Para a antropóloga Izabela Tamaso, professora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural, a polêmica em torno do pequi serve para chamar a atenção sobre a questão da desvalorização do patrimônio goiano. “É comum na história que eles só sejam reconhecidos quando correm risco. É a retórica da perda que acaba motivando as autoridades responsáveis”, explica. Para ela, a “batalha do pequi” travada entre Goiás e Minas Gerais envolve tanto aspectos culturais e simbólicos, quanto econômicos. “Nas últimas décadas, o mercado de bens alimentares tem revelado forte interesse em conquistar certificações de ‘qualidade’ e ‘origem do produto’. Vinhos, queijos, trufas, entre outros produtos, ganham valor ao serem certificados”, explica. É o caso do “queijo minas artesanal” do Serro, registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2008, como “patrimônio imaterial” e certificado, em 2011, como “Indicação Geográfica” pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), em 2011.Ter um “pequi goiano” pode ser mais do que motivo de orgulho. Izabela lembra que o fato de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso terem sido áreas invadidas e colonizadas pelos bandeirantes paulistas faz com que os Estados tenham realmente em comum hábitos alimentares, expressões linguísticas e sotaques. Mas em Goiás, o pequi parece ter um valor diferente. “Não é apenas o pequi que se partilha quando se come arroz com pequi. O que é partilhado são estilos alimentares considerados como elementos complexos e estratégicos na construção das identidades locais e regionais, ao mesmo tempo que se partilha o senso de pertencer à uma comunidade”, destaca. A antropóloga prevê um movimento político-cultural de reconhecimento do pequi como produto da área geográfica compreendida pelo bioma Cerrado e, quem sabe, como patrimônio imaterial alimentar nacional.