Acompanho o trabalho do Estêvão há muito tempo. A primeira vez que vi a obra dele foi no prêmio Sesi Arte e Criatividade quando ele se inscreveu e ganhou como artista revelação. Depois, participou do projeto Trampolim, período que estava ainda em formação, descobrindo seu repertório, o tipo de linha de desenho que ia adotar, a cor ainda era algo muito tímido no trabalho. Mais tarde, ele desenvolveu desenhos com uma figuração que não é mais pop, não se trata de uma figuração realista e naturalista. Ele retrata um ser humano, masculino, uma coisa transitória entre o rosto velho e a criança, às vezes, um corpo de rapazinho com a cara de adulto.A imagem dos gêmeos, presente na obra dele, por exemplo, é uma imagem duplicada, numa situação subjetiva, como se o artista estivesse olhando para ele mesmo. Acho que tem um entendimento de psicanálise dessa produção do sujeito que ocorre nos desenhos. As figuras do Estêvão parecem que são talhadas a facão, com questões religiosas, mas que parecem ser construídas da mesma matéria da rocha. Tem também um personagem que sempre aparece com uma camiseta vermelha, não é que seja vilanovense ou adepto de algum partido, mas a cor simboliza um lugar sagrado, nos altares da religião católica onde você tem Jesus Cristo envolto em um manto vermelho. É um trabalho muito singular e importante nesse momento.