As múltiplas possibilidades de existência e subjetividade dos povos indígenas pautam o filme Hawalari, do diretor goiano Cássio Domingos. O curta-metragem estreia hoje no 32º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo - Curta Kinoforum, de forma on-line, dentro da plataforma de streaming da mostra, onde ficará disponível durante todo o dia. Uma segunda exibição ocorrerá no dia 26, às 19 horas. Ambientado na região do Araguaia do século 19, Hawalari tenta responder às seguintes questões: quais povos indígenas habitavam o Brasil desde os primórdios? Como era a civilização nesse espaço, hoje denominado Goiás, antes da chegada dos bandeirantes? Qual foi a perspectiva desses indígenas a cada encontro distinto com “não indígenas” no decorrer dos séculos?As reflexões acentuadas pelo cineasta apresentam o olhar dos povos originários para as terras de Goiás. Na história, uma indígena percorre as margens do Araguaia até encontrar um desbravador em seu caminho. O choque cultural pode ser revisto nas vestimentas de ambos, na linguagem e na visão de cada um sob a terra, a natureza e as águas que banham o rio. Todo o roteiro de Hawalari resgata referências e linguagens de filmes de época ou históricos. A proposta, de acordo com o diretor, é criar uma narrativa que faça o contraponto a visão estereotipada dos povos originários, comumente reproduzida no País. Com olhares mais abertos sobre o contato entre duas culturas distintas, Domingos reflete identidade e imaginário no audiovisual. “Os filmes de época, quando feitos com extensa pesquisa e cuidado, são excelentes para nos fazer refletir sobre o passado, sobre nossas decisões no presente que afetarão nosso futuro”, explica Domingos. Ao longo do processo de pesquisa para criação do filme, o diretor pesquisou filmes de ficção realizados por indígenas no Brasil para entender melhor as diferentes visões sobre a temática. “É necessário acabar com os diversos estereótipos quando se tem um indígena como personagem ou filme com temática indígena”, conta Domingos.FicçãoA obra nasceu a partir do encontro entre o diretor e a atriz indígena Hawalari Coxini, também roteirista e produtora associada do curta-metragem. Juntos, os dois profissionais pensaram na possibilidade de construir um filme de ficção que retratasse algumas nuances do encontro entre uma personagem indígena e um “não indígena”. O filme foi contemplado pela Lei de Incentivo à Cultura - Lei Goyazes. “Eu tentei focar ao máximo em manter o sentimento de realmente estar insegura e curiosa ao mesmo tempo sobre quem é a pessoa que tentava fazer de tudo para me estudar”, explica a atriz Hawalari, pertencente ao povo iny (carajá), da Aldeia Fontoura, situada na Ilha do Bananal. “Fiquei bastante atenta na execução do idioma iny, tentando falar o mais semelhante possível dos áudios que recebi”, diz. Além da produção da própria Hawalari, o curta também recebeu consultoria dos indígenas Rafaella Sandoval Coxini Karajá, Sinvaldo Oliveira Saraiva Wahuka, Idjarrina Rosa Karajá e do cacique Raul Hawakat.