A morte é uma das perdas mais significativas quando se fala em luto. “Tememos morrer e tememos que o ente querido morra. Durante a pandemia, tivemos perdas irreparáveis e nunca imagináveis, como as mortes súbitas”, comenta a psicóloga, psico-oncologista, terapeuta em perdas e paliativista, Edirrah Gorett Bucar Soares, autora do livro Conversando Sobre o Luto. “E há uma dificuldade tanto de pensar na morte, quanto de se preparar para ela — afinal, a única certeza que temos na vida é que vamos morrer”, diz.Falar sobre a morte ainda é um grande tabu. “Ninguém quer falar sobre morte. Acredito que os dois maiores tabus da nossa sociedade são falar de morte e de sexo, mas hoje em dia fala-se muito mais de sexo do que de morte”, aponta a especialista. O resultado de tanta restrição ao assunto é um impacto muito grande diante de uma perda.Mas por que temos tanta dificuldade de falar sobre morte? “Porque isso vem desde a infância. Os pais não têm coragem de explicar que um dia todos nós iremos morrer. Nas universidades, principalmente nas instituições de ensino da área da saúde, ensina-se a tratar e a curar o paciente, mas não prepara os profissionais para lidar com a morte”, diz Edirrah.A partir do grande impacto que a perda de um ente querido e a falta de preparo para essa situação gera, pode haver uma desestruturação da pessoa enlutada. “Então, a pessoa precisa se organizar novamente, e isso leva tempo”, comenta.DespedidaOutro aspecto importante gerado pelo período da pandemia é a questão da despedida, como ela destaca. “A morte súbita sem despedida acarreta uma intensidade maior do luto. Vivemos muito isso a partir do impedimento de velar os mortos por restrições da Covid-19”, diz.Sem o ritual do velório e da despedida do ente querido que morreu, há uma dificuldade de aceitação da realidade da perda. “Houve um aumento significativo de procuras nos consultórios por esse motivo”, comenta a especialista. Aqui, entra o processo do luto. “Esse processo começa na hora que se está ali, vendo a pessoa morta. E se chama processo porque o luto não é algo estático, ele caminha e possui uma oscilação natural de altos e baixos, de avanços e recuos. Ou seja, tem dias que a pessoa está bem e aceitando a realidade da perda, mas em outros não”, explica.ReaçõesA psicóloga aponta que essa oscilação dentro do processo de elaboração do luto é esperada. No caso de um luto recente, outras reações também estão entre as consideradas comuns do processo. “Dificuldade de atenção e concentração, perda de energia, alterações de apetite. Têm pessoas que engordam muito, outras emagrecem porque não conseguem comer”, comenta. As dores físicas também entram na lista. “Dor de cabeça, de estômago, no peito”, diz.Quanto às orientações de como reagir diante de uma pessoa que está enlutada, Edirrah cita o momento do velório como exemplo. “Se a pessoa não sabe o que dizer para o enlutado nesse momento, é melhor dar um abraço, um aperto de mão e ficar em silêncio do lado da pessoa. O silêncio muitas vezes é mais importante do que qualquer palavra e a pessoa entende que você está ali dando força e calor humano”, diz.A rede de apoio é fundamental para o processo de elaboração. “Nem todo luto precisará de acompanhamento de um profissional, mas muitas pessoas têm procurado nossa ajuda nesse momento atual pela intensidade do que estão vivendo”, comenta. “As redes de apoio que o enlutado pode procurar são os amigos, colegas de trabalho, a religião se ele seguir alguma, um profissional que entenda de luto e grupos de autoajuda”, diz.