A juíza María Eugenia Capuchetti determinou nesta quinta-feira (15) a prisão preventiva de Fernando Andrés Sabag Montiel e de sua namorada, Brenda Uliarte, devido ao ataque contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Ambos já estavam presos, mas sem a oficialização do caráter preventivo –que, por lei, pode durar até dois anos.O brasileiro foi acusado de tentativa de homicídio e Uliarte, de ter planejado a ação. A magistrada firmou uma fiança no valor de 100 milhões de pesos argentinos (R$ 3,6 milhões) para cada um, citando como agravantes do ataque o uso de arma de fogo, traição e a premeditação do ataque.Também foram listados como delitos na acusação de 95 páginas, de acordo com a imprensa argentina, o porte de arma e munição sem autorização.No último dia 7 Capuchetti já havia formalizado as acusações de tentativa de assassinato e premeditação "em comum acordo". A decisão desta quinta amplia as alegações contra os dois principais acusados. Além deles, mais duas pessoas já foram detidas acusadas de envolvimento na ação: Agustina Díaz, 21, amiga da namorada do agressor, e Gabriel Carrizo, que seria proprietário de um carrinho de algodão-doce que foi visto nas noites anteriores ao crime na esquina da casa de Cristina.Nesta quarta (14), com o depoimento de Díaz e a prisão de Carrizo, o inquérito ganhou novos capítulos que redirecionaram a linha de investigação central. A amiga de Brenda Uliarte confirmou a veracidade de mensagens trocadas com a namorada de Sabag que apontam para a possibilidade de ela ter sido a mandante do crime.Em uma delas, Uliarte diz: "Hoje vou virar San Martín [herói da independência argentina], vou mandar matar Cristina. Me cansei que só falamos e falamos e não fazemos nada. Eu, sim, vou fazer. O espírito de San Martín se meteu no meu corpo".Na noite do dia 1º, Sabag se aproximou a menos de um metro da vice-presidente, que cumprimentava apoiadores ao chegar em casa, e apontou uma arma contra seu rosto. O ataque não teve êxito porque as duas tentativas de atirar falharam, embora a Bersa calibre 32 estivesse carregada com cinco balas.Nos dias seguintes à ação surgiu a questão sobre se o homem sabia ou não manejar a pistola, mas um vídeo divulgado no último domingo (11), que estava no cartão de memória do seu celular, mostra-o manuseando a arma, carregando as balas e simulando os tiros.Na acusação, a juíza Capuchetti destacou que não há dúvidas acerca da habilidade de Sabag para manejar a arma —e, portanto, de sua capacidade de matar Cristina.A juíza deve decidir sobre eventuais acusações contra Díaz e Carrizo nos próximos dias, após reunir mais evidências. A amiga de Brenda Uliarte teve a soltura negada, sob o risco de fuga e de atrapalhar as investigações. A magistrada já tomou o depoimento da mulher e aguarda também a análise do conteúdo de seu celular. Carrizo deve ser ouvido nesta sexta.O plano para matar Cristina, pelas mensagens reveladas entre as duas mulheres, teria ganhado corpo em 23 de agosto, dia seguinte à apresentação do pedido de prisão de Cristina pelo promotor Diego Luciani. Naquela noite, armou-se no entorno do prédio da ex-mandatária um ponto de protestos e apoio, dia e noite. O cenário se tornou especialmente confuso depois de a polícia da cidade, chefiada pela oposição ao presidente Alberto Fernández, ter deixado o local após enfrentamentos com manifestantes kirchneristas.O carrinho de algodão-doce que pertenceria a Carrizo, segundo mostram imagens anteriores ao dia do ataque, esteve sempre próximo à casa de Cristina nos dias anteriores ao ataque. Para a polícia, isso foi uma estratégia para o grupo se misturar à multidão, sem chamar a atenção, de forma a poder monitorar a situação e escolher a melhor hora para que Sabag enfim se aproximasse da vice-presidente.Nesta quinta, Cristina foi ao Senado pela primeira vez desde o ataque e se encontrou com padres que atuam em favelas argentinas. "Queria que minha primeira atividade pública, por assim dizer, fosse com vocês. Sinto que estou viva para Deus e para a Virgem", disse.Aos religiosos, ela ainda comentou a ligação que recebeu do papa Francisco um dia depois do atentado. "Ele me disse que atos de ódio e de violência são sempre precedidos por palavras e verbos de ódio e violência. Primeiro é o verbal e depois aquele clima cresce até que, por fim, [acontece algo]", disse.Cristina tentou evitar comentários sobre o atentado, mas cutucou a polícia de Buenos Aires. "Quando aconteceu o que aconteceu, foram os militantes que prenderam quem tentou me matar. Não foi a polícia."Leia também:- Argentina prende quarto suspeito de ligação com atentado contra Cristina Kirchner- Agressor de Cristina fez fotos com pistola e pode ter premeditado ataque- Juíza investiga perda de dados do celular de homem que atacou Cristina Kirchner