As lendas da mulher que se transformava em onça, do espírito guardião da fauna e da flora que virava sucuri e do peão que conseguia trazer os bois mais selvagens da região na base do feitiço. Há mais de 30 anos essas histórias foram contadas no meio de um paraíso na novela Pantanal, assinada por Benedito Ruy Barbosa, na extinta TV Manchete. Em uma nova versão escrita pelo autor Bruno Luperi, com direção artística de Rogério Gomes, um dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira ganha uma nova versão e estreia nesta segunda-feira (28) na faixa das nove da Rede Globo.“O Pantanal resgata heróis. É uma característica muito forte da obra do meu avô, que tem um caráter épico e fala sobre valores com personagens fortes e inspiradores. O José Leôncio é uma figura que te inspira, que te faz acreditar que o mundo pode ser melhor, que existem pessoas que são corretas, dignas. Ainda assim, ele comete seus erros. A novela também tem esse caráter humano, que é o que mais me move, porque provoca empatia. Ninguém é perfeito. A possibilidade de se apaixonar e odiar o protagonista e o antagonista é real”, comenta na coletiva de imprensa o autor Bruno Luperi.Bruno Luperi recebeu o desafio para reescrever a trama no final de 2019, após ganhar a bênção de Benedito Ruy Barbosa. Ele contou com trocas de conselhos e opiniões diretas do avô na construção do roteiro. Como toda adaptação, a história original passa por mudanças e atualizações necessárias para conversarem com uma geração que assistirá à trama pela primeira vez. Não foram alterações apenas no texto, mas também nas imagens que serão atualizadas, já que ele conta com recursos tecnológicos que não existiam nos anos 1990, como câmeras menores para captações dentro d’água e drones.O remake traz quatro atores remanescentes da trama original. Marcos Palmeira encara o desafio de viver José Leôncio na última fase – papel que foi de Cláudio Marzo (1940-2015). Antes, Drico Alves e Renato Góes interpretam o personagem. Em 1990, o ator interpretou Tadeu, filho do protagonista com Filó (Jussara Freire). Enrique Diaz aparece em uma participação especial, assim como aconteceu na primeira versão. Ele viverá Gilberto (eternizado por José Dumont), marido de Maria Marruá (Juliana Paes) e que será morto por grileiros. Na Manchete, ele foi Francisco, filho de Gil.Completando a lista de retornos, Paulo Gorgulho ganhou dois personagens na Pantanal clássica: foi José Leôncio na juventude e depois o filho dele, José Lucas. Agora, o ator será o peão Ceci, o melhor amigo de Joventino, pai do protagonista. O violeiro Almir Sater fecha o elenco como o chalaneiro Eugênio. Nos anos 1990, ele interpretou Trindade, parceiro de Tibério, papel de Sérgio Reis. O artista também emprestou suas fazendas para as locações da nova adaptação do folhetim. Essas terras foram compradas há 30 anos, logo que as gravações, dirigidas por Jayme Monjardim, terminaram.HistóriaNo tronco central dessa jornada, repleta de dramas familiares e conflitos, está a história do velho Joventino (Irandhir Santos) e seu filho, José Leôncio. A lida como peão de comitiva os levou para o Pantanal, onde Joventino aprendeu a lição mais importante de sua vida: que a natureza pode mais do que o homem. Ele ficou conhecido na região por trazer os bois selvagens, os marruás, no feitiço. Na trama, ele desaparece sem deixar rastros, deixando o filho sozinho. O rapaz passa a cuidar da fazenda e, em uma viagem ao Rio de Janeiro, conhece Madeleine (Bruna Linzmeyer/Karine Teles) e se casa.Eles se mudam para o Pantanal onde nasce Jove (Jesuíta Barbosa). A passagem de Madeleine pela fazenda não é nada tranquila. Com saudade da vida urbana e da mansão de seus pais na cidade grande, a jovem não se acomoda àquela sina de solidão que é ser mulher de peão e decide voltar levando o filho de Leôncio ainda bebê. O menino cresce longe do pai, que jamais deixou de cumprir suas obrigações legais, enviando fielmente uma quantia generosa de pensão mensal. Na ausência de Jove, o fazendeiro encontra em Tadeu um herdeiro. Mais tarde, ele fica sabendo que o rapaz é seu filho com Filó.Duas décadas se passam marcando a mudança de fase na novela. Jove descobre que seu pai está vivo e vai a sua procura. Embora desejem profundamente viver a relação entre pai e filho, José Leôncio e Jove são confrontados por um abismo de diferenças culturais. O cenário pantaneiro abriga ainda o encontro entre Jove e Juma Marruá (Alanis Guillen). Filha de Maria Marruá e Gil, a jovem não abre a guarda para ninguém. Apesar da pouca idade, ela é uma mulher forte, que aprendeu com a mãe a se defender do “bicho homem”. Os dois acabam se atraindo e formando um inesperado casal na trama.Mulher-onçaO rosto de Alanis Guillén, de 23 anos, já apareceu nas novelas da Rede Globo antes. Ela atuou em Malhação – Toda Forma de Amar, temporada do folhetim teen que foi ao ar de 2019 a maio de 2020. A atriz interpretou a protagonista Rita, que teve a filha, Nina, retirada de seus braços logo após nascer. Depois da participação, ela foi selecionada para viver Juma Marruá, papel que foi de Cristiana Oliveira em 1990. A atriz quer evitar comparações com a primeira dona da personagem. “O maior desafio é me manter cada dia mais fiel a ela (Juma), a mim, aos meus sentimentos. Há toda essa comparação com a anterior. Quero fugir desse comparativo para ir para esse lugar onde a Juma quer me levar”, afirmou a artista.Sobre o grande desafio que terá pela frente, Alanis Guillén completou: “É inevitável se voltar para a primeira versão, entender esse universo. Eu não era nascida na época, não fazia ideia do que foi essa novela. Foi inevitável revisitar e entender. É uma novela diferente, em uma época diferente, um Brasil diferente. Não se manter apegado ao que foi é a melhor maneira de encontrar na gente como contar essa história. Focar no aqui e agora, nesses novos corpos. Aos poucos essa personagem veio ao meu corpo, a minha voz, aos meus gestos. No Pantanal, descobri mais desse universo”, disse a atriz durante coletiva de imprensa de divulgação de Pantanal.