Se você é um diretor de cinema bem-sucedido e também um beatlemaníaco, poucos presentes podem ser tão legais quanto receber 56 horas de filmagem dos Beatles no estúdio e mais de 200 horas de áudio gravado, quase tudo material inédito. Esse tesouro caiu no colo de Peter Jackson. The Beatles: Get Back, série em três episódios que chega a quase nove horas de duração, é o novo trabalho do diretor de O Senhor dos Anéis. Cada parte começa a ser disponibilizada no Disney+ em dias seguidos, desde quinta-feira (25) até sábado (27). Depois, quem quiser – e aguentar – pode maratonar tudo de uma vez!A partir de um projeto de especial de TV sugerido por Paul McCartney e posteriormente abortado pelos Beatles, o resultado é um irresistível registro de momentos de criação de verdadeiros gênios do pop. Gravada numa época em que a estrutura interna da banda já começava a ruir, a série alimenta os fãs que podem acompanhar os Beatles em momentos tensos e em outros bem descontraídos. Tudo é mostrado em ordem cronológica, do primeiro dia de trabalho, em 2 de janeiro de 1969, até o último dia do mesmo mês.Nas primeiras semanas, a tensão entre George Harrison e John Lennon se mostra inegável. Lennon desprezava o talento do colega como compositor. Depois de uns dias fora do estúdio para esfriar a cabeça, Harrison retornou para as duas últimas semanas de trabalho e trouxe com ele o excepcional tecladista Billy Preston, amigo do grupo e também participante de álbuns dos Rolling Stones. A estratégia foi acertada. A presença de um elemento de fora da equipe habitual levou um pouco mais de tranquilidade ao ambiente.Nos últimos dez dias de estúdio, os Beatles que aparecem na tela estão se divertindo, apesar de momentos de extremo cansaço que provocam uma ou outra rusga. Eles brincam, fazem palhaçadas e poses, trocam letras das músicas com a inclusão de piadas, tudo diante das câmeras comandadas pelo diretor Michael Lindsay-Hogg. Lennon e Ringo Starr são os que mais interagem com as lentes.É bom entender as circunstâncias dessas gravações. Exaustos de turnês pelo mundo, os Beatles decidiram parar de fazer shows em 1966, para trabalhar apenas na gravação de álbuns. Veio então uma série de obras impecáveis, como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967, e The Beatles, de 1968, o LP duplo conhecido como Álbum Branco.Mas, no final de 1968, Paul McCartney estava com saudade de tocar ao vivo, ou pelo menos gravar no estúdio com todo mundo tocando junto, como eles tinham feito no primeiro álbum da banda, Please Please Me, de 1963, produzido em um único dia. Decidiram então preparar novas músicas para o especial de TV e filmar tudo. O nome do projeto era Get Back.No meio do caminho, apareceu a ideia de registrar um show, com a sugestão maluca de tocar no telhado do prédio da gravadora deles, a Apple, no dia 30 de janeiro. Nessa data, os Beatles fizeram sua última apresentação pública juntos.Sem aviso prévio, tocaram durante 42 minutos no alto do prédio, provocando uma aglomeração nas estreitas ruas londrinas, com fãs apinhados nos prédios ao redor.Uma versão editada do show é conhecida há 50 anos, mas no material de Jackson é possível ver o show completo, com todas as etapas de produção, e acompanhar de uma maneira mais detalhada a tentativa da polícia de intervir para interromper a apresentação.