sem acontecer por conta da pandemia, foi realizada em 2022 nas últimas duas semanas.Com demandas e sugestões levantadas pelas comunidades detentoras para a preservação da manifestação, o plano foi criado durante encontros virtuais realizados durante todo 2021. Reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2010, a manifestação está inscrita no Livro de Registros das Celebrações. Toda pesquisa e estudo estão disponibilizados na versão digital, no site do instituto (www.portal.iphan.gov.br).Em 2021, reuniões virtuais ante a pandemia da Covid-19 foram abertas para a participação da comunidade com o intuito de garantir uma elaboração dialógica e democrática do plano. “As políticas públicas referentes aos bens registrados em âmbito federal têm como finalidade consolidar a autonomia da produção e reprodução da manifestação cultural, bem como a sua sustentabilidade”, explica Renata Galvão, historiadora do Iphan Goiás.O instrumento apresenta ações como a criação de um calendário anual de reuniões para a organização e planejamento da celebração da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis; a organização de um coletivo deliberativo de salvaguarda da Festa do Divino; o estabelecimento de um projeto de educação patrimonial contínuo nas escolas municipais e estaduais; a elaboração de um livro sobre a Festa do Divino Espírito Santo, para difusão do universo do bem cultural com ações educativas; e a organização de um Centro de Referência da Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis.“Salvaguardar um bem cultural de natureza imaterial faz parte de uma importante política pública de reconhecer as vivências e entender que o patrimônio é vivo e dinâmico”, aponta o superintendente do Iphan Goiás, Allyson Cabral. O primeiro registro da manifestação é de 1819, realizada sempre no período de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa. Durante quase 30 dias, a comunidade pirenopolina se envolve em novenas, folias, alvoradas, apresentações e diversas outras celebrações nas zonas rural e urbana. “A Festa do Divino tem uma continuidade histórica, mas não significa, de modo algum, que seja anacrônica ou antiga, pelo contrário, a festa está viva e presente entre a comunidade, tem sentidos e significados que se correlacionam com as relações sociais contemporâneas”, diz.Tempo especialMoradora de Pirenópolis, a realizadora audiovisual Lidiana Reis tratou de registrar a Festa do Divino em 2022, a primeira a acontecer após dois anos sem festejos ante a pandemia. Durante mais de 15 dias, a goiana se acostumou a acordar com a alvorada, acompanhada sempre por um forte fogueteiro. Nos pousos, os cavaleiros se encontravam com milhares de pessoas que iam para as festas, bandas tocavam pela cidade ao amanhecer, missas eram cantadas por corais e muitas mãos participavam do preparo da comida, desde o alimento diário até a delicada verônica.“A Festa do Divino de Pirenópolis sempre me impressionou por sua beleza, mas, antes de viver aqui, eu não tinha ideia da dimensão da festa para a cidade e de quantas tradições seguem sendo compartilhadas. Acredito que a Festa do Divino é um tempo especial, assim como essencial, de convivência e celebração”, diz. O resultado são as fotos que ilustram esta página.-Imagem (Image_1.2471958)-Imagem (Image_1.2471960)-Imagem (Image_1.2471961)