De forma silenciosa, a hepatite A chegou aos poucos na vida da pensionista Maria de Fátima Jesus Benedetti, 67. Primeiro, a goiana começou a sentir uma dor no estômago e, mais tarde, um inchaço incomum no abdome. O tempo foi passando e ela já não conseguia ingerir nenhum tipo de alimento sem ter ânsia de vômito. Em maio, durante o mês de conscientização da hepatite, Maria já adianta: “É preciso se informar sobre a doença”.Leia também:- Projeto PsiQUÊ? inaugura série sobre saúde mental no trabalho- Nutricionistas explicam mitos e verdades sobre a proteínaAs hepatites crônicas são, em sua maioria, emudecidas, mas com evolução progressiva, sendo globalmente as principais causas de cirrose, câncer primário de fígado e transplante hepático, promovendo elevadas taxas de mortalidade. No caso de Maria de Fátima, a hepatite atacou toda a região do fígado, o que a levou para internação em hospital. “Quase morri. Já tinha desistido de tudo, mas as medicações e o tratamento médico acabaram salvando minha vida. Já meu marido, que pegou hepatite B, foi à obito”, diz.A importância de se discutir sobre a hepatite reside no fato de que as complicações graves da doença são perfeitamente evitadas caso se faça um correto diagnóstico precoce. De acordo com o hepatologista Rodrigo Sebba, a doença pode ser causada por diversos fatores, como infecções virais e bacterianas, medicamentos, drogas, álcool, disfunções metabólicas e doenças autoimunes.“Popularmente se usa o termo hepatite para definir as hepatites virais, que são causadas por cinco diferentes vírus, classificados por letras do alfabeto (A, B, C, D e E). Cada um desses vírus apresenta características peculiares em relação à forma de contágio, evolução da doença e gravidade”, explica Rodrigo Sebba. O médico adianta que a hepatite do tipo A é a mais comum entre crianças e adolescentes e cursa exclusivamente como doença aguda. “Nunca se torna crônica e não deixa nenhuma sequela no fígado após a cura e eliminação do vírus, que se faz de forma espontânea pelo sistema imunológico”, comenta.As hepatites B, C e D são de transmissão parenteral ou sexual, por sangue contaminado ou relações sexuais desprotegidas. Podem evoluir para formas crônicas, que cursam silenciosamente durante vários anos, podendo evoluir para cirrose e câncer de fígado. “A prevenção deve ser feita evitando-se consumo de água não filtrada e alimentos mal lavados, além de relações sexuais seguras, não compartilhamento de objetos perfuro-cortantes, e principalmente pela vacinação, disponível apenas para os vírus A e B”, orienta o profissional.PrevençãoEm fase aguda, logo após o contágio, os pacientes podem ser totalmente assintomáticos, ou ter sintomas como mal-estar geral, náuseas e vômitos, falta de apetite e icterícia (olhos e pele amarelados). Segundo Rodrigo Sebba, não existe nenhum sintoma específico relacionado a nenhum dos agentes virais. Já na fase crônica, a maioria dos pacientes não apresenta nenhum sintoma, ou somente se torna sintomático após evolução para cirrose, com sinais de insuficiência hepática.“É importante lembrar que sempre devemos orientar e conscientizar a população a respeito das hepatites, e não apenas neste mês”, argumenta o hepatologista. A orientação também é compartilhada pelo cirurgião hepatopancreatobiliar Edmond Le Campion, professor adjunto da disciplina de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina da UFG e membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. “É importante a conscientização da população em buscar a vacinação contra hepatite B e, no caso da hepatite C, por não termos uma vacina eficaz, evitar contato com sangue e materiais contaminados, por exemplo”, explica.Vacinar é preciso“É muito importante alertar sobre as hepatites virais, porque elas podem ser controladas através de um diagnóstico precoce”, adianta a infectologista Silvia Fonseca, do Sistema Hapvida. De acordo com a profissional, devido a falta de informação, muitas pessoas são diagnosticadas já na fase crônica da doença, quando estão com cirrose ou câncer de fígado, por exemplo. “A hepatite A e a hepatite B podem ser prevenidas por vacinas oferecidas gratuitamente nos postos de saúde”, orienta.São várias as formas de prevenção que incluem utilizar preservativo nas relações sexuais, não compartilhar objetos de uso pessoal, como alicates de unha, seringas e lâminas. “Hábitos de higiene que ficaram mais populares durante a pandemia são importantes também como lavar bem as mãos antes das refeições ou após o utilizar o banheiro e higienizar os alimentos antes do consumo”, diz. Outra forma de prevenção é a vacinação, oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “A hepatite B crônica e a hepatite C podem levar a cirrose e câncer de fígado, mas ambas têm tratamento gratuito oferecido pelo SUS”, comenta.Hepatite misteriosa na EuropaUma onda de casos de hepatite tem preocupado as autoridades sanitárias da Europa e dos Estados Unidos. Dezenas de crianças foram diagnosticadas em cinco países com quadros agudos da doença desde o início de abril. A causa ainda é um mistério: nenhum dos cinco vírus de hepatite conhecidos foi encontrado nos exames de sangue. De acordo com o cirurgião hepatopancreatobiliar, Edmond Le Campion, há muita incerteza em relação ao surto de hepatite aguda. “Ainda não se sabe a causa ou origem do problema”, diz o profissional. Os casos acometem crianças de um mês a 16 anos e aproximadamente 10% dessas crianças evoluíram com hepatite fulminante, sendo necessária a realização de transplante de fígado. “Vale ressaltar que, infelizmente, a doação de órgãos caiu muito durante a pandemia e, portanto, a sociedade civil precisa se sensibilizar e lembrar da importância dessa ação, afinal, este gesto heróico pode salvar muitas vidas”, orienta.