A presença de um profissional da cultura que garante participação técnica como titular da Secretaria de Estado da Cultura (Secult Goiás) veio em boa hora para a classe artística goiana, uma das mais atingidas pela pandemia nos últimos dois anos. Trabalhador da área há mais de 20 anos, Marcelo Carneiro é captador de recursos e membro da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, especializado em leis de incentivo com formação em ciências econômicas. Natural de Ipameri, cidade do Sudeste Goiano, o mais novo secretário tem muito trabalho à frente da Pasta. Em sua primeira semana de gestão à frente da Secult Goiás, Carneiro concedeu entrevista ao POPULAR para falar sobre desafios, mecanismos de incentivo e projetos do Estado.O senhor tomou posse no início da semana. Como tem sido os primeiros dias de gestão?Então, eu tomei posse na segunda-feira (2), mas o meu primeiro dia de trabalho foi na terça-feira de manhã. O momento agora é de tomar pé de todas as ações e projetos estabelecidos pelo Estado. Os que estão em andamento são muitos, além dos três grandes eventos previstos pelo governo, que são o Fica, o TeNpo e o Canto da Primavera. Tem ainda as Cavalhadas, que neste ano está em 12 cidades e já começa no início de junho. A Secult está envolvida também na realização ou no apoio. Há ainda a Festa do Divino. Ao mesmo tempo, há ainda reformas em prédios públicos, como em teatros, com a verba de aproximadamente R$ 33 milhões. Venho tomando pé aos poucos, fazendo reuniões. São conversas rápidas. O momento é de se ambientar para buscar um norte. Quais os maiores desafios para 2022, ano que já está correndo, de retomada, além das eleições estaduais e presenciais?Realmente 2022 é um ano atípico de eleição. Nós já estamos a seis meses da eleição e o ano já está quase na metade. Acredito que um dos maiores desafios é realizar bem os eventos e sua implementação, porque eles já estão sendo organizados e são projetos grandes. Ao mesmo tempo, recebemos a informação nesta semana do veto presidencial da Lei Aldir Blanc 2, um recurso importantíssimo para a classe artística e para os trabalhadores da cultura. Mas a gente aguarda e tem esperança de que o veto seja revogado. Para além desses desafios, há ainda os próximos editais do Fundo de Arte e Cultura e o edital em andamento da Lei Goyazes.Como fazer, de fato, que a política cultural circule em todo o Estado?A intenção é que os recursos cheguem ao interior goiano, que é uma orientação do próprio governador. Quero usar minha experiência profissional para contribuir, meu desejo é sempre fazer política, a política cultural de fato. É o que me interessa, discutir os caminhos de todos os segmentos e a aplicação dos recursos. É uma das maiores dificuldades entre as gestões públicas, não apenas em Goiás, mas em todo o Brasil, em âmbito federal também. É preciso que os recursos sejam aplicados tanto para projetos maiores e que possuem mais nome, quanto para aqueles que possuem maiores dificuldades de receber dinheiro, como na pesquisa e na linguagem. O primeiro passo é discutir internamente de uma forma mais colaborativa para que possamos pensar em um conceito mais amplo, em uma comunicação transparente e efetiva com a sociedade. Existe um caminho norteador que a classe artística possa esperar em relação à sua gestão?Então, tomei posse há poucos dias, mas venho conhecendo o ambiente do mercado cultural há muitos anos. O governo tem suas demandas, a sociedade tem suas demandas. É preciso criar um norte para harmonizar essas duas frentes para se construir um conceito de política cultural. Mais uma vez o Fica está acontecendo com um cronograma corrido. Pretende começar a planejar e executar o próximo Fica ainda no segundo semestre?Sim, isso até foi objeto de uma reunião que aconteceu nesta semana com o coordenador-geral do Fica, Wellington Dias. Ele já vem há muito tempo trabalhando na edição, e eu cheguei agora aqui, né? O que está sendo mirado é a organização da edição deste ano, mas, a partir do momento que for finalizado, é necessário que já se comece a pensar no próximo, com antecedência, porque existe a parceria construída entre Secult e Sesc, em realização conjunta. E um projeto desse porte, com esse tamanho, precisa começar a ser pensado no ano anterior com toda a certeza. A Lei Goyazes retornou, mas abriu brecha no artigo 17 para projetos “excepcionais”, que não seguem os trâmites usuais da lei. Pretende reavaliar a questão?Isso está na pauta da discussão interna. Nesses poucos dias de gestão já colocamos a questão em discussão. Os números e as informações foram solicitadas para discutirmos todo o contexto atual da Lei Goyazes e a forma como ela se direciona. É como já disse anteriormente: existem esses projetos da excepcionalidade, projetos de relevância para que cheguem a diversas comunidades, mas é preciso uma análise, orientação, para detectar diversos pontos e comunicar melhor com a classe artística. Nós estamos discutindo, está bem intenso por aqui nesses poucos dias de gestão. É preciso uma avaliação mais aprofundada. O Fundo de Arte e Cultura (FAC) originalmente fazia jus a 0,5% da receita líquida do Estado, uma norma que foi revogada por este governo. Agora, há um edital de R$ 10 milhões prometido? Existe uma perspectiva de aumento de recursos?Sobre essa questão de aumento da perspectiva de recursos, eu ainda não consegui conversar a respeito, porque é um ambiente de orçamento junto com a Secretaria de Economia. O Estado está dentro de um regime de recuperação fiscal. Na prática, vamos buscar compreender e conversar internamente, mas já existe esse recurso específico para o FAC para trabalharmos. Sabemos que as demandas são grandes e precisamos caminhar dentro de uma estratégia específica. Já temos duas leis federais, a Aldir Blanc 2 e a Paulo Gustavo, a Lei Goyazes, o FAC, mesmo com recurso um pouco mais reduzido que os federais, o preparo tem de ser muito grande e intenso, porque temos esses meses para desenvolver tudo isso. Eu acredito que a partir de agora, na Câmara dos Deputados, já começou a tramitar a questão a respeito do veto presidencial. Nós temos um conjunto de mecanismos e de recursos para que possamos trabalhar e, principalmente, aprimorar. Alguns patrimônios públicos estão em fase de revitalização, a exemplo do Teatro Pompeu Pina, em Pirenópolis, e o Palácio Conde dos Arcos, em Goiás. Quais as expectativas para os restauros?Os relatórios desses espaços que tem R$ 33 milhões ainda estão chegando para mim. Tem a restauração do teatro de Pirenópolis, o Pompeu Pina, que o governo já autorizou a reforma com cerca de R$ 2,5 milhões. É um projeto que tem a previsão de sediar eventos, mas também de receber uma unidade do colégio do Tecnológico. Todos esses espaços estão em tratativas para as reformas, inclusive o Centro Cultural Marieta Telles está dentro do conjunto. É o espaço onde a Secult é ocupada. Eu ainda preciso tomar pé de cada um para ter todas as informações necessárias. Quais os maiores obstáculos quando se fala em ocupação permanente de espaços culturais, como o Teatro Goiânia, o Museu Ferroviário de Pires do Rio, a Vila Cultural Cora Coralina e Teatro São Joaquim?Já tivemos um ponto de conversa que é sobre a questão da ocupação, porque isso chega em uma demanda da sociedade de como ocupar os espaços públicos. Isso aí eu vou ter de sentar para discutir as formas, porque para ocupar os espaços é preciso recursos ou um aproveitamento de projetos que o próprio Estado patrocina ou apoia. Isso tem de ser objeto de planejamento, de uma análise um pouco mais apurada para perceber o que se pode fazer ao longo do tempo. Uma pergunta que eu sempre faço é como trabalhar melhor os projetos que estão sendo patrocinados ou sendo executados junto com o Estado de Goiás, ou por que não há uma ocupação efetiva, completa. Vai ter de ser objeto mesmo de análise interna para pontuar um pouco mais adiante.