Quem já viu um coração vermelho de grafite espalhado em paredes quase sempre abandonadas da capital? Você já se perguntou quem faz e qual a história dele? Presente nas ruas de Goiânia e de várias cidades do mundo desde janeiro de 2015, o “Coração de Rua” é uma expressão de arte criada de maneira espontânea pelo artista Homero Maurício, de 34 anos. Desde então, ele faz questão de colocar o seu “amor” em cada cantinho que precisa de arte.Homero lembra como foi que o “Coração de Rua” surgiu. “Levei o carro da minha esposa para revisão e o atendente da oficina recomendou pegar tudo que tinha no carro. Coloquei os objetos em uma sacola e fui procurar um restaurante. Entre os objetos tinha um spray vermelho, que era uma cor que eu usava pouco nas minhas artes. No caminho, vi um tapume de uma obra e decidi fazer um coração.”Ele conta que atravessou a rua para chegar à “tela” e desenhou um coração comum. “Mas a madeira começou a puxar a tinta. Eu fui reforçar o traço e ficou mais diferente. Quando atravessei de volta para ver de longe, tinha gostado daquilo. Fui até uma parede ao lado para fazer outro coração. Naquele momento em que ficou pronto, meu coração disparou. Foi um misto de sensações. Até hoje, a cada vez que faço esse coração, meu coração dispara.”Silencioso e consistenteA partir dali, Homero passou a replicar a arte de forma consciente. “Nunca usei molde. Esse coração sempre é feito à mãos livres.” Ele chegou a pensar em comercializar objetos ligado ao grafite, mas descartou essa possibilidade. “É um trabalho silencioso e consistente. Ele seve para levar a mensagem de amor através da minha forma de arte. Fui espalhando (os corações) e criando conexões.” O artista destaca que a intenção é levar a discussão sobre amor para todos os cantos.“Eu não escolho uma parede bonita, um lugar agradável. Geralmente são paredes abandonadas, sem vida. Eu levo a pichação do coração e cada um recebe de uma forma. Tem quem gosta, tem quem se incomoda. Mas nos dois casos a mensagem é levada. Quem olha apaixonado, vai lembrar do seu amor. Quem se incomoda, pode repensar porque não vê amor ali. Até acredito que o hater experimenta mais da arte que eu proponho com essa intervenção.”Homero Maurício conta que o foco é transformar essa mensagem para cada pessoa. “O coração não tem um significado. Depende de cada um, da história de cada pessoa. Se a pessoa vive a dor, vai ver um coração com espinhos, sangrando. Se está apaixonado, vai ser diferente.” Por isso ele nomeou toda a atmosfera ao redor da arte como “Movimento mundial do amor”. Ele reforça que o motivo foi o símbolo universal do amor, que é o coração, e os depoimentos que recebe das pessoas impactadas com a intervenção.Ele conta que recentemente uma mulher entrou em contato pelas redes sociais para contar que veio de outro estado para morar em Goiânia depois que a filha foi abusada sexualmente pelo pai. “Ela me disse que quando viu o coração vermelho, vibrante, no meio de tanta coisa naquela parede, a mensagem que leu na arte foi positiva, que estava se sentindo acolhida. E esse é o resumo da arte que representa o amor, mas que não tem um significado. Essa é uma forma de provocar as pessoas.”InícioHomero diz que não se tornou artista, mas que nunca deixou de ser um. “Comecei criança. Não me tornei artista, só não deixei de ser. Se tornar adulto é se adulterar, mudar. E não mudei, permaneci artista. Arte é seguir o desejo e o meu foi continuar investindo na arte e vivendo dela.” O artista conta que quando tinha 9 anos, foi acompanhar os pais e os tios durante uma reforma na casa da avó. Enquanto todos trabalhavam, ele pintou telhas de branco. Incentivado pela mãe, ele coloriu os objetos e começou a vende-los por R$ 10 reais.Hoje o artista tem corações espalhados por praticamente todos os países que já visitou, entre eles Estados Unidos, Alemanha, França e Rússia. Ele chegou a abrir uma galeria de arte em Miami, onde ele conta ter sido bem recebido, mas durante a pandemia, fechou. Ele também mantém uma galeria na capital goiana e a meta para 2023 é reabrir e fortalecer a galeria nos Estados Unidos para realizar intercâmbio artístico entre os artistas dos dois países.Leia também:- Viúva registra a intimidade do único imortal goiano- Projeto inaugura três novos painéis em Goiânia-Imagem (1.2514504)-Imagem (1.2514503)