-Imagem (1.2368433)Antes de filmar o documentário De Onde Viemos, Para Onde Vamos, a cineasta Rochane Torres visitou a Aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal (TO), durante a Expedição Amazônia Visão, em 2017. “Não sabia que faria um documentário. Foi um encontro com o desconhecido, e isso me fascinou”, conta a diretora mineira radicada em Goiás. A viagem resultou no longa-metragem que estreia neste sábado (11), dentro da programação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.Diretora por trás de filmes como A Filha de Xingu (2018), Aquelas Ondas (2017) e Lady Francisco (2013), Rochane mantém em sua filmografia a direção de documentários, ficções e experimentos audiovisuais. Em De Onde Viemos, Para Onde Vamos, todo finalizado em preto e branco, imagens capturadas pelo diretor de fotografia Paulo Rezende contrastam com o desenho de som assinado por Paulo Gonçalves e depoimentos dos povos inys que habitam a Aldeia Santa Isabel do Morro.Com camadas conceituais e que falam de passado, presente e futuro, o documentário destaca sentidos e tensões entre o resgate das tradições dos líderes e anciãos e a incorporação da cultura branca pela juventude indígena. De acordo com a diretora, os jovens inys vivem sob um conflito de identidade algarinhado pelo avanço tecnológico e as ideias de consumo.“Embora a tecnologia tenha feito diferença na educação e formação dos jovens, a cultura de consumo do homem branco, que chega por meio da TVs e rádios, afetam e influenciam os jovens indígenas, que têm se distanciado das formas tradicionais de vida”, explica Rochane. O documentário também aborda os processos de experiências e memórias, como a resistência no enfrentamento da identidade iny.A primeira viagem que a cineasta fez até a aldeia Santa Isabel do Morro foi em 2017, mas precisou voltar em 2018 e em 2019 para acompanhar as transformações culturais percorridas pelos indígenas. A edição de De Onde Viemos, Para Onde Vamos foi feita em 2020 e finalizada em 2021, quando ficou pronto para ir para festivais e mostras audiovisuais. O longa-metragem foi contemplado pelo Edital de Fomento Audiovisual do Fundo de Arte e Cultura de Goiás.Além de destacar a incorporação da cultura branca e perda das formas tradicionais dos povos indígenas, o documentário também reflete sobre questões como demarcação de terra, religiosidade, programas educacionais ineficientes e discriminação. Com depoimentos de vários habitantes das comunidades, o filme apresenta nomes importantes da aldeia, como Narubia, força feminina da região.EstreiaNo Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o documentário foi selecionado para a Mostra Competitiva de Longa-metragem, a mais importante dentro da programação do evento. De acordo com Rochane, é a primeira vez que um filme goiano entra na disputa da mostra específica. “O filme é o primeiro a participar da mostra competitiva de longa-metragem, mas já tivemos produções goianas no festival em mostras de curtas-metragem e mostras paralelas”, explica.De 151 filmes inscritos na mostra competitiva do evento, a curadoria selecionou seis, exibidos ao longo dos dias de festival. O goiano De Onde Viemos, Para Onde Vamos concorre ao lado das ficções e documentários: Alice dos Anjos (BA), de Daniel Leite Almeida, Lavra (MG), de Lucas Bambozzi, Acaso (DF), de Luis Jungmann Girafa, Ela e Eu (SP), de Gustavo Rosa de Moura, e Saudade do Futuro (RJ), de Anna Azevedo.No dia 11, o filme será exibido no Canal Brasil. Já no dia 12, o documentário ficará aberto dentro da programação do festival (www.festcinebrasilia.com.br) para votação do júri popular. Haverá ainda um debate marcado para o dia 13 com a presença da diretora. Toda a programação do festival é gratuita e on-line. “É uma honra lançar o filme no Festival de Brasília. Cinema é arte, e, por isso, resistência”, argumenta Rochane.Cinema em transeCom enfoque na temática O Cinema do Futuro e o Futuro do Cinema, a 54ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro busca refletir sobre a produção do cinema nacional depois de quase dois anos de pandemia. O evento, que começou nesta quarta-feira (8), tem uma extensa programação de mostras competitivas e especiais, debates e homenagens até o dia 14, quando serão revelados os filmes vencedores do festival. Toda a agenda é on-line.“No ano passado, os documentários colocaram a edição em pé e foi uma vitória (620 mil espectadores). Neste ano, temos essa reflexão ampliada. Vamos discutir temas como cinemas em tempos remotos, linguagem híbrida e relação com plataformas”, conta o curador do festival, o cineasta Silvio Tendler. Ao longo dos sete dias de mostra, o público pode conferir um panorama do cinema brasileiro atual e discussões sobre o impacto da pandemia no audiovisual e as transformações do cinema em tempos de crise no setor cultural.-Imagem (Image_1.2368312)