Ao assistir pela primeira vez ao videoclipe, nem os próprios autores da canção acreditaram no resultado final. A música Nós Fiéis, de Gustavo Veiga e Carlos Brandão, ganhou um belo registro audiovisual pelas mãos das diretoras Ana Aquino e Meg Gaertner. Entre os 12 trabalhos do gênero selecionados pela curadoria da primeira edição da Mostra de Videoclipes do 22º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), Nós Fiéis se consagrou como o favorito do júri.A trajetória do trabalho - parte de uma trilogia com dois clipes ainda a serem lançados - é um termômetro da efervescência do mercado de videoclipes em Goiás. Novas produtoras, diretores e videomakers têm produzido como nunca para artistas das mais diversas vertentes musicais. Com um cenário de produção mais democrático, onde qualquer um com uma câmera digital pode realizar um videoclipe, o formato foi impulsionado, mas ainda enfrenta desafios para a profissionalização e, principalmente, para se tornar uma atividade rentável.“Estudo roteiros há algum tempo e sempre fui encantada com a obra do Gustavo Veiga e do Carlos Brandão. Há alguns anos, escrevi um roteiro, mostrei para o Gustavo e pedi autorização para gravar um videoclipe. Ele topou na hora. Acabei estreitando o relacionamento, conhecendo mais a obra, e decidimos fazer uma trilogia com as músicas O Rio, Nós Fiéis e De Dois”, conta Ana Aquino, que é proprietária da Aviva Produções. Parte do trabalho que venceu o Fica foi bancado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Goiânia, mas foi necessário grande investimento da produtora de Ana, que se cercou de uma equipe profissional com nomes como o da cineasta Meg Gaertner e o do diretor de fotografia Kleber J.“Sou bastante suspeito, mas acho que esse clipe é o mais bem feito na chamada MPB goiana”, avalia Carlos Brandão. Para Gustavo, a qualidade da produção se tornou um cartão de visitas importante de sua obra. Apesar de Nós Fiéis ser uma composição de 1979, a versão do clipe ganhou novo arranjo do maestro Jaime Alem, conhecido por seu trabalho com a cantora Maria Bethânia. Ele também assinou a direção musical do clipe. “A música vai estar no meu novo disco, Dois Universos, que será lançado ainda este semestre. O sucesso do clipe é mais uma vitória da música goiana”, comemora Gustavo.Entre os profissionais da área, há consenso de que o ramo da música, que costumava ser mais focado no áudio, transformou-se em um ramo do audiovisual. Há até quem afirme que o foco hoje é o visual de áudio, ou seja, sem um videoclipe bem produzido as chances de sucesso de um artista são quase nulas. “Hoje, o primeiro contato que as pessoas têm com a música é por meio do clipe”, explica o diretor Larry Machado, de 31 anos, da Dafuq Filmes. A produtora é uma das mais requisitadas de Goiânia e tem no portfólio trabalhos de bandas e artistas como Boogarins, Carne Doce e Fábio Chock. Assim como a maior parte dos profissionais da área na cidade, Larry começou no mercado de filmagem de casamentos, aniversários e eventos sociais.Ao cursar Cinema e Audiovisual na UEG, ele deu uma guinada na carreira e passou a trabalhar com cinema, produzir curtas e longas-metragens e também videoclipes para as bandas que gostava na época, em um esquema de parceria. De trabalho em trabalho, a coisa foi se profissionalizando. Atualmente, ele atende clientes diversos, de bandas independentes a youtubers e cantores populares como Nilson Neto. O clipe de Show de Solteiro, por exemplo, que teve Larry Machado como diretor de fotografia, já ultrapassou as 4 milhões de visualizações no YouTube. “É um mercado que a gente aposta e acredita no crescimento”, explica o diretor.Movimento em ascensãoDe um lado, a experiência na empresa da mãe que filmava casamentos e eventos sociais. Do outro, a vontade de dar visibilidade a uma cena pouco vista em Goiás: a do rap e a do funk. Foi assim que nasceu o embrião da produtora Cena Meia Dois que desde 2016 já colocou no ar mais de 100 videoclipes, em sua maioria, para artistas goianos. Apesar de reduzida, a equipe é extremamente produtiva. A frente da empreitada o diretor Mateo David, de 27 anos, que tem como referências na área fenômenos como Mess Santos e Kondzilla.O clipe Patrão Gigante, do MC Lozin e MC Guguinha, realizado em parceria com a GR6 Filmes, foi o primeiro a bater a barreira de 1 milhão de visualizações no YouTube da Cena Meia Dois. "Desde então, passou a surgir muitos clientes inclusive de outros gêneros como o sertanejo e o funkenejo", explica. O clipe de Amor Sem Amor da dupla PH e Michel com participação de Dan Lellis, por exemplo, já passou das 3 milhões de visualizações no YouTube. “Há uma demanda enorme de artistas que compreendem a necessidade de um bom produto audiovisual para fazer sua música chegar até o público”, explica. Pedras no caminhoApesar da proliferação de produtoras de audiovisual em Goiânia, o videoclipe assim como o cinema esbarra na questão dos custos. Artistas em início de carreira normalmente não têm recursos suficientes para bancar uma boa produção. Até mesmo entre sertanejos consolidados, a opção por colocar na internet registros ao vivo de shows é mais comum e mais barata do que a produção de um videoclipe. Um dos marcos dessa trajetória foi o sucesso nacional da Banda Uó que ficou conhecida após o clipe gravado em Goiânia Shake de Amor, com direção de Mateus Carrilho, conquistar a internet em 2011.Confira o clipe "Nós Féis"-Imagem (Image_1.2383433)