Tendências dentro e fora das passarelas, presenças ilustres, festas, pandemia, crise climática, guerra na Ucrânia e muitos cliques. Os primeiros dias da Semana de Moda de Paris reiteram que a moda pode e deve ir além da estética e do entretenimento ao promover reflexões sobre o mundo ao nosso redor. Com início no dia 28 de fevereiro na capital francesa, apenas quatro dias após a guerra na Ucrânia eclodir, marcas prestaram homenagens e reverenciaram o conflito em seus desfiles.Com programação predominantemente presencial, a edição marca uma nova fase desde o início da pandemia, ainda que com público reduzido. O clima das semanas de moda ao redor do mundo no ano passado era de leveza, diversão e sensualidade como forma de celebrar o retorno à vida social no contexto pandêmico. A euforia, no entanto, foi por água abaixo com o conflito no continente que tirou a alegria que ensaiava voltar ao rosto dos europeus.Se para muitos a semana de moda é um momento de escape, a estilista francesa Isabel Marant, que tem um dos desfiles mais esperados da Paris Fashion Week e que prometia uma grande festa na noite de quinta-feira (3), surgiu no final da apresentação trajada com um tricô bordado com a bandeira azul e amarela da Ucrânia. A atitude pôde ser lida tanto como protesto, como um pedido de desculpas de apresentar um show com seu estilo característico de glamour festivo.O desfile da Balmain foi marcado por peças remetem a coletes à prova de balas, feitas em material rígido com couro e borracha. Apesar do timing, o estilista Olivier Rousteing disse no texto da apresentação que o propósito inicial não era fazer um manifesto sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, apesar de poder inspirar comparações pelas peças que remetem à segurança. A ideia, no entanto, também era atual: fazer dessas peças um lembrete de que é preciso estar preparado para os ataques de ódio, agressão e mentiras que podem brotar nas redes sociais.Amazônia na modaA grife Chloé tem à frente há cerca de um ano a estilista uruguaia Gabriela Hearst, representante de uma nova geração de designers comprometidos com o tema da crise climática e que destaca soluções possíveis para a indústria sem cair no marketing verde, o chamado “greenwashing”. O desfile levou tecidos costurados em parceria com mulheres indígenas da Amazônia brasileira, além de representantes colombianas, peruanas e equatorianas. As peças dividiam a atenção com casacos de cashmere, uma das matérias primas mais escassas e desejadas pelo luxo e que foram totalmente recicladas.Apesar do tom sério que permeia a Europa no momento, a Semana de Moda de Paris não deixa de ser uma das mais aclamadas vitrines de tendências, tanto nas passarelas, como fora delas. As ruas da cidade, considerada a capital da moda, ficam tomadas de fashionistas e as primeiras filas dos desfiles contam com presenças ilustres que antecipam grande parte do que será visto nos próximos meses nas lojas, redes sociais e no dia a dia. O evento segue até o dia 8 de março.Destaques das passarelasIsabel Marant é considerada a mãe do estilo cool parisiense. Entre suas principais características estão o estilo boêmio, estampas étnicas e pegada cosmopolita, que antecipam o que dominará as ruas nos meses posteriores. Tudo isso pode ser visto no look da coleção do inverno 2023 com as botas de cano alto acima do joelho (chamada de "over the knee") somadas ao minivestido e ao casaco estampado - colorido, divertido e glamuroso.Roupas coladas, pele à mostra e fitas transformadas em costuras laterais foram apresentadas na coleção repleta de sensualidade da Balmain. As peças rígidas que remetem a coletes à prova de balas deram o tom quase premonitório ao desfile, apresentado poucos dias após o início do conflito na Ucrânia.A estilista uruguaia Gabriela Hearst é uma das representantes da nova geração de designers comprometidos com o tema da crise climática e está à frente da grife Chloé. As peças pintadas à mão ilustram cenários arrasados pelo homem na frente enquanto que nas costas reluzem cores da natureza viva daquele mesmo retrato. Batizada de 'Climate Success', a série de peças contou com colaboração de mulheres indígenas da Amazônia brasileira, além de representantes colombianas, peruanas e equatorianas.A coleção apresentada pela Dior refaz o icônico "new look", traje composto por saia ampla, jaqueta acinturada e chapelão criado pelo fundador da marca e que completa 75 anos. Desta vez, a estilista Maria Grazia Chiuri desconstruiu a ideia inicial para apresentar o look da "próxima era". Saias plissadas, ombreiras estruturadas e espartilhos dão o tom da alfaiataria da grife.Aos pés da Torre Eiffel, a Saint Laurent apresentou uma coleção noturna dominada pelos vestidos de festa. Leveza em tecidos fluidos e elegância nos grandes casacos apontam para uma temporada em que grandes estilistas revisitam a tradição. -Imagem (Image_1.2414040)-Imagem (Image_1.2414041)-Imagem (Image_1.2414042)-Imagem (Image_1.2414044)-Imagem (Image_1.2414043)-Imagem (1.2414061)