Quando a ex-presidente Dilma Rousseff saudou a mandioca em discurso na abertura Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em 2015, logo a frase virou motivo de piada. “Eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil”, disse, em tom descontraído. Apesar da reação, Dilma estava certa. Tanto do ponto de vista econômico – são aproximadamente R$ 2 bilhões de faturamento da lavoura no País – quanto nutricional, pois a raiz é um produto nacional cheio de predicados.Sem glúten, com ação antioxidante e fama de protetora do coração, a raiz conquistou de vez quem procura uma alimentação mais saudável. Gente como o professor de educação física Gustavo Monteiro, de 39 anos. Após secar 8 quilos com uma dieta low carb, com baixa ingestão de carboidratos, ele adotou a dieta paleo, que tem a proposta de resgatar a maneira como os nossos ancestrais se alimentavam. Nela, raízes como a mandioca têm lugar de destaque. “Dá até para fazer brigadeiro tendo ela como base”, conta.Raiz que é a cara do Brasil, a mandioca tem aplicações na área tradicional de alimentos, em especial farinha e tapioca. Sua fécula pode ser usada na confecção de muitos tipos de bolos, pães e massas. Mais recentemente, passou a ser utilizada na produção de snacks, chips, na indústria de xaropes para sorvetes e até na indústria farmacêutica, na de celulose, cosméticos e têxtil. “Pessoas com restrições alimentares normalmente se beneficiam do consumo. Ela não contém glúten, grãos e castanhas. Fonte expressiva de carboidratos, fornece fibras, vitaminas e minerais como a B1, fósforo, cálcio, B2 e betacaroteno”, explica a nutricionista Lígia de Oliveira.COntudo, quem busca os benefícios nutricionais precisa ter alguns cuidados. Os métodos de processamento, como farinhas, diminuem o teor nutricional e aumentam seu valor calórico. Outro fator importante é a forma de preparação do produto – mandioca frita, por exemplo, está proibida para quem não quer engordar. “A mandioca deve ser consumida cozida, tanto para otimizar a absorção de nutrientes como para emagrecimento. Quanto mais processada, maior a quantidade de carboidrato disponível”, orienta Lígia.Ter em mente o objetivo do uso do produto também faz toda a diferença. Para dietas de baixa caloria, por exemplo, a batata tem vantagens sobre a mandioca. “No contexto de se retirar um alimento inflamatório, como o trigo, para tratamentos intestinais e autoimunes, a mandioca pode ser uma vantagem. Mas, quando pensamos em emagrecimento e a comparamos uma batata, a segunda opção seria melhor por conter menos carboidratos”, compara a nutricionista.A raiz tem papel importante para o fortalecimento dos ossos e também para a produção de colágeno. É rica em ácido fólico, ideal para grávidas. Ela também ajuda na proteção de cartilagens e tecidos em geral. Fonte de energia, ela é aliada de quem pratica atividade física ou precisa de mais gás para enfrentar o cotidiano. O ideal é que a mandioca faça parte do plano alimentar, substituindo outras fontes de carboidrato como arroz e macarrão. O único cuidado que os especialistas em nutrição alertam é que a quantidade deve ser levada em consideração. Por ser calórica, o consumo em excesso pode levar ao ganho de peso.Para provocar saciedadeConhecida também como macaxeira ou aipim em algumas regiões do Brasil, a mandioca é um alimento nativo da América do Sul, onde é cultivado desde a antiguidade. Uma de suas características mais importantes é que ela melhora o processo digestivo. O amido resistente que possui alimenta as bactérias benéficas da flora intestinal. “Ela é também uma fonte de carboidratos do bem que, por conter fibras, é absorvido mais lentamente, proporcionando maior saciedade e evitando picos glicêmicos, ou seja, aumento brusco de açúcar no sangue”, explica a nutricionista Laís Bittencourt.A principal recomendação dos especialistas é jamais consumir mandioca crua, pois pode provocar intoxicação por cianeto e causar sintomas como vômito, enjoo, dores de estômago e de cabeça. Sobre a fama de causar ganho de peso, a nutricionista explica que é preciso desmistificar as coisas. “Não existe alimento isolado que engorde ou emagreça. O emagrecimento é alcançado por meio de um equilíbrio e mudanças de hábitos. Se a mandioca estiver inserida nesse contexto de equilíbrio e na soma final permitir que haja o déficit calórico, necessário para o emagrecimento, ela pode, sim, estar inserida nas dietas”, explica.Por ser rica em polifenóis e saponinos, substâncias que têm ação anti-inflamatória e analgésica, seu consumo ajuda ainda a combater a artrite e aliviar seus sintomas. Outro benefício é que o alimento é rico em fósforo, que ajuda a combater o cansaço e a fadiga, e cálcio, que melhora a saúde óssea. Por todos esses predicados, a mandioca realmente merece uma saudação.