A corrida pelo lugar de Boris Johnson como líder do Partido Conservador e primeiro-ministro do Reino Unido começou para valer nesta terça (12), com a definição dos oito candidatos que vão disputar os votos dos 358 parlamentares. Da lista inicial de 11 nomes, 1 desistiu e 2 não conseguiram superar a regra do mínimo de 20 indicações entre os correligionários.Boris deve ficar no cargo até o final do pleito. O Comitê 1922, responsável pela disputa, divulgou no fim da tarde a lista final de oito postulantes, que devem passar pela primeira votação nesta quarta (13).Com a saída de Grant Shapps, Sajid Javid e Rehman Chishti, permanecem no páreo Rishi Sunak, ex-secretário de Finanças; Liz Truss, secretária de Relações Exteriores; Penny Mordaunt, com cargo no departamento de Comércio Exterior; Suella Braverman, procuradora-geral do Reino Unido; Nadhim Zahawi, ex-secretário de Educação; Jeremy Hunt, ex-secretário de Relações Exteriores; Tom Tugendhat, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento; e a parlamentar Kemi Badenoch.Sunak e Truss, figuras proeminentes da gestão Boris, são considerados os mais fortes entre os parlamentares, enquanto Mordaunt fica à frente nas sondagens entre os filiados do partido. O nome da pessoa que vai liderar a legenda e o Reino Unido deve ser anunciado no dia 5 de setembro.Um dos detonadores do estopim que levou à renúncia de Boris na semana passada, o ex-titular das Finanças lançou sua campanha apoiado pelo vice-premiê Dominic Raab e por Shapps, titular dos Transportes.Em seu discurso, Sunak enalteceu Boris e repetiu que um eventual corte de impostos só ocorrerá quando a inflação, em 9,1%, estiver controlada. A proposta vai na contramão de outros concorrentes, que defendem o corte imediato das taxas como resposta ao aumento do custo de vida. "Precisamos ter uma conversa adulta sobre a questão central desta eleição, a que todos os candidatos devem responder: 'você tem um plano confiável para proteger nossa economia e fazê-la crescer?'", disse.Ao jornal The Telegraph, completou: "Vamos cortar impostos de forma responsável. Minha visão é a do senso comum 'thatcherista', acredito que é isso que ela [a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher] faria".Daniel Gover, professor de política britânica da Queen Mary University of London, explica que a economia está no centro dos debates por uma combinação de dois fatores: a crise no custo de vida, vista em outras potências como França e Estados Unidos; e o aumento da tributação, que atinge recordes históricos no Reino Unido devido à pandemia.Uma das que defendem o corte de impostos é Truss. Sem realizar um ato oficial de candidatura, ela viu seu nome ser endossado pelos secretários Jacob Rees-Mogg (Brexit) e Nadine Dorries (Cultura), próximos a Boris e pertencentes à ala mais rígida dos pró-saída da União Europeia.De papel de destaque no envolvimento diplomático britânico na Guerra da Ucrânia, Truss é a principal face por trás do projeto de lei em tramitação que permite ao Reino Unido desobedecer trechos do Protocolo da Irlanda do Norte, o que elevou o risco de uma guerra comercial com a UE. "É a melhor candidata, uma verdadeira eurocética", disse Rees-Mogg.Segundo Gover, muitos conservadores calculam que a secretária seja a candidata com maior chance de derrotar Sunak, que enfrenta resistências por suas posições econômicas e por ter disparado o estopim da renúncia de Boris. "Mas, pelo formato da disputa, muitos votam em um nome para barrar outro", diz.A partir desta quarta, os candidatos concorrem pelo voto dos parlamentares conservadores. Avançam para a disputa de quinta-feira os que tiverem ao menos 30 votos. Na sequência, novas votações são realizadas e eliminam os menos votados até restarem dois nomes. A expectativa é que esse processo seja finalizado até o dia 21, antes do recesso. A campanha, então, continua entre os 200 mil filiados à legenda, que escolhem o vencedor.A pessoa que chegar ao cargo terá como tarefa neutralizar o legado de Boris —cuja reprovação atingiu 69% em junho—, enquanto lidera a mesma maioria parlamentar. Será, nas palavras de Gover, uma "continuidade, mas de maneiras distintas". O quase certo é que se opte por um perfil menos estridente. "Muitos conservadores querem se distanciar disso; vão preferir alguém que esteja menos no centro das atenções e que lidere uma equipe."Ainda no cargo, Boris foi alvo, nesta terça, de uma tentativa da oposição de removê-lo do posto —o que poderia resultar na convocação de novas eleições, interrompendo o processo interno dos conservadores. O líder trabalhista, Keir Starmer, levou ao Parlamento um pedido de voto de desconfiança, mas o governo conseguiu barrar a iniciativa alegando uma incorreção no texto do pedido.Leia também: Sucessor de Boris Johnson será anunciado em 5 de setembro, diz partido britânicoEm crise interna, Biden faz jogada de risco em viagem ao Oriente Médio