Seis meses depois de ser adiado diante da pandemia do novo coronavírus que se aproximava do Brasil, o É Tudo Verdade, principal festival de documentários da América Latina, finalmente chega ao público com a parte mais prestigiosa de sua edição de 2020 – aquela que abarca as competições nacional e estrangeira. Amir Labaki, diretor da mostra, anunciou nesta quarta-feira os detalhes e a seleção de filmes desta que é considerada a segunda parte da 25ª edição do evento. Isso porque em março, com o cancelamento do evento presencial, Labaki fez mudanças às pressas para que algo da programação chegasse ao público sem atraso, de forma virtual.Agora, depois de uma ampla reformulação e pequenas alterações no lineup, o crème de la crème do 25º É Tudo Verdade já tem data para ser exibido: entre os dias 23 de setembro e 4 de outubro. Com a pandemia do coronavírus não dando grandes sinais de arrefecimento, a mostra será realizada, quase que em sua totalidade, digitalmente. “Nós pusemos parte da programação no ar naquele momento (em março), mas continuamos trabalhando, acreditando que seria possível fazer o festival no fim de setembro, de forma presencial ou ao menos híbrida”, explica Labaki.“Há mais ou menos um mês, no entanto, ficou claro para todo mundo que era inviável um festival presencial no Brasil este mês. Então, nós tomamos a decisão de fazê-lo on-line, porque nossa maior preocupação é a saúde de todos. Um festival de cinema exige convívio, interação, e é impossível fazer isso hoje no Brasil.”Labaki destaca, porém, que uma parte pequena do 25º É Tudo Verdade será, sim, presencial. A edição deste ano terá uma abertura, apenas para convidados, no Belas Artes Drive-in. O filme escolhido é o chileno A Cordilheira dos Sonhos, de Patricio Guzmán, que também será disponibilizado on-line para quem não estacionar seu carro no pátio do Memorial da América Latina. O curador ainda negocia sessões de encerramento físicas no Rio de Janeiro.FilmesPouco mudou em relação à lista de filmes anunciada em março. Na competição de longas nacionais, estão dez filmes: Atravessa a Vida, Boa Noite, Fico te Devendo uma Carta sobre o Brasil, Jair Rodrigues – Deixa que Digam, Libelu – Abaixo a Ditadura, Meu Querido Supermercado, Não Nasci para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo, Os Quatro Paralamas, A Ponte de Bambu e Segredos de Putumayo. Na seleção estrangeira, estão 12 longas: 1982, Cidade dos Sonhos, Colectiv, O Espião, Ficção Privada, Forman vs. Forman, Golpe 53, Influência, Pão Amargo, O Rei Nu, O Rolo Proibido e Silêncio de Rádio.Os títulos se debruçam sobre vários temas, como música, jornalismo, autoritarismo, a ditadura militar brasileira e o próprio cinema. Tanto nas competições de longas nacionais e estrangeiros, quanto na de curtas, os quatro vencedores estarão automaticamente classificados para apreciação do comitê que seleciona os indicados ao Oscar do ano que vem.Quatro longas previamente anunciados ficaram de fora dessa versão remodelada do É Tudo Verdade, Dentro da Minha Pele, Dick Johnson Está Morto, Mucho Mucho Amor e The Human Factor. Com exceção do último, que optou por não participar via internet, eles precisaram se ausentar por motivos alheios à reestruturação do evento.As exibições acontecerão em diversas plataformas de streaming, de forma gratuita. Os filmes serão disponibilizados diariamente, por períodos específicos de tempo, a fim de manter a lógica de funcionamento dos festivais. Para complementar a programação, haverá ainda palestras e debates – incluindo conferências com todos os diretores dos longas nacionais em competição –, além de uma seção que comemora os 25 anos do É Tudo Verdade. Entre as novidades dessa segunda parte também está uma parceria com o Sesc, para exibição de outros filmes da programação.No total, o número de filmes exibidos neste 25º É Tudo Verdade, se somadas as sessões do primeiro semestre com as de agora, aumentou em relação ao que havia sido anunciado em março. “O festival cresceu, o que é uma coisa interessante”, diz Labaki.“Apesar de não estarmos tendo gastos de um festival presencial, a gente está tendo novas despesas não previstas, que é fazer um festival internacional em streaming, maior, com toda a segurança necessária para isso. O orçamento é o mesmo, ou um pouco maior que o original, e nós tivemos um corte de 10% de patrocínio. Mas estamos conseguindo nos equilibrar.”