Para um setor que se baseia na coexistência de muitas pessoas em um mesmo espaço como é o cultural, 2020 foi o momento de aprender a utilizar a tecnologia a seu favor. No mundo das artes, as exposições virtuais foram a principal saída e colocou artistas e galeristas à prova. Quem ainda não estava familiarizado com o ambiente on-line, precisou aprender na marra – afinal, 2020 acabou, mas a pandemia não. O cenário para os próximos meses permanece mais ou menos igual; se alguns já estão investindo em modelos parte presencial, parte digital, o segundo formato permanece predominante até que o público consiga retornar plenamente com segurança.E que elementos podem ser incluídos em uma exposição que transponha a visita presencial e aporte em uma galeria on-line? É o que os 21 artistas convidados para o Ocupa Virtual, projeto da Galeria da FAV que começa na segunda-feira, vão mostrar. Glayson Arcanjo, professor da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás e coordenador da galeria, assina a curadoria da mostra e conta que os artistas terão total autonomia e liberdade para experimentações com o formato.“É uma ocupação porque eles assumem totalmente o controle do Instagram da galeria. A partir do momento que entregamos a ‘chave’ para eles – no caso, o login e a senha –, nós da equipe não entramos mais no espaço”, explica. Cada artista assume a rede social durante sete dias, apresentando trabalhos que foram produzidos especialmente para a mostra ou que já existiam anteriormente e estão sendo adaptados para o formato. Foto, vídeo, áudio, texto e o que mais o virtual puder oferecer são elementos que ficam a critério do expositor utilizar. “A gente não sabe o que cada um vai pôr ali. Nós, da galeria, também lidamos com essa expectativa”, revela.O público e os próprios artistas vão descobrindo, aos poucos, quem são os demais convidados e o que eles vão apresentar na mostra, que segue até julho. “Vamos divulgar gradativamente quem são os artistas participantes, à medida que eles vão ocupando”, conta. O POPULAR conseguiu um spoiler de cinco artistas entre os 21 confirmados: Hariel Revignet, Helô Sanvoy, Estevão Parreiras, Sophia Pinheiro e Adriano Braga. Para conhecer o restante, só ficando de olho. Nesta edição, Glayson priorizou artistas nascidos, residentes, atuantes ou que tenham alguma ligação com Goiás, especialmente com Goiânia.Dinâmica de grupoA galeria promoveu a primeira edição do Ocupa entre setembro e dezembro do ano passado com quatro artistas de outros Estados que tinham exposições marcadas no espaço ao longo de 2020. “Com a pandemia, adiamos, mas não cancelamos. Entre tantas ideias de exposição virtual, surgiu essa alternativa”, diz. A ocupação on-line foi um deslocamento da ideia de ocupação da galeria da qual já eram adeptos. “Foi uma espécie de teste, na verdade, onde entendemos o que funcionaria e o que não”, comenta.Diante do retorno positivo do público e da visibilidade dos artistas alcançada, a equipe decidiu seguir e ampliar a ideia em 2021. A dinâmica, segundo Glayson, é que os artistas não se prendam a planejamentos prévios, proposta que deu certo na primeira edição. “A partir do que os anteriores apresentaram, os artistas se reinventaram na sua vez. A própria dinâmica da publicação diária criou novos desafios entre eles”, explica. “E agora são mais, são 21. Cada um vai vir com uma proposta e, a partir desse jogo, vão pensando em coisas novas para a sua ocupação.”Reflexos e adaptaçãoImergir no digital tornou-se questão de sobrevivência para os trabalhadores da cultura. No maior estilo se vira nos 30, músico virou operador de câmera e técnico de transmissão ao vivo, produtor de eventos virou produtor de lives e quase todos se tornaram, em maior ou menor grau, instagrammers. Seguir os projetos paralisados, iniciar outros, repensar alguns pontos e adaptar todos. No caso da galeria, a chave para o período tem sido resgatar a relação com o público, agora também visto como seguidores.“Tanto os artistas quanto a própria galeria precisaram se reinventar. Eu nem tinha Instagram e a galeria tinha poucas publicações”, conta Glayson Arcanjo. Segundo ele, o perfil na rede social era um ponto frágil do espaço. “A gente olhava pouco para lá. Seguimos a ideia de experimentar o espaço com outros moldes de exposição e a resposta foi muito melhor do que a gente esperava. Os artistas propuseram coisas muito legais para repensar o espaço do perfil”, comenta.Alguns desses artistas também estão descobrindo agora o universo das redes sociais como espaço de trabalho. Além da dinâmica de troca de ideias e criações, o projeto pretende realizar bate-papos entre os participantes ao longo do Ocupa Virtual. “A proposta da curadoria não é só convidá-los. É também pensar as possíveis ligações entre esses artistas e promover encontros”, explica.-Imagem (Image_1.2200731)-Imagem (Image_1.2200732)-Imagem (Image_1.2200733)-Imagem (Image_1.2200734)