Quinze trabalhos, entre desenhos e pinturas, da série do Césio 137, de Siron Franco, integram a exposição coletiva A Máquina do Mundo: A Arte e Indústria no Brasil 1901 - 2021, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo até 22 de fevereiro de 2022. A mostra examina as várias maneiras pelas quais a indústria impacta a produção de artistas no cenário nacional desde o início do século passado, numa perspectiva inédita sobre os últimos 120 anos da história da arte brasileira. A curadoria é de José Augusto Ribeiro, que reuniu cerca de 250 obras de mais de 100 nomes, vindas de diferentes acervos e coleções.“Foi uma coleção bastante dramática de fazer na época. Você não sabia se estava contaminado também. Foi algo muito maluco. É uma série que nasceu ali e terminou no mesmo período, algo engraçado nas artes plásticas, porque nem sempre é assim, com início, meio e fim. Naquela época, tudo que acontecia eu registrava e ainda tem a questão do afeto, já que tudo começou no Bairro Popular onde morei quando cheguei em Goiânia. Uma TV italiana ficou no meu ateliê acompanhando durante um mês tudo o que eu produzia”, lembra Siron, que cedeu alguns desenhos para a mostra em São Paulo.Os desenhos rememoram a tragédia radiológica da capital, em 1987, em que moradores entraram em contato com césio 137 de um aparelho descartado erroneamente no lixo. Simultaneamente, Siron iniciou uma coleção retratando o tema e que rapidamente se tornou uma das mais aplaudidas da sua carreira pela crítica especializada. A produção engloba cerca de 110 pinturas sobre papel, desenhos e objetos, como camas hospitalares feitas de ferro oxidado. Uma parte da série também pode ser conhecida no acervo do Museu de Arte de Goiânia (MAG), para onde foi doada em setembro de 2013.Os quadros da série, como definiu a crítica de arte Dawn Ades, que escreveu um livro sobre o pintor, são uma “Guernica Brasileira”, pois, segundo ela, capturam a essência do ocorrido com maestria. Em 2018, um conjunto dessa produção histórica foi selecionado na Bienal de São Paulo, marcando a sexta participação de Siron Franco na mais importante mostra do País. “É um trabalho que foi para a televisão, o que é muito raro acontecer. Depois, eles viajaram pelo mundo todo participando de importantes exposições. Os desenhos seguraram o tempo, são contemporâneos, o tempo não os envelheceu”, avalia.Siron considera a coleção uma das mais importantes da carreira, mas não a que o tornou reconhecido internacionalmente. “Eu me tornei conhecido na Bienal de 1975, que tinha 80 países concorrendo. Foi fundamental para minha vida, não só pelos prêmios, mas pela oportunidade de ter contato com artistas do mundo inteiro. Só que a do césio foi a mais popular e atingiu o grande público”, conta ele, que venceu o prêmio de melhor pintor na mostra. Depois disso, ele se consagrou conquistando quase tudo antes dos 30 anos e passou a fazer parte de grandes coleções e de museus em vários países. -Imagem (Image_1.2361911)