O Globoplay estreou nesta quinta-feira (26) o documentário original Casão – Num Jogo Sem Regras. Ao longo de quatro episódios e ao som de muito rock and roll, a obra navega cronologicamente pela trajetória do ex-jogador e comentarista, fazendo um paralelo com a história do País em cada época. A narrativa da série documental se propõe a acompanhar a intensidade alucinante de seu personagem e representar a alma inquieta, apaixonada e contestadora de Walter Casagrande Júnior. Dirigida por Susanna Lira, com roteiro de Bruno Passeri e Roberto Passeri, o documentário conta com depoimentos de nomes como Galvão Bueno, Roberto Rivellino, Baby do Brasil, Juca Kfouri, José Trajano, dos três filhos de Casão, entre outros. A infância de Casagrande na periferia de São Paulo, o alcoolismo do pai, a reflexão sobre a condição da mulher, a morte precoce da irmã mais velha, a rebeldia em tempos de ditadura militar, o início promissor no futebol e a briga que o afasta do Corinthians marcam o primeiro episódio. O segundo capítulo trata da primeira experiência de Casagrande longe de casa, o luto se convertendo em força motriz, a paixão arrebatadora por Mônica, a ascensão como um centroavante de seleção brasileira, e o início de uma era histórica: a democracia Corinthiana. Também aborda a relação fraternal com Sócrates e com ícones da música brasileira. O episódio seguinte apresenta a experiência do jogador na Europa, a saudade do Brasil, a paternidade e o fim da carreira no futebol. Por último, o foco é o mergulho de Casagrande nas drogas, os problemas que passam a assombrá-lo constantemente, a internação compulsória, a relação com Baby do Brasil, a espiritualidade, a morte de Sócrates, e a volta por cima.Como você recebeu a ideia do documentário?Em 2018, eu estava no Rio de Janeiro para fazer os programas do Sportv e a Suzanna Lira me ligou falando que estava com a ideia de fazer um documentário sobre minha vida. Marquei um café da manhã com ela e um roteirista. Eu acredito muito na minha intuição, nos olhos, por isso que eu gosto de falar vendo as pessoas. Quando ela começou a falar, eu vi a vontade genuína de contar minha história. Não era um interesse financeiro ou de publicidade. Ela foi pesquisar, gostou e queria fazer aquilo. Aceitei no primeiro dia que conversei com ela. As pessoas que assistirem à série vão avançar no conhecimento sobre a minha vida, sobre a minha personalidade. O que o documentário vai apresentar sobre você?O documentário vai ser importante porque vai mostrar melhor quem eu sou. Às vezes, as pessoas não sabem por que alguém chegou naquela posição. Vai esclarecer que, desde os anos 1970, sou envolvido com política. Esse é um ponto muito importante para mim, pois às vezes sou julgado porque as pessoas não conhecem a minha história. Então, nesse ponto político, será bem importante. Vai ter muita coisa de arquivo, entrevistas com pessoas que conviveram comigo. Eu sugeri vários nomes que achava interessantes para participar. Como sou uma pessoa muito intensa, tenho um relacionamento bem próximo de todas as pessoas que indiquei e elas me conhecem bem. Acho que vai ser legal também a parte da minha infância, que ninguém conhece. Nunca dei uma entrevista falando desta fase: relacionamento, crescimento, adolescência, educação... E tem também a minha história mais dramática, que é o problema com as drogas, a dependência química.Do que você sente mais orgulho da sua trajetória? Eu tenho muito orgulho da minha formação, da educação que eu recebi e ao mesmo tempo da liberdade que meus pais perceberam que tinham de me dar. Eu tinha um instinto de liberdade muito alto. Muita coisa que aconteceu na minha vida, no passado, foi porque eu não conseguia lidar com o tamanho de liberdade que eu tinha dentro de mim. Mas até a própria liberdade tem limites para você vivê-la bem e de verdade. Qual parte da sua vida estará no documentário e você adoraria reviver?Eu quero rever a parte da infância, da minha pré-adolescência e juventude. Eu explodi muito cedo, com 17 anos já era uma pessoa conhecida. Então, eu tive de curtir a vida ao mesmo tempo em que era profissional. Como eu tinha esse instinto de liberdade muito grande, não abri mão de nenhuma das duas coisas: eu curti a vida e fui profissional do futebol. Quero rever esse momento. O que a música representa na sua vida? De onde vem sua paixão pelo rock?A música já veio no sangue porque o meu avô, Júlio Casagrande, fazia parte da orquestra que tinha no programa da TV Cultura O Baile da Saudade, apresentado pelo Francisco Petrônio, e também fazia da orquestra do programa da Hebe Camargo. Eu era muito pequeno, mas ficava vendo TV e meu pai falava: “Aquele ali é seu avô”. Acho que minha paixão pela música veio daí. Além disso, minhas irmãs compravam muitos discos e meu pai também trazia muitos discos para casa porque ele trabalhava com isso. Quando eu aprendi a mexer no aparelho de som, eu comecei a ouvir todos os discos que tinha na minha casa. A primeira coisa que eu ouvi foi Beatles. Gostei, mas faltava alguma coisa para mim. Quando eu ouvi a Janis Joplin pela primeira vez, eu defini o meu estilo de vida pela voz e pelo comportamento dela. Quando eu ouvi a Janis Joplin, o Jim Morrison o Jimi Hendrix, principalmente esses três, percebi que eu era daquele jeito com uns 12, 13 anos. O rock and roll entrou muito forte na minha vida. Eu me senti um peixe fora d’água por muito tempo porque falava e me vestia de um jeito diferente de todos na roda de amigos.