Ele se posiciona bem no set, decora falas com precisão e velocidade, expressa emoções, mas está longe de ser um ator convencional: esse é o Haroldo, o inusitado robô-personagem que acaba de integrar o elenco da novela Travessia. Os movimentos – potentes ou suaves, rápidos ou mais lentos –, assim como a emissão de frases e de sinais emotivos são resultado de protocolos digitais de comunicação enviados remotamente que foram desenvolvidos na Globo.Uma das tecnologias, em 2.4GHz, é responsável por controlar a locomoção. A outra, em 485MHz, encarrega-se da troca de dados na interação em cena, ou seja, frases sintetizadas e expressões faciais. Para o controle do robô, o time da Globo criou um aplicativo em Unit. Por ele, no set de gravação, o operador faz o disparo de voz e programa a troca de expressão, de acordo com o pedido da direção.Como esclarece João Rizzo, gerente de Efeitos Especiais da Globo, para o desenvolvimento das tecnologias de radiofrequência, foram utilizados protocolos de comunicação industriais, e, para o controle dos motores, adotou-se o módulo de interpolação programável. “Desse modo, além das funções autônomas, é possível ajustar os parâmetros de forma mais fácil e confiável, obtendo a regulação necessária para o robô atuar em cena”, afirma. Já quanto à aparência do robô, os profissionais, primeiramente, alinharam o conceito artístico e, então, desenharam mais de 20 ideias. Após definida a forma física ideal junto à direção da novela, o time partiu para a prototipagem.Haroldo acaba de ser integrado ao elenco da novela Travessia, que vem jogando luz a questões atuais envolvendo o uso de tecnologia. Simpático e gentil, ele é o novo funcionário do bar de Vila Isabel. A ideia foi de Nunes, personagem de Orã Figueiredo, proprietário do estabelecimento, com o intuito de tornar o negócio mais tecnológico. “O Haroldo não vai fazer uma revolução; ele é a revolução”, disparou no episódio de terça-feira (28 de novembro). O robô cheio de charme promete conquistar a clientela, colocando em xeque a preferência por Joel, interpretado por Nando Cunha, o colega de trabalho humano.Segundo Rizzo, a entrada de um robô como personagem na novela das nove deve acender o debate sobre a inserção de tecnologias no nosso dia a dia. “Os espectadores serão convidados a refletir sobre como as tecnologias estão incorporadas na nossa rotina e como elas podem nos ajudar a viver melhor. Além disso, a trama provocará a discussão sobre como profissões essencialmente humanas, como a de garçom, podem estabelecer diferentes relações com as novas tecnologias, um robô, por exemplo”, afirma.O projeto, liderado pelo time de Efeitos Especiais da Globo, conta com a participação de cerca de 25 profissionais, de diferentes perfis, sem contar o pessoal do artístico (produção, direção e até a autora, Gloria Perez). Entre a conceituação e a entrega final, foram seis meses de trabalho, de abril a outubro deste ano. Memes“Meus amigos... a revolução que eu prometi que fazia, está acontecendo hoje! Esse é o Haroldo!”, anuncia o personagem Nunes (Orã Figueiredo). A novidade na trama agradou alguns fãs e também trouxe memes e críticas nas redes sociais. “O robô tem mais carisma que a Jade Picon”, pontuou um terceiro internauta, que se identifica como Queridinho do Brookly (@brittotuita). “E a tecnologia voltou a ser destaque em Travessia! Gloria Perez sempre antenada nos lances”, disse outro, que usa o nome Ray (@RaaaySco).“Que circo que essa novela virou pelo amor de Deus! Eu não estava botando fé que realmente iam botar um robô garçom”, escreveu outro telespectador, chamado Delli (@dellipi13). Segundo a emissora, os clientes do bar farão fila para serem servidos pelo garçom-robô, que deixará Joel incomodado com sua presença no trabalho.A novela das nove da Globo estreou com 25,7 pontos de audiência, segundo dados preliminares da Kantar Ibope Media, na Grande São Paulo. Isso equivale a quase 3 pontos menos que o primeiro capítulo de Pantanal, antecessora no horário, que começou com 28,2 pontos e terminou com 34 no episódio final.