Pescadores, canoas, o pôr do sol, montanhas, os ipês amarelos e roxos, os pássaros, os peixes. Por muitos anos, essas e tantas outras belezas do Rio Araguaia foram retratadas nas telas do artista plástico Amaury Menezes, de 88 anos, pintor goiano reconhecido por obras com paisagens urbanas e personagens do cotidiano. Nada passa despercebido ao seu olhar clínico formado nas mais de cinco décadas de ofício. As cenas foram captadas por ele mesmo durante pescarias que fazia com frequência com amigos no patrimônio afetivo goiano.“É um lugar que oferece diversas possibilidades artísticas. Quando eu ainda tinha forças e equilíbrio para subir num barco, captava imagens para pintar o lado mais urbano do rio e não somente o bucólico. Na realidade, eu sempre me preocupava muito mais em observar as belezas do lugar do que com uma possível puxada de linha da vara”, lembra Amaury, que fez as primeiras telas inspiradas no rio nos anos 1960. O Araguaia é uma combinação perfeita para profissionais da arte já que incorpora várias cores do Cerrado, tradição e memória.Assim como Amaury, vários outros artistas ilustraram o Araguaia nas suas telas, caso do pintor naïf Antônio Poteiro (1925-2010). Em suas obras, por exemplo, ele retratou o rio, pescadores, banhistas e fauna. A inspiração foi fruto de um longo período que o primitivista viveu entre os índios na Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo, na década de 1950, no Tocantins – na época, ainda pertencente a Goiás. Ao longo da carreira, Poteiro sempre apresentou temas variados desde a fauna do Pantanal a manifestações religiosas, abordados de maneira original.Uma característica na produção do Poteiro era retratar algo que nunca tinha visto com os próprios olhos, assim como o artista naïf Manoel Santos, 54 anos. Ele nunca foi no Araguaia e já fez telas do lugar a partir de comentários dos amigos que visitaram o rio e de reportagens. “O resto vem da minha imaginação”, conta o artista, que gosta de pintar animais e de passar nas suas telas mensagem de preservação. A fauna do Araguaia também faz parte do trabalho de Alessandra Teles, que gosta de captar os peixes e as tartarugas.Os momentos mais apreciados pelos artistas nas suas obras são os de diversão e da paisagem, cenas presentes nas obras dos naïfs Omar Souto, Lourdes de Deus e Helena Vasconcelos. Até mesmo quem tinha uma produção mais crítica rendeu-se ao rio, caso de Carlos Sena (1952-2015), conhecido pelos trabalhos figurativos. Em 1979, ele desenhou um índio de óculos passando férias no Araguaia. A tela, feita na técnica nanquim colorido e fricção de palha de aço, foi doada pelo pintor em 1989 ao Museu de Arte de Goiânia (MAG).Além das tintasO Araguaia também foi representado na música, por exemplo, em canções de Marcelo Barra (Araguaia), Juraildes da Cruz (Rio Araguaia), Chrystian & Ralf (Deusa do Araguaia), Tião Carreiro & Pardinho (Travessia do Araguaia), Maria Eugênia (Companheiro) e Leonardo (Garça Branca do Araguaia). Na literatura, o rio foi homenageado com publicações de nomes como de Carmo Bernardes e Guimarães Rosa. As belezas das águas ainda foram pano de fundo para novelas, como O Rei do Gado (1996) e Araguaia (2010), da Rede Globo.-Imagem (Image_1.1831249)-Imagem (Image_1.1831248)-Imagem (Image_1.1831250)-Imagem (Image_1.1831251)-Imagem (Image_1.1831252)