O artista plástico Amaury Menezes chegou adiantado na entrevista que cederia ao POPULAR. Queria tempo para olhar o lugar e resgatar na lembrança os dias memoráveis que passou ali, subindo e descendo a rampa do Jóquei Clube de Goiás. Prestes a completar 80 anos e fruto de uma ideia de Pedro Ludovico Teixeira, o clube protagoniza uma polêmica há algumas semanas. O terreno que abriga os traços do modernista Paulo Mendes da Rocha, ícone da arquitetura nacional, foi colocado à venda devido a uma forte crise financeira. A comoção ganha força pois o prédio, localizado no coração da cidade - entre a Rua 3 e a Avenida Anhanguera, guarda memórias afetivas de diferentes gerações. Gente que vestiu a camisa do time de basquete, frequentou a sauna e pulou carnaval acompanhado de entes queridos. Gente que passou a dar as caras em shows e bailinhos e, depois, a levar os filhos para as piscinas e quadras do clube. O lugar chegou a ser reaberto em 2010, com direito à queima de fogos e comemoração por parte dos “joqueanos”, mas logo fechou as portas e passou a ser mais um ponto recreativo fora do alcance dos moradores do Centro. No caso de Amaury, 87 anos, o caso de amor com o Jóquei começou quando o local ainda era chamado de Clube do Automóvel. O menino de então 6 anos, que conhecia cada canto do lugar, acompanhou o desenvolvimento do espaço. Passou pelos bailes, aproveitou os finais de semana ensolarados e, como homenagem, pintou os quadros que compõe a galeria dos presidentes do clube. “Na época em que a capital foi construída a iniciativa privada não acreditava nela. Foi preciso erguer um hotel (Grande Hotel), um cinema (Teatro Goiânia), um mercado (Mercado Popular) e um clube. A partir daí a cidade vivia em função desses lugares, principalmente do Jóquei. Acabar com ele é acabar com a história de Goiânia.” Entre idas e vindas ao clube Amaury descobriu duas paixões e precisou se dividir entre as artes plásticas e a quadra de basquete. “Naquela época, em 1952, não tínhamos que ser profissionais para jogar. Virei atleta do Jóquei e participei do time por dez anos. Chegamos a enfrentar o Flamengo. Hoje me faltam palavras para expressar como é ruim ver o clube descuidado assim. É uma mutilação a memória da cidade. Aqui fiz amigos, escrevi parte da minha infância e quase toda a minha juventude.”Amaury passou a espírito à filha, Andyra Menezes, 61 anos. Os bailinhos em tom de alalaô fizeram com que ela se juntasse a Rossana Veiga Jardim na organização do Carnaval do Largo do Rosário, que ocorre anualmente na cidade de Goiás. “Na época do Jóquei, a gente esperava o ano todo pelas matinês e pelos bailes. Passei minha infância e juventude aproveitando os eventos. Além disso, ia no clube de segunda à segunda para aproveitar a piscina, tomar sol e encontrar os amigos”, lembra ela. -Imagem (Image_1.1413282)