Com o firme propósito de chegar aos 100 anos esbanjando vitalidade, o servidor público aposentado Álvaro Rubens Alves Vidal, de 77, não se descuida quando o assunto é saúde. Consultas e exames de rotina fazem parte de sua agenda. Foi em um desses exames que ele descobriu, em julho deste ano, um câncer de próstata. “Encontraram um pequeno nódulo e o médico pediu a biópsia. Com o resultado em mãos, decidimos partir para a cirurgia realizada em outubro”, conta.Ele tem consciência de que o diagnóstico precoce e o tratamento rápido aumentaram as suas chances de recuperação. “Graças a Deus, já me sinto ótimo, mas a cada seis meses tenho de voltar para avaliação”, explica. O aposentado é uma exceção no universo masculino. Uma pesquisa recente do Centro de Referência da Saúde do Homem, em São Paulo, mostrou que seis em cada dez homens têm medo de ir ao médico. A maioria alega falta de tempo ou paciência. E, muitas vezes, quando chegam ao consultório ou ao hospital, já estão doentes.A pandemia da Covid-19 parece ter agravado o problema. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), responsável pela campanha Novembro Azul, mês de conscientização sobre a saúde do homem, registrou queda de 21% nas biópsias e de 27% no exame de sangue para a detecção do câncer de próstata entre 2019 e 2020. Além disso, com a pandemia, números do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que as consultas urológicas diminuíram em 33,5%.Entre os especialistas, há um temor de retrocesso nos cuidados com a saúde masculina, em especial no que diz respeito à próstata. O urologista Rodrigo Alves Cruvinel explica que o homem é visto geralmente como viril, invulnerável e forte e, para muitos deles, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia associá-lo à fraqueza, medo e insegurança. “Outro fator é o medo da descoberta de uma doença grave. Mas não menos importante é o preconceito e a vergonha da exposição do seu corpo perante o profissional de saúde, particularmente a região anal, para a realização do toque retal”, explica.O Ministério da Saúde recomenda que até os 40 anos, se não houver sinais de doença, o homem vá ao médico pelo menos uma vez a cada dois anos. Depois dessa idade, a frequência deve aumentar para uma vez por ano. Os principais fatores de risco para a saúde masculina são: estresse, tabagismo, colesterol alto, hipertensão e esforço físico. “O início da avaliação do risco do câncer de próstata começa aos 50 anos, na população em geral com a dosagem no sangue do PSA (antígeno prostático) e o toque retal. Porém, nos indivíduos de raça negra, obesos mórbidos ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata, essa avaliação deve começar aos 45 anos”, explica Rodrigo.O médico ressalta que não se deve deixar de lado outras doenças importantes e de alta prevalência na população masculina, como as cardiovasculares, a hipertensão, o diabetes e as alterações do colesterol, que devem ser avaliadas com exames de sangue de rotina e outros exames específicos quando devidamente indicados.Medo fatal“O medo do homem de ir ao médico traz muitas consequências negativas. Doenças que poderiam ser curadas se descobertas em suas fases iniciais, levam muitos homens a sofrer de sequelas ou até mesmo morrer”, explica o urologista Bernardo Barreira. Para ele, campanhas como o Novembro Azul são essenciais para sensibilizar a sociedade sobre os problemas de saúde enfrentados pela população masculina. Todo homem a partir dos 45 anos deve se consultar com o urologista pelo menos uma vez ao ano. Nessa avaliação, o especialista solicita os exames complementares pertinentes a cada caso.O Novembro Azul surgiu no início dos anos 2000 como uma campanha para estimular os homens a cuidarem da sua saúde e rapidamente difundiu-se a ideia de prevenção e detecção precoce do câncer de próstata. “Claro que as doenças da próstata, especialmente o câncer, são o carro-chefe dessa campanha. Entretanto, o mais importante é consolidar na população masculina o hábito de cuidar da saúde de modo regular. O mês de novembro tem esse reforço da campanha, mas o paciente pode escolher qualquer mês do ano para realizar seus exames de rotina e manter os cuidados com a saúde. Isso é o mais importante”, destaca o urologista Rodrigo Lima. O recomendado é que o homem procure um urologista de confiança desde a juventude. Existem diversas doenças urológicas comuns em fases diferentes da vida.Pela mão das mulheresApesar do receio masculino de ir ao médico, o urologista Rodrigo Lima explica estar percebendo uma mudança de paradigma nos últimos anos, muito decorrente de campanhas de entidades de saúde e especialmente da Sociedade Brasileira de Urologia. “Costumo ver pacientes em consultório que desejam iniciar exames de check-up aos 40, 50 anos, e que tinham ido pela última vez a um médico quando eram crianças ou adolescentes, quando os pais ainda os levavam a um pediatra, por exemplo”, explica. Para ele, é preciso estimular os homens a terem um médico de confiança desde cedo e cuidarem da saúde.Muitos pacientes são levados ao consultório pelas esposas, namoradas, mães ou irmãs. Muitas vezes, as mulheres que tomam a iniciativa e agendam a consulta para os homens da família. “Existem pesquisas que mostram uma procura de consultas médicas pelo sexo feminino duas a três vezes maior do que pelos homens. Culturalmente, a mulher tem o hábito de cuidar da sua saúde desde mais jovem. Elas já estão acostumadas com esses cuidados e acabam estimulando e dando empurrãozinho para que os familiares ou cônjuges façam o mesmo”, ressalta o médico.-Imagem (1.2354592)