A recente e avassaladora passagem do humorista Whindersson Nunes por Goiânia, que precisou de uma sessão extra no Centro de Convenções da PUC-GO, o maior teatro do Estado, dá a dica: hoje, mais do que nunca, as pessoas querem rir. Os shows de comédia, em especial os de stand up comedy, vivem atualmente um dos cenários mais positivos em questão de espaço e audiência. O formato de apresentação em pé, em que o comediante conta apenas com um microfone e o seu repertório, sem cenário, acessórios e caracterizações para se conectar com a plateia, está presente em peso não só em teatros, mas em bares, pubs e em casas que se dedicam exclusivamente ao humor.Em Goiânia, o comedy club com maior período de funcionamento é o Guardians Comedy Club, no Setor Nova Suíça, aberto desde 2019. Antes dele, a capital recebeu em meados de 2016 o Benjamin Comedy Club e o antigo Goiânia Comedy Club, hoje fechados. Em outubro de 2021, um novo espaço com o nome de Goiânia Comedy Club foi inaugurado no Setor Sul. As casas geralmente funcionam em formato de bar e restaurante, com mesas que acomodam a plateia sentada e direcionada para o palco onde os humoristas se apresentam.Ramiro Braga, proprietário e produtor do Guardians Comedy Club, conta que comandava um bar tradicional quando recebeu uma proposta de transformar o local em clube de comédia. “Logo estruturei o lugar para se adequar, isso ainda em 2019. Hoje funcionamos de quarta a domingo. Na quarta, fazemos uma noite gratuita de testes de piadas para os comediantes locais”, conta. A programação das outras noites é voltada para atrações de fora, principalmente dos centros onde a cena da comédia é mais consolidada, como São Paulo e Curitiba, segundo o proprietário.Entre tentativas de firmar casas voltadas exclusivamente à comédia na cidade, houve períodos em que os humoristas locais contavam apenas com pubs e bares que dedicavam uma noite ou outra da programação para o stand up. Durante um bom tempo, o Guardians foi o único comedy Club em funcionamento. “A importância das casas é enorme. Elas são o maior presente que os humoristas locais podem ter, porque são praticamente escolas de comédia que vão preparar o humorista para, quem sabe, ter um futuro no meio”, comenta Ramiro.O público também ganha opções de lazer e entretenimento que fogem de modelos já conhecidos com apresentações do gênero. “Quase todos os dias recebemos pessoas que nunca foram a um show de comédia, o que é natural, pois o stand up é algo muito novo no Brasil, e em Goiás mais ainda”, diz o proprietário. “O goiano é muito receptivo e alegre, então quem vai a um show acaba comprando muito bem a ideia do stand up, mesmo não conhecendo”, avalia.PandemiaO setor de cultura e entretenimento vive um dos cenários mais incertos em meio à pandemia de Covid-19, dependendo diretamente das taxas de contaminações e internações para manter a roda girando. “Tivemos que nos virar. Por conta das restrições, já fizemos show com capacidade reduzida, microfone mais baixo, mas sempre cumprindo com as normas sanitárias”, comenta Ramiro.Se é do senso comum dizer que o brasileiro tem a capacidade de rir da própria desgraça, buscar a comédia como válvula de escape na pandemia impulsionou diversos artistas de forma virtual. E o efeito também é observado no presencial. Em meio a esse cenário, a capital ganhou uma nova casa dedicada ao humor: o Goiânia Comedy Club, inaugurado em 1º de outubro, no Setor Sul. “A casa dispõe de 200 assentos, hoje com capacidade reduzida a 100, devido a pandemia. A ideia surgiu do humorista brasiliense Marx Willian, meu sócio ao lado de mais duas pessoas que têm o desejo de fomentar a cena do stand up comedy no Centro-Oeste”, conta Jéssica Louise, à frente da produção do espaço.O mês de inauguração foi definido por ela como bastante animador. “Casa cheia em praticamente todos os dias e com um público sedento por entretenimento (risos). Agora estamos passando por um momento delicado do retorno de uma nova onda da pandemia, mas continuamos adotando todas as medidas necessárias para receber o público com todo o conforto e a segurança possíveis”, observa.Na plateiaO stand up é um formato de apresentação considerado novo no País, que vem conquistando popularidade entre os goianos, principalmente pelos grandes shows de nomes nacionais que acontecem em teatros e nas casas especializadas. Os clubes de comédia estão aí não só para dar espaço aos artistas do gênero, mas também para formar plateia - e isso começa com a própria estrutura do local. “Em um bar que contrata o show, por exemplo, você disputa a atenção do público com o garçom que está circulando, com a televisão que está passando o jogo, com a cozinha que está batendo um suco”, comenta o humorista, roteirista e ator goiano Luiz Titoin. “Em um comedy club, são todos treinados para não atrapalharem o show”.O ambiente deve estar preparado, mas a plateia também precisa compreender a dinâmica da apresentação. “A gente costuma dizer que o público precisa deve ser educado para a comédia de stand up. Para isso, a gente dá um direcionamento a todo momento. Por exemplo, quando sobe um iniciante no palco, a gente pede compreensão para o pessoal que está assistindo, que sejam carinhosos e tratem esse novato bem”, comenta.“O stand up em Goiânia começou a se destacar por volta de 2014, 2015, então tem muita gente que ainda não sabe como se portar em um show. Por isso, a gente tenta explicar umas regrinhas básicas, como não conversar durante a apresentação e não filmar”, aponta o comediante Wagner Oliveira, de 23 anos. “Mas o goiano é muito animado, gosta de rir. Sinto isso, principalmente quando ele vai em um comedy club. Lá é um local especializado nisso, um lugar que você vai para dar risada, então quem chega para um show geralmente vai super aberto. A cena está crescendo”, continua.-Imagem (Image_1.2390731)-Imagem (Image_1.2390732)