A longevidade é almejada por grande parte da sociedade, mas pensar o envelhecimento vai muito além da busca pelo “viver mais”. Manter-se ativo, praticar exercícios físicos e se alimentar bem já estão entre os pré-requisitos para envelhecer bem. Mas como estamos pensando a saúde mental dessa parcela da população? O POPULAR, a rádio CBN Goiânia e a TV Anhanguera inauguram neste sábado (13) mais uma série especial do projeto PsiQUÊ?, desta vez sobre os idosos.As pessoas estão, de fato, vivendo mais no Brasil: o IBGE aponta que a população idosa brasileira teve um aumento de quase 30% entre 2012 e 2019, e que a expectativa de vida subiu para 76,8 anos em 2020. Em 2021, uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que dos 210 milhões de brasileiros, 37,7 milhões têm mais de 60 anos. O desafio, então, passou a ser outro: não apenas viver mais, mas viver melhor por mais tempo.Em atividadeO ano era 2005. Aos 73 anos, Rita Araújo Valle começou a escrever seu primeiro livro. “Nunca estudei literatura nem nada. Me aposentei muito cedo e comecei a escrever quando meu marido morreu e tive que fazer terapia”, conta. Escrever era parte do processo de elaboração do luto, mas tornou-se uma grande parte da sua vida desde então. “Descobri uma oficina literária no Setor Pedro Ludovico, onde comecei a escrever minhas memórias. O pessoal gostou dos textos e lá me aconselharam a publicar”, lembra.Em 2019, a publicação do segundo livro, Estranha Criatura, se consolidou através de um programa da Prefeitura. “Não me considero escritora porque não trato como profissão. É um hobby meu, assim como o artesanato”, esclarece, mas admitindo que se trata de uma das atividades mais prazerosas que desenvolve no dia a dia.As atividades, inclusive, são muitas. Aos 90 anos, Rita faz aulas de inglês e de uma disciplina chamada História de Vida, oferecidas gratuitamente pelo programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), da PUC Goiás. A próxima língua que pretende estudar é o espanhol. Os cursos e a escrita dividem espaço com o artesanato, presente na sua vida desde sempre, segundo ela. “Abri um espaço chamado Sala das Meninas Arteiras, onde reúno minhas amigas três vezes por semana. Cada uma conta seus causos enquanto a gente borda, faz tricô e crochê”, conta. Ela aproveita o espaço e ocasião para ensinar bordado. “Acredito que o que a gente sabe precisa ser compartilhado”, observa.Manter-se ativa, para ela, está diretamente ligado à sua saúde física e mental. “Inclusive, quem tem uma das melhores memórias do meu grupo de amigas sou eu”, diz. “Precisamos estar sempre em atividade. Os encontros semanais com as amigas, por exemplo, é um momento para a gente sair de casa, contar nossas histórias, relembrar nossos amores, falar dos projetos, da família, das tristezas. É muito difícil as pessoas quererem escutar o idoso. E ali nos divertimos muito”, conta.Estigma“Hoje, a questão da saúde mental dos idosos está menos complicada, mas ainda é cercada de preconceito. Quando se diz que a pessoa não tem nenhuma doença física, mas que está ansiosa, angustiada ou com medo, é difícil que ela queira admitir”, comenta a psicanalista Carmen Bruder. Ela aponta que o estigma do cuidado com a saúde mental está, sim, presente em todas as fases da vida, mas que alguns fatores tornam o assunto ainda mais difícil de abordar no envelhecimento. “Desde que nascemos, nós começamos a morrer. Mas esse sentimento, de que nós estamos caminhando para a morte, se exacerba a partir da terceira idade”, aponta. No processo de envelhecimento, algumas dificuldades alteram o dia a dia das pessoas. “Dificuldades de audição, de visão, de falar o que está sentindo. E muitas vezes a pessoa não está preparada para envelhecer, o que não significa estar sarado ou fazer plásticas, mas sim entender que caminhamos para um fim”, comenta. Essa falta de entendimento do que consiste o processo de envelhecer é um dos fatores para a dificuldade de procurar ajuda psicológica, mesmo quando estão em sofrimento. A pandemia e, principalmente, o isolamento social cercaram essa parcela da população de novos medos e dificuldades. “O isolamento do idoso pela família, que por medo de contaminação o deixou confinado, foi muito ruim desse ponto de vista. Muitos deles, inclusive, não puderam esperar o fim da pandemia e não puderam contar com o afeto dos familiares. Essa quebra do convívio foi o pior preço que pagamos na pandemia”, observa.Leia também:- “A proibição não funciona”, diz especialista sobre adolescentes e o uso de eletrônicos- PsiQUÊ?: saúde mental exige atenção desde a infância- Pandemia incluenciou na hiperdigitalização dos adolescentes