Antes de se mudarem de vez para Goiânia, o lugar preferido dos irmãos Vitório, 9 anos, e Diogo, 6, era a PanáPaná, uma pequenina e charmosa livraria localizada em São Paulo e cujas prateleiras são ocupadas exclusivamente por títulos infantis. Hoje, depois de um plot twist para leitor nenhum botar defeito, a predileção pela literatura segue ainda mais forte. É que em 2017 os dois vieram de mala e cuia para Goiânia, onde vivem, literalmente, entre histórias e universos encantados, em uma espécie de extensão da livraria paulista. Tudo porque a mãe dos meninos, a então consultora financeira Melissa Pome, 38 anos, decidiu mudar-se e semear em terras goianas a cultura transformadora da leitura.Assim nasceu a Pomar Livraria e Brinquedos, um reduto, escondido no Setor Sul, pensado para pequenos leitores e para os pais que carregam a bandeira do poder modificador da leitura. Além de títulos da cena independente, o local oferece uma programação de atividades pensada tanto para as crianças quanto para os adultos. “Fui uma jovem que lia muito e acabei encontrando nas livrarias um ambiente extremamente prazeroso. Depois do nascimento dos meninos, entendi de fato o valor de lugares que aproximassem as famílias da literatura, seja por meio de livros diferenciados, brincadeiras educativas ou atividades lúdicas. Assim, além de leitores, formamos verdadeiros mediadores.”Segundo Cristovão Giovani Burgarelli, professor da Faculdade de Educação da UFG, o papel dos mediadores, também chamados facilitadores, é fundamental para a criação de intimidade entre crianças e livros. “Mais do que colocar os pequenos em contato com as obras literárias, é preciso que pais e professores criem ambientes propícios para a leitura, determinem um momento para aquela atividade e abram espaço para diálogos sobre o que foi lido. Mas, para isso, é preciso que os adultos leiam também e entendam que todas as áreas se dizem pela linguagem”, defende.Livre demandaPensando em enriquecer o repertório dos pais, e facilitar essa mediação, a Pomar aposta em novos nomes da literatura infantil, assim como em novas formas de contar histórias já consagradas. “Prezo muito por uma curadoria cuidadosa e por isso não me canso de comemorar a reoxigenação da cena literária infantil. Além de um conteúdo engajado e cheio de propósito, há no mercado bons livros para todas as idades e gostos. E aqui vale lembrar que a criança faz diferentes leituras ao longo da vida. Primeiro, essa leitura é tátil e puramente sensorial, depois é visual e auditiva e só depois interpretativa, de fato”, pontua Melissa, representante entusiasmada do grupo que adora embrulhar livros para presente.Assim, depois de muitas datas comemorativas, na casa dos Pomes as telas cederam lugar aos livros. “Vitório e Diogo quase não assistem televisão, não têm videogame ou tablet. O acesso à tecnologia é monitorado, mas nunca demonizado. No mercado, já temos, por exemplo, livros que interagem com o celular e isso é uma ótima forma de usarmos a modernidade a nosso favor. Como ganhos consideráveis no dia a dia dos meninos, posso apontar uma maior facilidade de comunicação, a intensificação do desenvolvimento social e cognitivo, o estímulo da criatividade, a evolução da inteligência emocional e a facilidade de criar histórias e correlacionar fatos”, analisa Melissa.Diante de tantos benefícios, Cristovão Giovani destaca a necessidade da criação de projetos de leitura com caráter social e coletivo – seja por iniciativas públicas ou privadas –, estabelecendo como meta a formação de leitores que se interessem de forma genuína, e não obrigatória, pelos livros. “Precisamos criar uma atmosfera que atraia crianças e adolescentes para a literatura, formando assim cidadãos mais críticos, empáticos e preparados. Por isso é tão importante discutirmos também a elaboração dos projetos pedagógicos nas escolas e o espaço dado às ações que estimulem a leitura. Nesse sentido, também é preciso trazer para o debate os riscos de um ensino gerencialista e tecnicista.”