Durante muitos anos, saias, vestidos curtos, shorts e biquínis eram quase sempre evitados no figurino do dia a dia da personal organizer Cida Ricarte, de 61 anos. Ela preferia usar roupas mais longas porque tinha vergonha de deixar as pernas de fora por conta das varizes, que são basicamente um problema na circulação, em que o sangue não consegue fazer o caminho de volta ao coração e fica preso nessa região do corpo. Foi ainda na adolescência que ela começou a sofrer com esse incômodo. Não bastasse a falta de autoestima, para piorar, ela sofria com fortes dores e inchaço após a jornada de trabalho.“Era uma situação desconfortável. Quando eu ficava por um bom tempo em pé agravava demais porque dava aquela sensação de peso na parte inferior. Sempre que chegava em casa no final do dia tinha que colocar as pernas para cima para melhorar a circulação. No início do ano fiz um tratamento e dei adeus às dores e voltei a usar biquíni. Estou feliz e faço questão de falar sobre o assunto porque sofremos bastante com isso”, comenta Cida Ricarte. Para muita gente, varizes parecem apenas uma preocupação estética, mas quando não acompanhadas e, se preciso tratadas, podem ocasionar outros problemas e até evoluir para casos graves.Mais do que um problema de beleza, as veias dilatadas nas pernas são consideradas uma doença crônica que piora progressivamente se não for tratada. Os sinais de alerta para cuidar são sangramentos, ressecamento, vermelhidão, feridas e formação de hematoma. Quando as varizes progridem podem provocar complicações como eczemas, tromboses e hemorragias. “É importante evitar acumular, não é preciso esperar os sintomas aparecerem, busque avaliação médica imediatamente, pois pode haver piora e início de algo mais sério, como riscos de trombose venosa”, recomenda a cirurgiã vascular Carolina Camelo.As pernas são os lugares mais comuns da doença, mas não são os únicos. Como se trata de veias deformadas, então qualquer alteração nesse sentido pode ocasionar sua aparição em outras áreas do corpo, como rosto, nariz, pescoço, tórax, barriga, braços, seios e costas. Elas são fáceis de identificar de início por possuir tom avermelhado ou arroxeado. A saliência percebida também é outro ponto que pode ajudar no reconhecimento do problema. Quando pequenas, são chamadas de vasinhos, com baixo risco de complicações. Em estado avançado, pode provocar desconforto, como inchaço, coceira e úlceras.As mulheres são mais suscetíveis às varizes: elas costumam sofrer de duas a três vezes mais que os homens, por conta dos hormônios. Segundo estudos da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, esse incômodo atinge 45% da população feminina. No entanto, a causa mais comum é a herança genética. “Questões hereditárias representam a maioria das ocorrências, mas existem fatores considerados de risco e que podem acelerar o problema”, confirma Carolina Camelo. Idade avançada, gestações, obesidade, sedentarismo e tabagismo também contribuem para o aparecimento.TratamentoQuando apareceram as primeiras veias dilatadas nas pernas ainda na juventude, Cida Ricarte iniciou de imediato o tratamento conhecido por escleroterapia, procedimento não cirúrgico por meio do qual é aplicada uma injeção com medição nos vasinhos. Entre o início dos anos 1990 e da década de 2000, com as pernas novamente cheias de varizes, ela passou por duas cirurgias. Mais uma vez o problema reapareceu, o que é bastante comum porque a doença pode progredir para aquelas veias que estavam saudáveis no momento da intervenção médica. “Fiz novamente e agora vou fazer acompanhamento periódico”, afirma.Segundo a cirurgiã vascular Paula Sabrina Araújo Milhomem, hoje no mercado existem diversos tratamentos de varizes para ambas as condições e que são minimamente invasivos. Porém, é necessário primeiro realizar uma avaliação médica para o conhecimento do quadro clínico para decidir qual a melhor opção. “Após o diagnóstico bem detalhado é feita uma programação e o início do procedimento vai depender da situação das veias porque cada uma demanda um tipo específico de intervenção, que vai desde a escleroterapia, cirurgias, uso de laser até a escleroterapia com espuma”, ressalta.Uma dúvida frequente em quem tem varizes é se após a cirurgia elas podem retornar. A resposta é sim, como aconteceu no caso de Cida. A proposta do tratamento é remover todas aquelas veias que já não trabalham da maneira que deviam. O problema é que as que estão em atividade normalmente possuem as mesmas células com predisposição genética que as que foram tratadas. “É por isso que o procedimento pode ser demorado porque às vezes depende de várias sessões para atingir o objetivo, também é importante a manutenção”, diz Paula.Outro importante aliado no tratamento são as meias de compreensão que facilitam o retorno do sangue para o coração. “Elas proporcionam uma melhora no inchaço das pernas e podem evitar complicações como a trombose venosa profunda”, alerta Paula. O ideal, porém, é comprar o acessório apenas com a indicação médica e em lojas especializadas, que medem a circunferência do tornozelo, da panturrilha e das coxas. Especialistas acrescentam ainda que colocar as pernas para cima e movimentar a panturrilha caso o paciente fique muito tempo sentado ou em pé também são bons hábitos.Complicações Covid-19O risco de desenvolver uma trombose é bem maior em pacientes infectados com Covid-19, especialmente aqueles com quadros mais graves. Essa probabilidade cresce 5,3 vezes naquelas pessoas que têm varizes, apontou um estudo realizado pelo Journal of the American Medical Association (Jama), divulgado ainda em 2018. Durante sete anos e meio mais de 212 mil pessoas com a doença foram acompanhadas, assim como a mesma quantidade que não apresenta esse problema. “Por conta das veias deformadas, o sangue apresenta dificuldade de retornar ao coração, dessa forma, ele circula mais lentamente e o quadro inflamatório causado pelo coronavírus o deixa mais coagulável. Esses fatores aumentam a chance em pacientes com o vírus”, comenta a médica Carolina Camelo.Mitos e verdades sobre as varizes- Depilação causa varizes: mito- Cremes amenizam as varizes: mito- Salto alto dá varizes: mito- Depilação com cera quente: mito- Usar roupas apertadas: mito- Anticoncepcional causa varizes: verdade- Mesmo depois de tratadas, as varizes voltam: verdade- Musculação causa varizes: mito- Meias elásticas melhoram a circulação das pernas: verdade- A alimentação influencia na formação de varizes: verdadeFonte: Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular