“E, de repente, havia nascido um pai”, recorda com carinho o bombeiro militar Frederico de Oliveira Domingos, 39, sobre o dia em que a sua pequena Elise chegou ao mundo. Há sete meses que a vida do goiano se transformou completamente: a rotina em casa e com a esposa, os hábitos familiares, a relação com o trabalho, com seus próprios pais e com o futuro que almeja para os próximos anos. “É como se a vida tivesse ganhado outro prisma”, diz.No Dia dos Pais, celebrado neste domingo (14), será a primeira vez que Frederico vai comemorar a data enquanto pai de primeira viagem. Ninguém ensina nada sobre a paternidade: não há curso nem prova, tudo é aprendido na marra, no dia a dia, entre noites mal dormidas e choros de bebê. No momento em que se fala tanto sobre a necessidade de pais presentes, em um País em que quase 12 milhões de mulheres brasileiras vivem a realidade da maternidade solo, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ser pai é uma questão de dever.“É sobre ressignificar o amor, ampliar o horizonte e entender o que os nossos próprios pais fizeram e fazem por nós”, adianta Frederico Oliveira, que tratou de ordenar sua rotina para estar presente durante todo o processo dos primeiros meses da bebê Elise. Pelas manhãs durante a semana, quando a esposa sai para resolver questões de trabalho, é o momento mais íntimo em que pai e filha têm para criar uma relação afetuosa e íntima.Frederico sempre sonhou em ter filhos, mas também achou importante escolher com quem tê-los. “Eu e minha mulher decidimos que daríamos um tempo de, no mínimo, dois anos após o casamento, para podermos curtir primeiro a vida a dois. Por isso acabei sendo pai só agora, aos 39 anos”, explica o bombeiro.Reflexo das transformações familiares brasileiras, o caso de Frederico Oliveira se assemelha ao de vários homens e mulheres que resolveram ter filhos um pouco mais tarde que o habitual de décadas atrás. A tendência, revista também em pesquisa do IBGE, aponta que os novos hábitos são sentidos desde o casamento:as pessoas tendem a se casar mais tarde e, consequentemente, têm filhos também após os 30 anos, idade de uma já possível estabilidade financeira.Foi com o sentimento de certeza que o engenheiro ambiental Deyvison Bonfim Antunes, 31, se tornou pai há pouco mais de um mês da pequena Maria Laura. "Foi um conjunto de coisas que foram acontecendo na minha vida e de minha esposa que nos propiciaram ter uma filha em 2022. Não digo que foi planejado, mas no início do ano paramos para pensar e sentimos que tinha chegado o momento", diz. Depois da chegada de Maria Laura, tudo se transformou na vida do engenheiro. "Mudou tudo, as relações pessoais, dedicação, eu enquanto profissional. O desafio é deixar as suas vontades para pensar no ser que você está tentando formar, ensinar, educar", diz Antunes, que agora se divide entre o trabalho, os afazeres domésticos e as idas a exames e consultas médicas ao lado da esposa e da filha. "A paternidade é um sacrifício e uma felicidade enorme, mas a maternidade é uma santificação. Eu até comentei com a minha mãe e minha sogra que toda mãe tinha que ser santificadas, porque a mãe é guerreira, mulheres fortes, abençoadas que conseguem nos dar esse suporte", salienta Antunes, que vai passar o primeiro dia dos pais junto da esposa, da mãe, do pai e dos sogros em um grande e tradicional almoço de família de domingo. De repente, papais Rápido como um foguete, o pequeno Lucas Miguel, 5, entrou na vida do casal Fagner Alves Moreira e Osvaldo Jeferson da Silva há três anos, após passarem pelo processo de adoção, com todos os pormenores do recurso, como cursos, exames e entrevistas com assistentes sociais. “Quando demos entrada, achávamos que demoraria para sair, mas foi veloz. Acredito que foi rápido porque colocamos que aceitaríamos grupo de irmãos”, explica Fagner.Da segunda visita até o abrigo, em São Paulo, o casal homoafetivo já tinha saído com os dois irmãos, Lucas Miguel, então com 2 anos, e João Vitor, de 13. “Vieram os dois, só que o João Vitor não se adaptou e decidiu voltar com menos de três meses. Passamos um sufoco pensando que perderíamos os dois. O juiz de São Paulo entendeu que o mais novo já tinha criado vínculos. Foi então que o nosso processo recomeçou”, conta.A batalha pela paternidade foi vencida: Lucas Miguel já vive com os dois pais há três anos, em uma relação fraterna de enfrentamento de preconceitos e estereótipos. Os pais são professores da Secretaria Estadual de Educação de Goiás. Fagner, mestre em História pela Universidade Estadual de Goiás, tenta educar o filho de maneira transparente e elucidativa. “Por mais que a gente ache que estamos preparados depois de esperar dez anos, somos pais de primeira viagem porque aprendemos todos os dias com o nosso filho. Cada fase é um desafio”, explica. Desde 2016 que diversas escolas da rede de ensino tentam transformar o Dia dos Pais no Dia da Família para promover inclusão e diversidade das novas conjunções familiares.Apertem os cintos!Confira aqui algumas dicas para os papais de primeira viagem Para verEm cartaz nos cinemas de Goiânia, o filme Papai é Pop, dirigido por Caíto Ortiz, conta a história de Tom (Lázaro Ramos), que vê sua vida mudar completamente ao se tornar pai. Aos poucos, junto com a esposa Elisa (Paolla Oliveira), ele vai aprendendo o significado da paternidade. Para ouvir Primeiro podcast focado na paternidade negra do Brasil, o podcast AfroPai trata por meio de episódios divertidos e elucidativos sobre negritude, ancestralidade e debatem experiencia de pais negros de primeira viagem. Está disponível em todas as plataformas digitais. Para ler No livro Como Nascem os Pais (Mescla Editora), o escritor Renato Kaufmann apresenta textos sobre o processo de tornar-se pai de forma apaixonada e ácida, com relatos de episódios aparentemente comuns na vida de qualquer pai participante. Leia também:- Menino veste uniforme para parabenizar pai gari, em Goiânia- Mais de 6% das crianças de Goiás são registradas sem nome do pai-Imagem (1.2509801)