Entender como a saúde mental em desequilíbrio pode afetar uma pessoa pode ajudar na hora de reconhecer que algo pode não estar indo bem e o momento de procurar ajuda profissional. “Uma maneira de pensar nos efeitos é o nível de incapacidade que um transtorno mental pode causar na vida de determinada pessoa. Em certa medida, todos apresentamos sintomas que podem ser menos ou mais patológicos. O que determina que a saúde já está comprometida são os sintomas persistentes, que levam a um comprometimento no cotidiano”, aponta a psicanalista Miriam Bueno. “É um leque muito extenso e somente um diagnóstico de um profissional da área irá determinar se já está instalado um transtorno. Temos o quadro da depressão, tão falada e comum atualmente, mas também sintomas como a dificuldade de corresponder ao que é solicitado, de cumprir demandas e prazos; uma angústia muito grande, uma ansiedade que vai interferir no estar no mundo”, comenta. “Essa pessoa não consegue estar bem no trabalho ou estudos, não corresponde nas relações interpessoais, apresenta comportamentos não habituais, o que gera conflitos nos relacionamentos”, continua.Esses sinais podem se intensificar e levar a quadros que precisam de um alerta maior. “Existem riscos de complicações maiores, como sintomas fóbico-ansiosos, como a síndrome do pânico, por exemplo. Temos o agravamento do uso de álcool e outras substâncias, transtornos como o estresse pós-traumático por conta da própria pandemia em pessoas que perderam pessoas queridas ou ficaram doentes”, exemplifica. “Partindo de um referencial da psicanálise, a gente entende que nós, humanos, estamos sempre em tentativa de nos organizar em relação àquilo que seriam nossas necessidades e demandas e aquilo que nos é imposto e solicitado”, comenta a psicanalista Márcia Marques Lopes de Oliveira. “Hoje em dia, temos alguns pontos que precisam ser levantados: o primeiro é que a saúde mental não se trata de um projeto individual. A nossa cultura tende a colocar no indivíduo a carga da responsabilidade pela sua condição, no sentido de proteger patologias que justifiquem qualquer tipo de sofrimento”, diz.Ela usa a condição de luto no contexto da pandemia como exemplo. “Se esse sujeito não está performando no máximo de seu desempenho após duas semanas, entende-se que ele está deprimido. Esse funcionamento da nossa sociedade, que tende a nomear como patologia algo que é da ordem do sofrimento humano até mesmo para desqualificar o sofrimento. Passa, então, a ser uma doença que precisa ser tratada para que você volte ao máximo da sua capacidade de desempenho”, explica.-Imagem (1.2418240)