Vladimir Putin deu um passo decisivo na rota de conflito com a Ucrânia e o Ocidente ao reconhecer as áreas autônomas resultantes da guerra civil no leste do vizinho. Depois de assinar o ato, determinou o envio de tropas do Kremlin para apoiar os separatistas étnicos russos.Com isso, os arranjos que mal sustentavam o equilíbrio na região, os Acordos de Minsk (2014-15), morrem. A Rússia passa a ser um ator ativo no conflito, não mais um presumido juiz.A assinatura foi oficializada em um pronunciamento duro de Putin na TV russa na noite desta segunda (tarde no Brasil) e deverá ser ratificada em breve pelo Parlamento.O russo disse que a Ucrânia está “cheia de clãs oligárquicos”, falou sobre o crescimento de grupos neonazistas e disse que as autoridades do vizinho foram “contaminadas pelos vírus do nacionalismo e da corrupção”.Não ficou claro, contudo, se Putin reconhecerá as atuais fronteiras das áreas separatistas ou se aceita a demanda deles, incluindo porções das antigas províncias de Lugansk e Donetsk como eram em 2014. Se o fizer, o caminho de uma guerra no leste da Ucrânia pode estar garantido.O comunicado do Kremlin sobre tropas não especifica onde elas serão posicionadas. O envio foi a pedido dos separatistas, mas a Ucrânia e Ocidente tratarão o caso como uma invasão russa, já que consideram as áreas rebeldes como domínio de Kiev.A União Europeia e os Estados Unidos já disseram que o reconhecimento é ilegal, dado que o Donbass é parte da Ucrânia na visão deles. A Casa Branca disse que determinou sanções específicas contra os territórios, o que é apenas simbólico, após uma conversa do presidente Joe Biden com o colega ucraniano, Volodimir Zelenski.Horas antes do pronunciamento, o Kremlin dissera que Putin informara sua decisão a Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha), ressaltando que os dois expressaram desapontamento e indicaram a necessidade de se manterem contatos diplomáticos.Ele tomou a decisão -algo que estava na mesa desde que o Parlamento russo fez tal pedido na semana passada, e nada do tipo ocorre sem combinação com o Kremlin- após uma coreografada reunião do seu Conselho de Segurança.Confronto diretoO movimento vem no dia em que a Rússia disse ter entrado em confronto direto com os ucranianos, anunciando ter destruído dois blindados do vizinho e matando cinco militares, que teriam cruzado sua fronteira. Kiev nega que tal incidente ocorreu.Também nesta segunda, os líderes das duas repúblicas rebeldes haviam pedido a Putin o reconhecimento e a ajuda militar. A fala mais elaborada foi de Dmitri Medvedev, o número 2 do conselho. “Essa situação terá de ser enfrentada. Há cerca de 800 mil cidadãos russos naquelas regiões, não podemos ignorar isso”, disse.Ele se referia às pessoas que receberam passaporte de Moscou nos últimos anos. Há ao todo cerca de 4 milhões de pessoas morando nas áreas separatistas. Medvedev citou a situação na Geórgia em 2008, quando ele era presidente e tinha Putin como mentor e premiê, que acabou em guerra para garantir direitos e reconhecimento a russos étnicos naquele país.Isso dá uma sinalização acerca de um caminho para a temida ação militar de Putin, que desde novembro concentra forças em torno da Ucrânia em exercícios militares que somam de 150 mil a 190 mil soldados, segundo os Estados Unidos.Putin demonstrou irritação e sinalizou, ou simulou, uma intenção belicista. “Eu fiz tudo o que pude para resolver a crise com a Ucrânia de forma pacífica”, disse. Ele e ministros como o chanceler Serguei Lavrov revisitaram os temas do ultimato lançado pela Rússia aos EUA, que foi rejeitado pela Casa Branca e pela Otan (aliança militar ocidental).Em resumo, Putin quer o fim da expansão da Otan e, por extensão, da União Europeia. O símbolo disso seria o compromisso de que a Ucrânia nunca seria membro da aliança militar, trazendo forças ofensivas ocidentais para as fronteiras russas -a presença no outro ponto de contato, os Estados Bálticos, é bastante modesta justamente para não provocar demais Moscou.Líder ucraniano fala com Biden e reúne Conselho de SegurançaO presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que conversou com o presidente dos EUA, Joe Biden, sobre os eventos das últimas horas relacionados ao país e a Rússia. Nesta segunda-feira (21), o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia. Em uma publicação no Twitter após o discurso televisionado de Putin, Zelensky informou que convocou uma reunião do Conselho de Segurança e Defesa Nacional do país.O presidente ucraniano disse, ainda, que uma reunião com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve acontecer em breve. Antes, Zelensky já havia falado, com urgência, com o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. Segundo o ucraniano, a ligação foi feita após declarações feitas por Putin durante uma longa reunião do Conselho de Segurança da Rússia. A presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta segunda-feira (21) que o bloco europeu e os seus parceiros vão reagir. Segundo ela, o reconhecimento das áreas separatistas pela Rússia configura violação flagrante ao direito internacional e dos acordos de Minsk I e Minsk II.Os EUA decidiram impor uma série de sanções às regiões separatistas no leste da Ucrânia. A resposta será imediata, diz o comunicado da Casa Branca. Segundo a informação, uma Ordem Executiva definirá que serão proibidos “novos investimentos, comércio e financiamento” por cidadãos dos EUA para ou nas regiões das chamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.