Acompanhar as transformações do cinema brasileiro, criar mecanismos para o debate audiovisual e fomentar a produção cultural goiana são alguns dos pilares da Goiânia Mostra Curtas. Uma das janelas mais expressivas entre as mostras de curtas-metragens do País, o festival comemora entre os dias 23 e 28 de novembro duas décadas em uma edição especial. Em decorrência da Covid-19 e da ausência de investimentos e políticas públicas destinadas à cultura, o evento será realizado pelo Instituto de Cultura e Meio Ambiente (Icumam) integralmente de forma on-line.Há 20 anos, quando pensou em montar um festival de curtas, a produtora cultural e diretora Maria Abdalla não imaginou que estaria realizando a edição de duas décadas no meio de uma pandemia. “Acredito que nenhum produtor cultural tenha pensado em um cenário como esse que estamos vivendo. É um desafio enorme produzir um evento que acontece de forma ininterrupta e presencialmente há 19 anos. Estamos reaprendendo a criar formas de se desenvolver o festival, com novos caminhos e possibilidades”, destaca.Em edição comemorativa, a Goiânia Mostra Curtas deste ano trará a exibição dos filmes premiados da Curta Mostra Brasil e da Curta Mostra Goiás durante os 20 anos de festival, com curadoria da própria Maria Abdalla. Ao mesmo tempo, também mantém em sua programação a já tradicional Mostrinha, específica para o público infantil, com filmes premiados pelo Júri Popular Infantil.Já a Curta Mostra Brasil, uma das mostras mais importantes do evento, tem como tema Os Caminhos do Brasil, com 20 filmes de 2020 e 2021. “Trata-se de um recorte interessante e atual que apresenta um período em que as produções se tornaram mais difíceis, mas também trouxe curiosas descobertas. Os registros desse tempo que marcou a todos são surpreendentes, assim como o encanto dessas histórias que os filmes contam”, destaca Abdalla. A curadoria é de Beth Sá Freire, diretora do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo.“Os filmes estão refletindo muito o momento que estamos passando, com questões relacionadas à pandemia, discussões sociais, políticas e econômicas. Também falam das linguagens do cinema e das diversas paisagens que ilustram o País”, argumenta Abdalla. A lista de curtas-metragens selecionados será divulgada na próxima semana no site do festival (www.goianiamostracurtas.com.br).GuerraAs várias formas de amar, o cinema negro, o vídeo dos anos 1980, o audiovisual LGBTQIA+. Diversos foram os temas escolhidos para a Curta Mostra Especial, uma das exibições mais nobres da Goiânia Mostra Curtas. Para a edição de 20 anos, a temática escolhida para o evento é Nós Somos a Guerra, com um conjunto de filmes que olham para as desigualdades profundas e históricas que constituem o País.Com curadoria da pesquisadora e crítica de cinema Kenia Freitas, a Curta Mostra Especial apresenta filmes que assumem como ponto de partida a guerra declarada pelas elites e pelo Estado brasileiro contra a população – especialmente contra as pessoas indígenas, negras, pobres, trans e travestis. “Nesses filmes, o cinema torna-se vetor do afronte, de luta, da raiva e de insurreições com e pelas imagens e sons”, adianta Abdalla.A mostra é formada por 12 curta-metragens brasileiros feitos entre 1968 e 2021 produzidos em diversos Estados, como Goiás, Amazonas, Ceará, Rio de Janeiro e Pernambuco, e abordam realidades étnicas, sociais, e culturais de enfrentamento face às opressões. Os filmes estão divididos em dois programas: Dissonâncias e Ecos Subterrâneos e Corpos em Transe e em Colisões. “Estamos vivendo um cenário de guerra, com crises sanitárias, políticas e econômicas que ampliam o projeto colonial genocida. Mais do que nunca é necessário se discutir essas questões urgentes”, destaca a produtora.Formar e discutirCom inscrições abertas até o dia 15 de novembro para oficinas, debates e palestras com diversos nomes do audiovisual brasileiro, a Goiânia Mostra Curtas deste ano mantém em sua agenda um extenso programa de formação. Uma delas é a oficina com o diretor Cristiano Burlan com o tema Narrativas Documentais, que tem a proposta de trazer reflexão sobre os meios e modos de produção e realização do documentário no Brasil.Silvia Cruz, fundadora da Vitrine Filmes, que atua na distribuição de filmes independentes brasileiros, estará à frente da aula sobre Distribuição Cinematográfica e Mercado Audiovisual Brasileiro. Entre os assuntos abordados, está o cenário audiovisual brasileiro nas suas batalhas e conquistas dos últimos anos, além de possíveis modelos de negócio dentro do cenário social e econômico atual. Toda a programação é gratuita. Duas décadas de imersãoDe 2001 para cá, cerca de 290 mil pessoas participaram da Goiânia Mostra Curtas e mais de 2 mil filmes foram exibidos. O festival também realizou 68 oficinas, 17 painéis, 48 debates, 58 encontros e teve 105 homenageados. Nas últimas edições, ainda promoveu a Feira Audiovisual, contendo atividades de capacitação e formação no mercado audiovisual.“É um festival que traz fomento para a cidade e ajuda na profissionalização do mercado, envolve todo o contexto urbano, cria possibilidades de atuação para diversos profissionais, além de promover a discussão do audiovisual”, explica a produtora Maria Abdalla.