Contemplado em uma rifa de âmbito nacional, sorteada pela Loteria Federal e turbinada pelo WhatsApp, consegui realizar o sonho de, novamente, ter um Fusca, veículo icônico que embala tantas paixões mundo a fora. Fabricado em 1979, a menos de dez anos do fim da produção no Brasil, o carro, modelo 1.300L, de 46 cavalos, acaba de chegar a Goiânia no enredo de uma verdadeira aventura, ao percorrer trajeto de mais de 1,5 mil quilômetros, a partir da cidade de Campos Novos (SC), cruzando ainda os Estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Uma viagem demorada, cansativa, marcada por dificuldades previsíveis pela associação de idade avançada do carro e negligência na manutenção, paradoxalmente, superada pela simplicidade da mecânica do Fusca.Noves fora o lance de sorte da aquisição por meio de uma rifa, comum entre fusqueiros ou amantes de Fusca e que movimenta um negócio bastante rentável – o sujeito restaura carros antigos ou adquire-os de colecionadores e coloca à venda em torno de até mil números ao valor unitário de 40 reais –, a história reúne ingredientes pitorescos. A começar pelo meio de trazer o veículo sorteado de tão longe, circunstância que o distraído apostador da rifa não observou e que arrefeceu um pouco a euforia pela premiação. Já disposto a pagar o transporte via cegonha, alternativa que evitaria eventuais problemas mecânicos decorrentes da desgastante viagem, eis que entra em cena o amigo Edson Alves, designer do O Popular e igualmente fã de Fusca. “Saio de férias e vou buscar seu carro. É só você ter paciência”. Tentei em vão demovê-lo da aventura, desde a ida de ônibus até o Sul do País, com saída de Goiânia até Campinas (SP), passando por São Paulo, Curitiba e, finalmente, Campos Novos, já no primeiro dia de outubro, em trajeto de cerca de 2 mil km.Na bagagem, prevenido, Edson havia exigido que comprasse itens como platinado, vela, cabo de vela, rotor, filtro combustível, tampa do distribuidor, peças que compõem a simples mecânica do Fusca, suficientes para não deixar o motorista “no prego”.Colocado à prova, o Azulinho não decepcionou. Exigiu, claro, a troca de boa parte das peças sobressalentes e até a compra imprevisível de uma bateria, além de acusar alguns outros probleminhas na parte elétrica e até um susto no motorista diante de uma carreta, infelizmente coisa comum em tráfego em rodovias, em meio a caminhões e outros veículos de grande porte.O trajeto de volta levou mais tempo do que o planejado, exatamente por conta desses muitos probleminhas, mas com performance louvável para um quarentão. Até mesmo no consumo de combustível, com média registrada de 11,3 km/litro de gasolina. Por onde passava, o Fusca, de cor azul e muitíssimo conservado e original (quase placa preta!) chamava atenção e o piloto recebia incontáveis estímulos para prosseguir sua saga, com direito a muitos stories e likes em redes sociais, alimentando expectativa e torcida pelo final feliz. Ufa!-Imagem (1.1969281)