A permissão para reabertura do comércio e outras atividades econômicas na capital foi a saída encontrada, segundo o prefeito Iris Rezende (MDB), para enfrentar a crise financeira provocada por medidas contra o avanço do novo coronavírus em Goiânia. Diante do cenário, Iris diz que tentou estudar uma “reabertura devidamente calculada que não trouxesse consequências desastrosas no momento” e afirma que é responsabilidade dos empresários seguir à risca as obrigações descritas na legislação e, assim, evitar novas restrições para as atividades econômicas na capital. As medidas têm o objetivo de diminuir a contaminação pelo vírus, mesmo com o comércio aberto. Goiânia registrou até ontem 11 mil casos da doença e 329 pessoas já morreram desde o início da crise.Quando o assunto é a eleição deste ano, o prefeito tem a mesma resposta dos últimos meses: ainda não é tempo de decidir. Iris garante que ainda não conversou com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), sobre uma eventual aliança em que seu vice seria indicado por ele.Passou uma semana desde que foi assinado o decreto para flexibilizar o funcionamento de atividades econômicas e sociais em Goiânia. Qual avaliação o senhor faz das decisões que tomou no período? Quando o governador (Ronaldo Caiado, DEM) decretou o fechamento, nós imediatamente nos solidarizamos. Em determinado momento e paralelamente àquela atitude, fomos desenvolvendo campanhas para que as pessoas se prevenissem, usassem máscara e para não receberem visitas em casa. Isso teve um efeito. O que providenciamos foi a estrutura para acudir possíveis doentes. Estamos aí e você não ouviu uma queixa sobre pessoa que morreu à míngua. Todas as unidades de saúde da Prefeitura, que são quase duas centenas, estão preparadas e atendendo. Se é mais grave, encaminha a pessoa imediatamente para a UTI. Está sob controle. Tudo isso, vou deixar modéstia de lado, foi por preocupação da administração, por dedicação da equipe administrativa da Prefeitura de Goiânia. Estamos atravessando o momento. É uma doença desconhecida. Surgiu na China e de repente domina o mundo inteiro, que não estava preparado. Até hoje os cientistas estão correndo e procurando vacina, mas até agora não alcançamos êxito. Contratamos centenas de profissionais da saúde depois da crise. Temos novos médicos, enfermeiros e atendentes, de forma que Goiânia vai atravessando essa fase dolorosa sem maiores consequências.Quais fatores levaram à flexibilização?Quando tomamos a decisão de reabrir, o fizemos assinando um decreto resultado de estudo aprofundado de um dos mais competentes técnicos dessa área na Prefeitura. Não assinamos por assinar. O administrador não pode ter uma visão limitada das coisas. Goiânia é uma cidade que se sustenta pelo comércio, não temos indústria. Quando muito, temos uma indústria de construção civil. Milhares de pequenas lojas se fecharam e os proprietários viviam daquilo, marido, mulher e os filhos. Não demorou muito e percebemos que estavam passando dificuldade, inclusive de alimentação. Quantos pais de família trabalhavam como empregados dessas lojas e de uma hora para outra foram dispensados. Eu estava diante de um quadro doloroso. Milhares de pais de família sem condição de levar pão para esposa e filhos. O que eu precisava fazer? Estudar uma reabertura devidamente calculada que não trouxesse consequências desastrosas no momento. E fomos abrindo. Você vai notar que não terá repercussão negativa porque o próprio decreto determina que (o empresário) não pode receber duas pessoas ao mesmo tempo, é uma área para cada cliente que chega na lojinha ou onde esteja praticando o comércio. Eu disse até publicamente que o comerciante que desrespeitar qualquer item do decreto será fechado. Estou absolutamente certo que essa abertura tecnicamente estabelecida não trará consequências danosas porque o decreto não foi feito sem as precauções necessárias. Algumas atividades continuam proibidas na capital, como clubes recreativos e as aulas em instituições de ensino público e privadas. Existe previsão para novas flexibilizações?Vamos reabrindo segundo estudos, levantamentos técnicos. Determinadas áreas limitadas a tempo mais restrito de funcionamento e outras com maior tempo de abertura ao longo dia. Vamos restabelecendo sem trazer consequências mais profundas na área da saúde. A reabertura é permanente?Vai depender dos próprios empresários. Se eles seguirem à risca o decreto de reabertura, não haverá surpresas que nos levem amanhã ao fechamento. Se não observarem estritamente o que se estabeleceu para a reabertura, aí poderá ocorrer o fechamento.Há críticas à forma como a Prefeitura está gastando o dinheiro que veio da União para combater o novo coronavírus (dos R$ 74 milhões recebidos, R$ 65 milhões foram empenhados até ontem), o Paço estaria demorando para aplicar a verba. Como este dinheiro é administrado?Pode ser até um excesso de responsabilidade da nossa parte. Mas o meu receio é gastar sem controle e amanhã a cidade sentir que o que o governo não mandou, não contribuiu. Na Prefeitura, não se compra um parafuso sem a minha autorização. Ficamos aí quanto tempo sem arrecadar imposto, com o comércio fechado. A arrecadação caiu. Esses empregados que tiveram as lojas em que trabalhavam fechadas, não tinham dinheiro para comprar o pão e consequentemente não tinham dinheiro para pagar o IPTU, nada. E você não me viu reclamando. Isso porque eu controlo as finanças. Não se inicia uma obra sequer sem a minha autorização. Tenho nas mãos o controle. Dá trabalho autorizar tudo o que compra. Gasto disso ou daquilo só com autorização do prefeito.Com essa crise, vai ser possível terminar o ano com as contas da Prefeitura bem ajustadas ou o município enfrentará problemas nesta área? Se eu falar que tem dinheiro em caixa, é tanta gente que vem para vender, construir. Eu recebi a prefeitura com dívida de R$ 1 bilhão e pouco e déficit mensal de R$ 31 milhões. Eu assumi o desafio pessoalmente dentro desse sistema. O secretário de Finanças tem que arrecadar. Se tiver alguém sonegando e ele não tomar conhecimento, sai da secretaria. É essa a minha ordem. Arrecadar.O senhor decidiu se disputará a reeleição para a Prefeitura de Goiânia?Olha, eu já fiz essa afirmação mais de cem vezes. Parece que ninguém acredita em conversa de político. Tudo tem seu tempo. Tem tempo de trabalhar e de se candidatar. E eu ainda estou no tempo de administrar. Na época de escolha de candidatura vamos decidir.Em uma eventual candidatura, o vice do senhor poderia ser indicado por Caiado? Conversas sobre isso já aconteceram? Não discutimos nada sobre isso. O meu relacionamento com o governador tem sido o mais cordial possível. Ele tem consideração total a mim e eu a ele. Eu não o apoiei (na eleição para governador em 2018). Eu apoiei o Daniel (Vilela, MDB). Meu partido tinha candidato, aquela coisa. Mas vai muito bem Estado e Prefeitura. Sem problemas. Agora, não posso tomar atitude política precipitadamente.O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela transferiu o domicílio eleitoral para Goiânia e é a principal aposta do MDB para disputar a eleição para prefeito de Goiânia, caso o senhor decida não concorrer. Na opinião do senhor, Maguito Vilela é um bom nome para “herdar” sua administração?Qualquer avaliação que eu fizer agora poderia ser mal-entendida. Mas meu relacionamento com ele (Maguito), com Daniel e com o partido é absolutamente fraterno. Sem problemas. Não quero é tratar de política em um momento em que estou com uma responsabilidade administrativa na mão. É aquilo que eu digo, tudo tem sem tempo, sua hora. Não estamos em tempo de falar em candidatura, ainda mais com esse vírus aí. O Alessandro Melo deixou o comando da Secretaria Municipal de Finanças na semana passada, função que ocupava desde 2017, e isso teria acontecido por discordâncias sobre a forma como o dinheiro do governo federal para o combate à pandemia era aplicado. Foi isso que aconteceu? O pedido de demissão pegou o senhor de surpresa? Secretário de Finanças comigo é para arrecadação. Não autoriza um centavo de gastos. São questões que eu não tenho interesse em comentar. Hoje está aí uma nova secretária (Zilma Peixoto, que era titular da Secretaria de Planejamento e Habitação da Prefeitura de Goiânia, a Seplanh). Ela vai dar um show também.Câmara de Goiânia, os vereadores devem aprovar um texto mais enxuto do que estava planejado para o Plano Diretor. Como o senhor avalia essa decisão? Eu não quis interferir. Quando assumi, esse projeto já estava em discussão. Eu, que comecei minha carreira política como vereador, sei respeitar o papel do vereador. Nunca tive dificuldade em sancionar o que é perfeito e vetar o que não convém prevalecer. Então, qualquer palpite da minha parte pode tumultuar. Eu espero que a Câmara tenha a consciência exata do que é um Plano Diretor. Como avalia as ações da Prefeitura para enfrentar a pandemia até agora?A Prefeitura de Goiânia se preparou para enfrentar o vírus. Em primeiro lugar, buscando junto à população a compreensão necessária para a utilização da máscara, evitar as aglomerações e as rodinhas pela cidade afora. A população entendeu de imediato e a repercussão da doença em Goiânia não foi exagerada. Ela vem acontecendo, mas sem provocar terror junto à população, que não é pequena. Quando visitei a maternidade (Célia Câmara) que estava pronta, chamei atenção da secretária de Saúde (Fátima Mrue) sobre o fato de não termos espaço para acudir por ventura casos do vírus que poderiam surgir junto à população. Adiamos a inauguração e transformamos o espaço em centro de atendimento a possíveis doentes. As mães continuam dando à luz sem problemas mais sérios e estamos com mais de 180 leitos de UTI e de enfermaria. Então, a administração de Goiânia atendeu prontamente, modéstia à parte, com competência, não permitindo que o vírus transtornasse a vida da população.