Não há uma vez sequer que Antônio Carlos Ribeiro de Souza, 81, caminhe pela Avenida Goiás e não se lembre com carinho dos tempos de bancário. Foi ali, na avenida com a Rua 1, que o goiano de Morrinhos fez carreira durante décadas na primeira agência do Banco do Brasil instalada na cidade.Ode ao moderno e de frente para o futuro, a avenida mais luxuosa da cidade era um evento à parte: além de ligar o centro do poder político, a Praça Cívica, até a Estação Ferroviária, era cenário para o Coreto e a Torre do Relógio, percorria a Praça do Bandeirante e servia como vitrine para célebres edifícios de Goiânia, a exemplo da primeira redação do jornal O POPULAR e a Câmara Municipal.Vindo aos 18 anos para estudar no Colégio Lyceu de Goiânia, Antônio percorria a cidade com sua vespa turbinada. Quando o sol baixava e as luzes incandescentes da capital ganhavam vida, o goiano saía com os amigos para as sessões perfumadas do Cine-Teatro Goiânia ou os famosos footings. “Era assim: os homens ficavam passeando de um lado e as mulheres de outro. Hora ou outra alguém furava a fila e interagia com as moças. Era uma espécie de paquera”, conta.Nas rádios, nas danceterias e nos bares, os jovens da época não se cansavam de ouvir repetidamente a canção Espútido Cupido, de Celly Campello, uma das rainhas da rádio. Os bailes e carnavais do Jóquei Club eram eventos cobiçados por todos. “Só entrava nas matinês dançantes do Jóquei quem era sócio. Uma vez, eu e meus amigos pulamos o muro para tentar entrar no baile. Fomos pegos. Tivemos que sair pela porta da frente escoltados pelos seguranças”, rememora Antônio.Aos que não conseguiam entrar na pista de dança do Jóquei Clube, a cidade ainda apresentava opções de entretenimento únicas aos moradores. Próximo da Avenida Goiás, na Rua 6, por exemplo, o vai-e-vem dos jovens se resumia a dois atrativos em grande estilo: a boate Lisita e o bar Serra Dourada. “A boate Lisita era moderninha. Lembro que tinha um mecanismo manual que fazia com que o teto da boate se abrisse por inteiro. Dançávamos de olho nas estrelas”, recorda.Seu Antônio nunca saiu do Centro. Com o passar dos anos, acompanhou as mudanças em Goiânia. “Foi tudo muito rápido. De repente e pronto, aquela cidade provinciana havia se tornado uma metrópole, com vários prédios e arranha-céus”, diz. Quando fecha os olhos, o goiano ainda consegue se lembrar com apreço e brandura dos tempos de juventude que não voltam mais, das estrelas brilhando no céu da boate Lisita e das luzes dos postes da Avenida Goiás que iluminavam uma cidade que acabara de nascer.Leia também:- Aniversário de 89 anos: Eu vejo Goiânia- Goiânia 89 anos: Av. Paranaíba e a cidade que habito- Goiânia 89 anos: Lago das Rosas para quem não tem mar- Goiânia 89 anos: Praça Joaquim Lúcio, Campininha- Goiânia 89 anos: No escurinho do Cine-teatro Goiânia-Imagem (Image_1.2545367)