Inspirados em comediantes estadunidenses que disseminaram o formato pelo mundo, brasileiros geraram o primeiro boom do stand up por aqui no início dos anos 2000 por meio de grupos como o Comédia em Pé, formado por Cláudio Torres Gonzaga, Fábio Porchat, Fernando Caruso, Léo Lins e Paulo Carvalho, e o Clube da Comédia Stand Up, que contava com nomes como Marcelo Mansfield, Rafinha Bastos, Marcela Leal, Diogo Portugal, Oscar Filho, Márcio Ribeiro e Henrique Pantarotto.Entre os expoentes do gênero made in Goiás está Fabiano Cambota, músico e comediante também conhecido por liderar a banda Pedra Letícia. Cambota, como assina nas redes sociais, já ultrapassa os 900 mil seguidores no Instagram e apresenta o programa A Culpa é do Cabral, do canal Comedy Central, que tem Nando Viana, Rafael Portugal, Rodrigo Marques e Thiago Ventura no elenco.Mesmo que as redes sociais tenham papel fundamental na disseminação da comédia, popularizando formatos como as esquetes e impulsionando nomes do humor, o formato stand up comedy precisa, essencialmente, de uma plateia. “Numa apresentação eu literalmente dependo de uma resposta do público. O Nil Agra (comediante) faz uma comparação com um jogo de pingue-pongue: ele bate a bola para o público e o público devolve na mesma hora”, comenta o humorista Luiz Titoin. Sem a resposta da plateia, o comediante lança a piada às cegas, sem ter noção do que está funcionando para quem está do outro lado assistindo.Luiz não deixa de reconhecer a importância do ambiente on-line. É por meio das redes sociais que os comediantes constroem seus portfólios, registrando cortes dos melhores momentos dos shows, divulgando datas de eventos e produzindo conteúdos especiais, como esquetes curtas e divertidas. Foi também de forma virtual que ele participou do processo seletivo para o reality show Futuro Ex-Porta, da produtora Porta dos Fundos. O objetivo do programa veiculado na internet era encontrar um novo humorista para o elenco, com Luiz Titoin integrando o grupo de dez selecionados entre as mais de sete mil inscrições recebidas.“Foi uma experiência surreal”, define. O goiano ficou entre os dez finalistas e foi para o Rio de Janeiro participar das gravações. “Aqueles caras que eu estudava e assistia estavam do meu lado comigo. Como era um reality, fiquei focado totalmente naquilo. Sem falar de estar junto dos melhores ali, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Antonio Tabet”, conta.Luiz se dedica exclusivamente à comédia há cerca de três anos e conta que começou por acaso, como um hobby. Após quatro anos tentando passar para medicina, assistiu a um show em um comedy club da cidade. “No final, o Eduardo Castilho, que era o dono, disse que eles iam abrir o microfone para os iniciantes que quisessem participar. Pensei: taí, quero fazer esse negócio”, lembra. Após se apaixonar pelo formato, entendeu que precisaria se dedicar integralmente se quisesse fazer do então hobby a sua nova profissão. Já se apresentou fora de Goiânia, como São Paulo, capital e interior, Florianópolis, Brasília e Anápolis. “Percebo que 2022 vai ser um ano bem legal para o stand up em Goiânia”, observa.A frustração também deu o pontapé para o comediante Wagner Oliveira começar na área. “Me formei em jornalismo no final de 2020 e não consegui o destaque que eu gostaria na profissão. Meio frustrado por isso e por outras questões, como relacionamentos, comecei a transformar esse sentimento em piadas. Na metade de 2021 comecei a ter mais destaque na comédia”, conta ele, que já teve a oportunidade de se apresentar em outras cidades, conhecer ídolos como Marcelo Marrom e Rogério Morgado e hoje integra os principais nomes das programações da cidade.O engenheiro civil Guilherme Ferreira Abrão, de 34 anos, flertava com a possibilidade de ser humorista desde os 20 e poucos anos. No final de 2019, começou a frequentar o Guardians Comedy Club, onde teve a oportunidade de subir no palco e se apresentar pela primeira vez. “Assim que comecei, descobri que muita gente se apresenta em bares e eu não sabia. No início de 2020, veio a pandemia e lockdown e paralisei tudo por seis meses”, conta. De volta às atividades, Guilherme se diz feliz de ter conhecido pessoas da cena da comédia que incentivam o trabalho de iniciantes. “O pessoal se ajuda muito, dá dicas de como desenvolver uma ideia, feedbacks. É uma cena unida”, diz.Pautas importantesO humor nunca será universal. Há aqueles que gostam de certos tipos de piadas, outros não. A discussão do que seriam os limites do humor, no entanto, fica para outra oportunidade. Mas se a comédia aborda cotidiano, vivências, atualidades e vida real, naturalmente pautas como política e sociedade tem seu espaço. “Cada público é um público. Às vezes as piadas que faço hoje e que agradam uma plateia toda, no dia seguinte não vão funcionar. Eu falo muito de questão racial, machismo, preconceito religioso e encontro muito público conservador aqui. Mas me acostumei a bater de frente e fazer com que esse público compre as piadas de um preto da Umbanda que faz críticas no palco”, comenta o humorista Luiz Titoin.Chegou até aqui e percebeu a predominância das figuras masculinas na cena? Pois é. “A gente precisa de mulheres fazendo stand up em Goiânia. Em outros lugares, como São Paulo, existem muitas humoristas, mas aqui não”, observa Luiz. Kamila Grattan, de 25 anos, diz que o assunto é complexo, mas importante de ser abordado. “Me lembro que quando comecei, não tinham mulheres fazendo stand up. Pouco tempo depois, a Dri Santos começou e éramos duas. Vimos algumas meninas começando e logo desistindo. Não sei se é por medo ou vergonha, porque a comédia é um meio dominado por homens, mesmo tendo nomes fortes como Carol Zoccoli e Bruna Louise. A Dri mesmo passou a se dedicar somente às esquetes na internet, o que é uma pena”, comenta.Kamila acredita que a cena local tem potencial para receber mais humoristas. “Quando me apresento, sempre vem alguma mulher da plateia me falar como é legal eu estar ali”, diz. Ela conta que sua relação com o stand up começou como grande fã do gênero. “Ia em todos os shows. Com o tempo, percebi que as piadas não me arrancavam risos como antigamente. Assisti uma entrevista com o Jacaré Banguela em que ele falou que quando você passa a viver a comédia, você passa a entender como funcionam as coisas e a rir menos”, lembra.Em setembro de 2018, fez sua primeira apresentação. No ano seguinte, se mudou para Porto Alegre para trabalhar no grande comedy club da cidade. “Lá, trabalhava como atendente. Mas eu estava dentro da cena e com a pandemia voltei para Goiânia”, conta.-Imagem (Image_1.2390736)-Imagem (Image_1.2390737)