O pequi pode não agradar todos os paladares, mas possui uma grande importância para a gastronomia goiana e atraiu cerca de 2 mil pessoas para a 2ª edição da Festa do Pequi, nesta terça-feira (29). O evento, realizado pelas Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa Goiás), contou com atrações artísticas, comidas típicas e a oferta de diferentes variedades do fruto amarelo que é tradição em Goiás.Para aqueles que não abrem mão do fruto conhecido como “o ouro do Cerrado”, a festa teve pequi para todos o gostos. Nove stands demonstravam a variedade e a versatilidade do fruto para a produção de diferentes produtos, como farofa, licores, óleos e molhos apimentados. O pequi também foi o principal ingrediente no cardápio da festa, servido gratuitamente para os presentes: arroz carreteiro, galinhada e risoto.Para o diretor de pesquisas agropecuárias da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO) João Asmar, a Festa do Pequi é fundamental para o reconhecimento cultural e econômico do pequi para o Estado, além do incentivo aos pequenos produtores. “É um fruto que traz não só valor econômico, ele traz também a capacidade cultural, porque quando você se fala de Goiás, você fala de pequi. Tem até os dizeres ‘é para acabar com os pequis de Goiás’”, diz.Mas, por mais que defendam o pequi como um fruto tipicamente de Goiás, as raízes do pequi não se fincaram somente em solo goiano. Quem pode atestar isso é o comerciante Saulo Henrique, 33, que há 15 anos mantém o negócio da família de venda do pequi do Xingu, cultivado por povos originários na floresta amazônica. Essa variedade tem um fruto bem maior, também chamado de pequi gigante, com a polpa mais doce que o pequi nativo do solo goiano.A variedade do Xingu (região banhada pelo rio de mesmo nome, situada no Mato Grosso) é bastante requisitada pelos goianos na Ceasa. “A preferência por ele está sendo grande pelo sabor mais adocicado e pelo tamanho que chama a atenção”, comenta o comerciante.Mas os comerciantes explicam que o fruto do Xingu é diferente do pequiá, variedade amazônica que também é chamada de “pequi gigante”, mas possui a polpa mais amarga e esbranquiçada.VariedadesO fruto do pequi possui diferentes tamanhos e suculência de acordo com o seu lugar de origem. Segundo o diretor de pesquisas agropecuárias da Emater João Asmar, o pequiá é gerado mais próximo da linha do Equador, na região amazônica. O pequi do Cerrado, explica o diretor, é menor e mais amarelo.Na feira, não era raro escutar do público durante a pergunta: “é com espinho?”. A Emater, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – unidade Cerrados (Embrapa Cerrados), lançou seis novas variedades de pequi, três com espinhos (GOBRS 201, 202 e 203) e três sem a parte pontiaguda que espeta a língua dos desavisados que mordem o caroço (GOBRS 101, 102 e 103). Na terça-feira (29), porém, nenhuma muda do pequi sem espinho estava no evento para saciar a curiosidade do público.Leia também:- Ritmos latinos agitam a noite de quinta-feira no Lowbrow- Exposição de Antônio Poteiro é prorrogada em GoiâniaSegundo João Asmar, após a distribuição, no início de novembro, das primeiras mudas do pequi sem espinhos para produtores e viveiristas cadastrados no site da Emater, a agência goiana planeja fazer mais 20 mil mudas dessa variedade a partir do próximo ano.Sobre a origem do pequi pesquisado que está sendo reproduzido em Goiás, ele explica. “O nosso foi oriundo de uma planta em Cocalinda, no Mato Grosso. Nós trouxemos as hastes e através dessa multiplicação nós obtivemos três variedades do sem espinho”.De acordo com o diretor, os pequis resultantes da pesquisa possuem melhor qualidade, com selecionamento genético, melhor quantidade de poupa e tamanho de caroço. “São pequis tanto para a indústria, quanto para o consumo”, destaca.ProduçãoMinas Gerais e Goiás são os dois maiores produtores de pequi no País. Porém, quando o assunto é comercialização, o estado assume a liderança.Das 7.191,84 mil toneladas vendidas na Ceasa-GO em 2021, somente 2.036,96 mil tiveram origem goiana. Para o presidente da central, Jadir Lopes de Oliveira, os números evidenciam Goiás como o maior consumidor do fruto e a Ceasa-GO como o entreposto que mais vende pequi no Brasil.FestaAlém da celebração do fruto, a Festa do Pequi também contou com apresentações artísticas do grupo de Catira da Associação dos Catieiros, Foliões e Violeiros de Aparecida de Goiânia e Banda Lira Jaraguense. Os tradicionais doces goianos marcaram presença no evento.Frutas cristalizadas, ambrosia, doce de leite talhado e leite cristalizado. Apesar de não levar pequi na composição, os doces da ‘Tradições de Mamãe Doces’ foram levados à Festa do Pequi para celebrar as tradicionais receitas e costume doceiro. “Hoje a gente veio aqui com a proposta de trazer a tradição mesmo, a cultura doceira do nosso Goiás, que infelizmente hoje está caindo no esquecimento”, alerta a doceira Olívia Chaves. (Yorrana Maia é estagiária do GJC em convênio com a PUC-GO)