A Justiça da Bolívia condenou o líder da oposição no país, o governador do departamento de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, a quatro meses de prisão preventiva nesta sexta-feira (30). Ele é acusado de terrorismo e de insuflar distúrbios que culminaram na saída do ex-presidente Evo Morález do poder em 2019, o que a Procuradoria-Geral chama de golpe de Estado.Na quarta (28), o procurador responsável pelo caso defendeu a prisão preventiva do governador por seis meses, alegando que Camacho poderia fugir do país ou obstruir as investigações. Em seus argumentos, ele citou, por exemplo, as vezes em que o líder da oposição se recusou a cumprir intimações para prestar esclarecimentos sobre o episódio.No início deste mês, Camacho disse que não se entregaria a La Paz e provocou as autoridades, dizendo que se quisessem o prender, elas deveriam ir à Santa Cruz. Assim, então, elas fizeram: o governador foi preso ainda na quarta e levado para a capital boliviana.Até então, porém, as causas da prisão eram incertas. Uma das hipóteses era de que ele havia ajudado a organizar protestos recentes que bloquearam ruas e interromperam o comércio em várias regiões do país. Os atos exigiam a realização do censo populacional boliviano, cujos trabalhos estão atrasados em razão da pandemia de coronavírus e, segundo especialistas, deve garantir mais receitas fiscais e assentos no Congresso a representantes do estado de Santa Cruz, um dos mais populosos e ricos da Bolívia.Na ocasião, manifestantes se reuniram em Santa Cruz, em sinal de apoio ao governador. Algumas centenas de pessoas invadiram as pistas de dois aeroportos da região -o internacional Viru Viru, e o doméstico, Trompillo. Segundo a emissora boliviana Unitel, os manifestantes gritaram palavras de ordem pela libertação de Camacho e tentaram impedir a decolagem de aeronaves.Leia também: - Rússia lança grande ataque com mísseis contra a Ucrânia- Japão paga R$ 3 mil para casais terem filhos, mas poucos querem ser paisNesta sexta, o juiz Sergio Pacheco aceitou os argumentos da procuradoria e ordenou a transferência de Camacho para um presídio de segurança máxima em La Paz. "Eu nunca vou me render; esta é uma luta pela democracia e pela liberdade", respondeu o governador em sua conta no Twitter.Com a decisão, apoiadores de Camacho voltaram às ruas, agitando a bandeira do estado. Além disso, grupos civis mobilizaram bloqueios de estradas e programaram uma greve geral para a manhã desta sexta -ainda é incerto o nível de adesão ao movimento. "Há momentos de paz e tempos de guerra", disse Keyla Garcia, uma congressista do partido de Camacho que liderou um comício no dia anterior.O governador, porém, está longe de ser unanimidade na região. Críticos dele também saíram às ruas para exigir justiça e exibiram caixões, simbolizando as vítimas dos distúrbios de 2019, quando Morales fugiu do país em meio a protestos, alguns liderados por Camacho. "Que ele vá para a cadeia por trinta anos. Queremos justiça. Eu estava no local onde mataram a primeira vítima", disse à agência de notícias Reuters Maria Laura, uma manifestante pró-governo.Morales, por sua vez, disse na quarta que esperava que a detenção de Camacho trouxesse justiça depois de três anos. "Ele responderá pelo golpe de Estado que levou a roubos, perseguições, prisões e massacres do governo de fato", tuitou o esquerdista.Já o ex-presidente Carlos Mesa, aliado de Camacho que concorreu contra Morales nas eleições de 2019, disse à Reuters que o caso resultou de "uma monumental fraude eleitoral realizada por Evo Morales" e que a acusação de terrorismo "não faz sentido".Até agora, a maioria dos governos sul-americanos ainda não se manifestou sobre a prisão. Um porta-voz das Nações Unidas, por outro lado, disse que o secretário-geral da organização, Antonio Guterres, está preocupado com os acontecimentos e pediu calma e moderação.Já os Estados Unidos disseram estar monitorando a situação e pediram uma resolução pacífica e democrática do episódio.