Pela primeira vez, a Procissão do Fogaréu contou com a participação de um farricoco com vestimentas pretas em homenagem às vítimas da Covid-19. A informação foi dada pelo bispo emérito da cidade de Goiás, Dom Eugênio Rixen, à multidão que acompanhava a encenação da perseguição de Cristo na madrugada desta quinta-feira (14/4), na antiga capital.  A fala de Dom Eugênio aconteceu durante a homilia realizada nas escadarias da Igreja de São Francisco de Paula, uma das paradas da procissão, que voltou a acontecer nesta madrugada após dois anos de interrupção por conta da pandemia. O bispo emérito falou sobre as vítimas que perderam a vida na batalha contra o coronavírus e pediu um minuto de silêncio ao público presente.&nbsp;  Os farricocos são 40 homens que representam os soldados romanos em perseguição a Cristo para a crucificação. &nbsp;Tradicionalmente, eles vestem túnicas e capuz de cetim coloridos, sendo muitas das vestimentas em tons vibrantes como vermelho, roxo, amarelo e azul. Percorrem descalços as ruas de pedra da cidade histórica, com tochas nas mãos, ao som de tambores.Nesta noite, uma multidão acompanhou a encenação, que é realizada há quase 300 anos no Estado. A Procissão do Fogaréu está em processo de registro como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Fogaréu tem farricoco vestido de preto pela 1ª vez em homenagem às vítimas da Covid-19, diz bispo

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Vídeo: Águas de São João

Webstories - Conheça água em Goiás famosa pela lenda de curar

Águas de São João

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Ciência e religião se unem aos arredores da lenda de cura daqueles que bebem de uma fonte hídrica, em Águas de São João, um distrito da cidade de Goiás, no centro do estado. A nascente, de águas cristalinas e termais, carrega consigo várias histórias de milagres relatadas pela população desde 1910 e quase se tornou uma estância hidromineral, um tipo de pousada para banhos medicinais, projeto do Governo de Goiás, em 1958.&nbsp;

Em busca de desvendar essa lenda, a reportagem do O POPULAR ouviu a população do distrito e da cidade de Goiás. Durante essa busca, antigos moradores da região afirmam ser testemunhas vivas de vários milagres oriundos da água.

Em entrevista ao POPULAR, o fazendeiro João Maria Belchior, que tem uma propriedade rural a poucos quilômetros da fonte, contou já ter presenciado várias curas no local, que hoje conta com estrutura para que as pessoas consigam pegar da água e banheiros para banhos medicinais. Conforme João Maria, não é difícil ver pessoas com galões para armazenar a água, alguns inclusive que vêm de outras partes do país e que vão até o local em busca de cura.&nbsp;

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O fazendeiro conta que o histórico de cura vai além da geração dele e que ouvia dos pais, que foram para o município na década de 60, diversas histórias de cura.&nbsp;

<cite>Água faz milagre demais, viu… tem relato que vai além dos meus antepassados, tem a minha mãe que foi curada de pedra nos rins. Então, é uma água muito milagrosa. Eu, sempre que passo por lá,&nbsp; pego, tomo e banho”, contou o fazendeiro.</cite>

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Fonte atrai pessoas de vários lugares em busca de cura (Divulgação/ Semad )

Marlene da Silva, de 64 anos, dona de uma pousada na cidade de Goiás, também disse ter sido curada pela água. Ao POPULAR, ela contou que tinha problemas estomacais e sentia dores. Porém, após um tratamento com a água, o milagre aconteceu. Desde então, todos os dias ela vai até a bica buscar água, item indispensável no dia a dia dela.

<cite>Várias pessoas que eu já presenciei, uma delas o ano passado, foram curadas. Eu tinha uma gastrite e, ao fazer uso da água, eu melhorei. Hoje eu já não tenho nada, fui curada. Quando eu tinha problema de estômago, eu tomava ela e o efeito [contra a dor] era na mesma hora, um remédio não era assim, mas a água era só tomar. O banho dela, nessa época que é seco mesmo, você pode ir com a pele desidratada, que ela fica hidratada, é incrível!”, contou Marlene.&nbsp;&nbsp;</cite>

Ainda segundo Marlene, não é apenas a água que cura, mas o barro que ela forma ao redor da bica também faz milagres. Neste caso, ele tem eficácia em tratamentos de doenças de pele, como alergias e câncer, segundo a moradora, que disse ter visto e ouvido relatos de pessoas que foram curadas dessas doenças.&nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/conheca-as-belezas-e-riquezas-naturais-da-serra-de-caldas-que-chamaram-atenc-o-da-nasa-1.3279129" target="_blank">Conheça as belezas e riquezas naturais da Serra de Caldas que chamaram atenção da Nasa</a> 
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<h2>Festa de São João Bastista&nbsp;</h2>

Com isso, centenas de pessoas voltam em devoção à São João Batista, padroeiro do distrito. Conforme Fernanda Augusta Dutra, membro da associação de moradores do distrito,&nbsp;nesta época do ano, são feitas filas para conseguir pegar um pouco da água. Além disso, ao longo de todo o&nbsp; mês de julho, são realizadas celebrações em louvor a São João Batista e suas águas milagrosas. Porém, a festa oficial acontece entre os dias 11 e 20. Neste período, além das novenas, a programação da festa conta com cavalgadas, leilões, bingos, baile e quadrilha.&nbsp;

Fato curioso é que apenas nesse evento é permitido acender fogueiras no local - e em pontos pré-determinados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

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Igreja de São João Batista, no distrito de Águas de São João (Divulgação/ Semad)

<h2>Descoberta e suas teorias</h2>

A descoberta de Águas de São João ainda é uma incógnita. O que se sabe, até então, é que ocorreu entre 1920 e 1930. Segundo a Semad, há ao menos três teorias. A primeira delas é a do frei viajante.

Nela, acredita-se que o frei descobriu que brotava de uma pedreira, uma “água cristalina, rodeada por uma lama sulfurosa, amassada pela frequência do gado do entorno, que no auge do período mais quente do ano, tinha um excelente aspecto. O que o fez crer que a água tinha poder medicinal”, contaram a superintendente de Unidades de Conservação, Zilma Maia e o gerente das Unidades de Conservação Caio César Neves Sousa.&nbsp;

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Os responsáveis pela unidade ainda relataram que a segunda teoria é de que, um fazendeiro que morava nos arredores sofria com lepra e, por conta da doença, foi isolado por amigo e familiares. Neste período, incomodado por moscas e coceira em sua pele, ele teria rolado na lama ao redor da nascente. Depois, ele teria retornado curado e contado a todos sobre o milagre.&nbsp;

As teorias poderiam até parar por aí, mas ainda surgiu uma outra. Neste, um viajante teria abandonado um cavalo ferido ali na região. Algum tempo depois, o homem teria voltado ao local e o animal estava totalmente recuperado.&nbsp;

<h2>Estudos</h2>

Por outro lado, de acordo com o geógrafo da Universidade Federal de Goiás (UFG), Dallys Dantas, que estuda a região, registros apontam que a água já era conhecida por fazendeiros da região em 1910.&nbsp;

<cite>A água já era conhecida por algumas pessoas, não de maneira que a tornasse um atrativo turístico, era pelos fazendeiros, peões que habitavam ali a região. Aí a partir da década de 1920, mais precisamente na década de 1930, é que ela toma uma dimensão maior”, detalhou.</cite>

Ele ainda explica, que a fonte hídrica ganhou notoriedade anos após um artigo do historiador e jornalista Marechal Eduardo Sócrates, publicado em 1934. Na época, a revista A Informação Goyana, que era editada na ex-capital federal, Rio de Janeiro, publicou o artigo Águas Sulfurosas em Goyaz, contando sobre as águas de São João e relata as teorias lembradas pela Semad. À época o distrito não existia, era a fazenda denominada São João da Gurita.

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Entrada da Unidade de Conservação (Divulgação/ Semad )

<h2>Propriedades da água:&nbsp;</h2>

Mesmo que não se tenha um marco exato de como nascente foi descoberta, a fama rapidamente se espalhou, fazendo que em 1958, o governador do estado Mauro Borges Teixeira, tentasse instalar uma espécie de pousada na região com banhos medicinais. Ainda na época, o governo solicitou estudos que apontaram, que de fato, a água da região era “especial”.&nbsp;

<cite>O próprio Governo de Goiás, chegou aqui na década de 60 para implantar esse hotel, com intuito de explorar esse uso medicinal da água, mas o projeto não avançou. Mas não se sabe a razão, talvez seja a baixa vazão da mina para bancar esse empreendimento”, explicou Caio Sousa.&nbsp;</cite>

Conforme o estudo, feito pelo laboratório de Produção Mineral do Ministério da Agricultura, no dia 15 de janeiro daquele ano, a água sai da fonte com temperatura de 26.8ºC. Além disso, ela tem componentes como minerais, enxofre, carbonato e bicarbonato de sódio e sulfato de sódio. O que, segundo a Semad, deixa o cheiro e o sabor dela acentuado.&nbsp;

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Gráfica na época, a pedido do governo de Goiás, fez um ilustração para mostrar as propriedades da água, onde seria o hotel de banhos medicinais (Divulgação/ Semad)

O gerente ainda explicou que, a águas nunca foi comercializada. A ilustração semelhante a um&nbsp;rótulo de produto não passou de uma ação do governo na época, na tentativa de viabilizar a construção do hotel de banhos medicinais. Sousa ainda afirmou que, até então, não foram feitos estudos para fins medicinais, apenas de composição química. Assim, ainda não há comprovação de que a água tenha elementos eficazes no combate de doenças, mas isso não abala a fé dos moradores e visitantes da região.

<cite>Lá é um lugar lindo. Independente da lenda da água, o lugar parece mágico”, disse Zilma.</cite>

Mesmo assim, com a fama se espalhando várias famílias se mudaram para região com objetivo de frequentar a nascente. Ao redor do bebedouro formou-se, então, o povoado de Águas de São João. O distrito homônimo foi criado em 1968, com a implantação de uma estação telegráfica, uma escola e uma rodovia.

Segundo Dantas, a nomeação do distrito tem relação com o nome da fazenda que ficava no local, além da influência religiosa, que na época era marcante na região. 
 
"Então, essa questão do São João é muito forte na nossa região. E aí, o distrito e, consequentemente, a água, herdaram essa tradição religiosa", detalhou.&nbsp;

Nos anos 2000, o local passou a integrar a Área de Relevante Interesse Ecológico Águas de São João (Arie Águas de São João), que tem um total de 24,91 hectares. Segundo a Semad, nos limites dela, “é proibida a instalação de atividade de exploração mineral que possam causar alterações na quantidade e na qualidade das águas sulfurosas; o exercício de atividade que prejudique ou impeça a regeneração das plantas nativas; ações que ofereçam riscos à sobrevivência das espécies da biota nativa existente no local; colheita de produtos naturais, quando a mesma colocar em risco a conservação ou o equilíbrio homeostático dos ecossistemas da Arie”, detalha a Semad.

<h2>Acesso a água</h2>

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Bica por onde as pessoas pegam a água (Divulgação/ Semad )

Mesmo assim, a fama da água milagrosa, inclusive com “testemunhos” atuais de supostas curas, continua. Além do bebedouro, o local conta também com banheiros, onde as pessoas podem fazer o banho com a água. O acesso à água é aberto ao público em geral e segundo a Semad, passa por reformas para melhorar a capacidade de receber os turistas.&nbsp;

Conforme a Semad, são investidos mais de R$ 1 milhão, que deve ser usado em uma melhor estruturação dos banheiros para banhos medicinais, reformar a estrutura da bica e outras revitalizações.

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Conheça água em Goiás famosa pela lenda de curar quem a toma

ÁGUA MILAGROSA 

Escritor, filósofo, poeta, ativista indígena dos direitos humanos e ocupante da cadeira número 5 da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak é uma das maiores vozes das pautas socioambientais atualmente. Pela terceira vez, ele participa do Fica - Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, na cidade de Goiás, desta vez como presidente do júri da Mostra Washington Novaes.&nbsp; Antes, Krenak participou como jurado e homenageado.&nbsp;

Em 2022, durante o 23º Fica, uma sessão especial de exibição de Adeus, Capitão, de Vincent Carelli, contava com a presença do líder indígena na plateia e, no dia seguinte, debateu o filme com seu diretor. A experiência foi tão marcante para a história do festival que a partir do ano seguinte as sessões especiais do evento foram batizadas de Filmes para Adiar o Fim do Mundo, inspirados no título de um dos livros de Krenak, Ideias para Adiar o Fim do Mundo (2020).&nbsp;

No livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”. Em entrevista ao POPULAR, Krenak relaciona a ideia à experiência imersiva de cinema que está vivendo durante o festival, somando sua visão crítica e humanista sobre a relação entre natureza, território e cultura.

Krenak, você está participando do Fica pela terceira vez. Como tem sido acompanhar a evolução do festival ao longo desses anos?

O Fica foi se consolidando como o festival internacional mais relevante voltado para a temática socioambiental. Estão amplamente presentes obras que tomam a questão dos territórios, das paisagens e da vida dos seres humanos instituindo um socioambientalismo, que vai além da ideia de meio ambiente. Há 20 anos, o festival já recepcionava curtas e longas-metragens e algumas das animações mais interessantes já produzidas que abordam as questões do planeta Terra. Hoje temos a Mostra de Cinema Indígena e Povos Tradicionais. É uma oportunidade de assistir e um lugar privilegiado para os diretores divulgarem essas obras, que muitas vezes não conseguem entrar no circuito comercial de cinema.

Como tem sido acompanhar os filmes ao longo dessa semana? Algo te marcou nessa maratona de filmes?

Desde as mostras de cinema goiano até as internacionais e de cinema indígena estão atendendo, de certa maneira, a uma curadoria que convocou obras que mostram como o corpo dos humanos está se flagelando no planeta Terra. A gente coloca fogo no Cerrado, envenena o solo do Cazaquistão, polui os rios com mercúrio. É um tipo de jornada de cinema que faz o público pensar se a gente pode continuar habitando o planeta de uma maneira tão brutal, tão predatória. Quase configura um ser humano ameaçando a vida na Terra. Então essa edição do festival é um alerta: é preciso mudar o nosso paradigma de habitar o mundo, essa ideia de progresso, de desenvolvimento sem fim, que é o que anima a ideia do capitalismo e que está sofrendo uma crítica severa na seleção dos filmes. Me senti identificado com esse momento, porque meus últimos trabalhos tratam de temas como as Ideias Para Adiar o Fim do Mundo. Esse mundo que estamos vendo se desmanchar diante dos nossos olhos, com o planeta superaquecido e com a possibilidade de eventos climáticos que a gente nem imagina. Podemos ser surpreendidos com desastres no campo que chamamos de desastres ambientais muito fora da curva. Aquelas ideias que já estavam listadas para nós como desastres a partir de experiências como tsunamis, terremotos e furacões incluem agora efeitos silenciosos.

Mesmo diante disso tudo, você acredita que estamos encontrando caminhos para adiar o fim do mundo? É importante acreditar no futuro?

A realização de um festival que convoca obras de arte que criticam o modo errado dos humanos estarem no planeta é uma expressão dessa vontade de produzir mundos, de acreditar que esse planeta é o maior tesouro que nós temos. E isso produz um efeito de esperança no nosso modo de vida, de que as próximas gerações possam ser testemunhas de alguma mudança no modo como transmitimos valores para a educação das nossas crianças e dos nossos jovens.

Pensando na sua trajetória como escritor e no contexto do Fica, que é um festival de cinema, como você enxerga o papel das artes como aliada na defesa do nosso planeta?

O cinema, no campo das artes, talvez seja a expressão mais popular e mais difundida que temos. Junto com a literatura, é uma janela para outros mundos. E é por isso que estou aqui, hoje, com vocês, celebrando essa edição crítica de um festival de cinema sobre a questão do clima, que está amplamente afetando a nossa vida no planeta Terra. A partir das artes, pensamos nosso modo de habitar a Terra.

O tema do festival deste ano, o Cerrado, se relaciona com a COP 30, que irá acontecer no Brasil. Ano passado, tivemos os incêndios cobrindo o céu do país com fumaça e fuligem, matando animais e vegetações. Qual a importância de se discutir a devastação dos nossos biomas?

Relacionar essa edição do Fica com a COP 30 é natural, porque o debate da conferência abrange todas as questões sobre o clima, amplamente. O festival também aborda questões diretamente relacionadas com nosso futuro comum. Como vamos habitar uma Terra calcinada, em estado constante de choque? Um filme que me impactou essa semana foi o Entre as Cinzas (filme goiano de Daniel Calil e Renato Ogata), que traz a questão do combate ao fogo pelos brigadistas voluntários e nos deixa realmente muito preocupados. Porque parece que o poder público ainda não assumiu a responsabilidade direta do monitoramento e a contenção do fogo quando ele ameaça a vida das pessoas e comunidades. Isso ainda é feito por brigadistas voluntários, que têm toda nossa solidariedade. Ficamos todos com a respiração parada na sessão, não pela quantidade de fumaça, mas pelo risco da gente continuar reproduzindo todo ano grandes queimadas. Assistimos à crise que essas queimadas causaram na vida das pessoas e os danos que esses territórios tiveram ao serem afetados pelo fogo. Como essas famílias vivem em um estado de insegurança permanente. É preciso reconhecer o poder do fogo e nós temos que aprender a conviver com ele. Precisamos descobrir, então, uma maneira de cuidar do Cerrado para que a gente não viva sobressaltado pelo risco da nossa casa ser destruída pelas queimadas.&nbsp;

Em meio às discussões mais recentes sobre as mudanças climáticas e a necessidade de se pensar soluções, muitos dos caminhos possíveis vêm sendo resgatados da sabedoria indígena e dos povos tradicionais. Como você enxerga esse resgate ancestral para pensar o futuro?

Existe atualmente um olhar curioso sobre esse acervo de conhecimento dos povos originários para resolver questões que tocam desde habitar a Terra até o cuidar do próprio corpo, da nossa saúde. Ter uma vida saudável e equilibrada no planeta. A ideia do corpo-território. Acho que essa valorização é bem vinda, só tomara que ela não tenha chegado tarde demais.&nbsp;

"É preciso mudar o nosso paradigma de habitar o mundo", alerta Ailton Krenak

FICA

A cidade de Goiás se prepara para receber um evento inédito. De 12 a 14 de setembro deste ano a antiga capital vai sediar o 1º Encontro das Procissões do Fogaréu no Brasil, dentro das comemorações dos 60 anos da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat) e dos 280 anos da Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos. Representantes de quase 50 localidades de 12 Estados brasileiros que se inspiraram na representação goiana para realizar suas próprias dramatizações já confirmaram presença. O objetivo é fortalecer a tradição como manifestação de fé e de apelo turístico.

<ul>
	<li>Relembre no g1 Goiás:&nbsp;<a href="https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2025/04/17/procissao-do-fogareu-celebra-280-anos-com-60-farricocos-e-milhares-de-visitantes-em-goias.ghtml" target="_blank">Procissão do Fogaréu celebra 280 anos com 60 farricocos e milhares de visitantes</a></li>
</ul>

Léo Barata, ativista cultural e vereador de Caxias (MA), é o idealizador do evento. “Criamos a nossa procissão há 22 anos quando vi, pela TV, o Fogaréu da cidade de Goiás. Hoje, atraímos 20 mil pessoas”, relata. Léo aprendeu muito da representação com Elder Camargo de Passos, o memorialista criador da Ovat, que resgatou a tradição do Fogaréu em 1965, ao lado da artista plástica Goiandira do Couto, após cem anos de paralisação. “Cada procissão tem a sua peculiaridade, mas todas foram inspiradas na cidade de Goiás”, afirma Léo Barata, enquanto mapeia as cidades que realizam o evento dentro da Semana Santa. Ele acredita que há cerca de 80 localidades que fazem a Procissão do Fogaréu.

<a href="http://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; outline: 0px; outline-offset: -2px; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp&nbsp;</a>

<h2>Patrono</h2>

Na cidade de Goiás, os preparativos são liderados por Guilherme Siqueira, presidente da OVAT, e pelo provedor da Irmandade do Senhor dos Passos, Leonnardo Vinícius. Guilherme explica que o encontro está programado para integrar a Semana Veiga Valle, o patrono da Ovat, quando haverá a entrega das condecorações e medalhas a pessoas que se destacam na educação e na cultura. Os visitantes terão oportunidade de conhecer mais sobre a artista plástica Goiandira do Couto e sobre as roupas dos farricocos, criadas por ela, em palestras com especialistas. “Minha expectativa é muito grande, principalmente por saber que Goiás estará no centro das atenções de pessoas de todo o País.”

Guilherme Siqueira afirma que o principal objetivo do encontro é ajudar a fortalecer a representação do Fogaréu em outras cidades. “Decidimos sediar o primeiro encontro para que Elder Camargo, hoje com 84 anos, possa ver a dimensão do que ele criou. Ele sempre disse que o futuro (da cidade) de Goiás estava no passado, por isso fundou a Ovat e o Museu da Boa Morte para que as tradições fossem preservadas. Agora estamos inspirando outras localidades.” Uma das questões que será reforçada durante o evento é a importância da institucionalização. “Não é fácil manter uma tradição, tanto que Goiás ficou cerca de cem anos sem o Fogaréu, mas tudo mudou com a criação da Ovat.”

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/fogareu-2025-entre-despedidas-e-estreias-a-tradic-o-segue-em-frente-1.3253772" target="_self">Fogaréu 2025: entre despedidas e estreias, a tradição segue em frente</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/conheca-algumas-das-responsaveis-por-levar-a-prociss-o-do-fogareu-as-ruas-em-2025-1.3253759" target="_self">Conheça algumas das responsáveis por levar a Procissão do Fogaréu às ruas em 2025</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/veja-galeria-de-fotos-da-prociss-o-do-fogareu-que-celebra-280-anos-1.3253543" target="_self">Veja galeria de fotos da Procissão do Fogaréu que celebra 280 anos</a></div>

Léo Barata concorda. Em Caxias (MA) ele criou a Organização Caxiense de Artes e Tradições (Ocat) que, a exemplo da Ovat, tem feito a diferença na preservação da cultura local. Ele explica que a Procissão do Fogaréu de Goiás inspirou todas as outras cidades que a adotaram, embora cada uma delas tenha suas singularidades. “Os cones de nossos farricocos são um pouco diferentes. Eles imitam aqueles usados em cidades espanholas, como Sevilha e Toledo”, exemplifica. Para o vereador, o encontro será importante não somente para socializar. “Queremos nos irmanar para manter viva essa tradição.”

Durante o encontro, não haverá a Procissão do Fogaréu, apenas uma apresentação. “Não faz sentido fazer a dramatização da prisão de Cristo fora da Semana Santa”, explica Guilherme Siqueira. As cidades representadas no encontro vão participar da demonstração, uma espécie de desfile, entre o Museu da Boa Morte e o Santuário do Rosário, e no final do percurso o Coral Solo da cidade de Goiás vai executar os motetos – peças musicais em latim – compostos em 1855 pelo maestro Basílio Martins Braga Serradourada e por seu filho, o cônego José Iria Xavier Serradourada. “Muitas das cidades que hoje realizam o Fogaréu utilizam os nossos motetos”, afirma Guilherme Siqueira.

<h3>Interrupção de cem anos na tradição</h3>

A Procissão do Fogaréu na cidade de Goiás surgiu em 1745, numa iniciativa do padre espanhol João Perestello de Vasconcelos Spíndola, criador da Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos e introdutor das celebrações da Semana Santa na antiga capital. Inicialmente havia apenas um farricoco. A representação acabou suspensa e ficou fora da programação religiosa por cerca de cem anos. Nos anos de 1960, Elder Camargo de Passos e Goiandira do Couto decidiram resgatar a procissão e, para isso, mergulharam em arquivos para entender a dinâmica e as vestimentas.

A primeira Procissão do Fogaréu já sob o comando da Ovat foi em 1966, com três farricocos, que utilizaram túnicas nas cores vermelho, azul e roxa. Com o passar dos anos, o número passou para 40 e este ano subiu para 60. As vestimentas originais, confeccionadas pelas mãos habilidosas de Goiandira do Couto foram substituídas para possibilitar a musealização das túnicas, um projeto que está em andamento. Em 2025, aproximadamente 70 mil pessoas acompanharam a Procissão do Fogaréu na cidade de Goiás, segundo estimativa da prefeitura local.

Durante o 1º Encontro das Procissões do Fogaréu, os principais itens da representação da prisão de Jesus Cristo da cidade de Goiás vão compor uma exposição no Instituto Biapó, no Centro Histórico. Todas as demais cidades também vão apresentar suas vestimentas e adereços que, embora inspirados na procissão da antiga Vila Boa, ganharam peculiaridades distintas que o visitante poderá observar.

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Cidade de Goiás vai reunir 80 procissões inspiradas no Fogaréu

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Tradição

Na concentração de farricocos, músicos e equipe responsável pela produção da Procissão do Fogaréu, na cidade de Goiás, um farricoco era tratado como celebridade na última quarta-feira (16). Todos queriam conversar, tirar fotos ou entrevistar o funcionário público João Conceição da Silva, de 60 anos, que apesar do sorriso no rosto, tinha os olhos marejados. O mais antigo farricoco do grupo estava se preparando para entrar em cena pela última vez. “A emoção é muito grande. Há 41 anos, eu estava tentando entrar aqui e hoje é minha despedida”, conta.

A expectativa era grande, como sempre foi antes de entrar em cena. Segundo ele, a emoção nunca muda. A diferença, desta vez, é que além da ansiedade para a encenação, ele também estava prestes a encerrar um ciclo. “É doído pensar que ano que vem eu não vou estar participando mais”, diz. Apesar da decisão de “passar a tocha” para novos integrantes seguirem a tradição, João tem um recado de quem levou o cargo muito a sério por quatro décadas. “Espero que eles segurem a responsabilidade e fiquem pelo menos metade do tempo que fiquei. A maioria que está aqui hoje não tem de idade o que eu tenho de Fogaréu”, aponta.

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Robson Daniel Jubé: "A tradição não pode morrer"a (Fábio Lima / O Popular)

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Um dos novatos que fez estreia em 2025 é Robson Daniel Jubé, de 28 anos. Em 2023, ele participou da programação da Semana Santa na Procissão do Enterro do Senhor Morto. “Não tive como participar no ano passado de nenhum evento, porque fiz uma cirurgia no joelho”, conta. Agora, recuperado, Robson fez questão de entrar no grupo de farricocos do Fogaréu. “A tradição não pode morrer, temos que seguir com ela em frente. Muitos estão se aposentando, então nós, jovens, temos que correr atrás disso”, ressalta.

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Lauro Oliveira Ribeiro participou pela primeira vez do Fogaréu&nbsp;(Fábio Lima / O Popular)

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Apesar de estar participando pela primeira vez da procissão, Lauro Oliveira Ribeiro, de 23 anos, estava se sentindo em casa. “Conheço praticamente todo mundo que está aqui hoje”, conta. Ele acompanha desde pequeno a encenação e, desta vez, decidiu se juntar ao grupo. “É uma sensação diferente, uma emoção nova fazer parte de algo tão grande, com a cidade sempre cheia esperando a gente sair”, comenta.

Fogaréu 2025: entre despedidas e estreias, a tradição segue em frente

Passando a tocha

O Popular