Essa “língua específica” de Goiás não desperta interesse apenas de quem quer fazer graça. Por meio do projeto de pesquisa Português Contemporâneo Falado em Goiás – Fala Goiana, professores e alunos da Faculdade de Letras da UFG se debruçaram sobre esse aspecto. Desde o ano de 2003, o tema é estudado no âmbito do Grupo de Estudos Funcionalistas (GEF), contemplando questões gramaticais, lexicais e semânticas a respeito da fala goiana e suas especificidades.Liderados pela professora Vânia Cristina Casseb-Galvão, levantamentos feitos com grupos de pessoas de três cidades do Estado revelaram algumas das expressões mais usadas em nossa fala cotidiana. Entre as conclusões que mais chamaram a atenção dos pesquisadores foi o uso consolidado de expressões como “tem base?”, no sentido de ser uma pergunta a respeito da pertinência de determinado fato ou ação, e “quando dá fé”, que denota, numa narração, a descrição de algo que aconteceu de repente.Outro elemento apontado foi o uso adaptado de determinados verbos, como o “olhar”, que foi detalhado na tese de doutorado de um dos participantes da pesquisa, o professor Leoasmar Aparecido Silva. Ele ressalta que este verbo passou a ser usado para pedir atenção a algo, reduzindo-se e modificando-se, muitas vezes, para a forma imperativa: “olha!” E esse olha, na linguagem coloquial, foi reduzido para um simples “ó”, empregado como advertência ou anúncio – “ó como fala comigo” ou “ó o leite!”.O verbo olhar passa por processos de ressignificação na fala cotidiana. “Olhar torto”, de acordo com a pesquisa, demonstra que ele passa a ser usado como qualificativo, podendo ser encontrado com frequência até como uma interjeição, a introdução a uma informação que o enunciador considera importante: “olha, vou te contar um segredo”. O pouco emprego de pronomes reflexivos também atesta uma fala coloquial mais direta. Em Goiás, a pessoa não “se perde”; ela simplesmente “perde” em algum lugar.Em 2013, O POPULAR encomendou uma pesquisa sobre a identidade goiana e entre os temas estava a nossa forma de falar. No levantamento, foi pedido aos entrevistados que listassem elementos típicos que mais repetiam em sua linguagem. Palavras como “uai”, “trem”, “ocê” e “sô” foram alguma das mais citadas, assim como expressões do tipo “bão demais da conta” e “Vixe Maria!”. Na época, o cantor Leonardo foi apontado como um goiano típico, justamente por fazer uso frequente do goianês.