Além de cuidar de sua empresa e da vida profissional, a rotina da maioria das mulheres empreendedoras ainda inclui estudos, afazeres domésticos e o cuidado com os filhos. Isso faz com que elas dediquem, em média, 18% menos tempo aos negócios do que a maioria dos homens. Apesar de já responderem por 42% das empresas abertas em Goiás, as mulheres ainda enfrentam mais barreiras para consolidar e expandir seus negócios que os empreendedores do sexo oposto, com mostra o estudo Perfil da Empreendedora Goiana, feito pelo Sebrae em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG).O levantamento será divulgado durante o Encontro Virtual Delas, hoje e amanhã (19 e 20 de novembro), em comemoração ao Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino e Dia Nacional da Consciência Negra, respectivamente, que será gratuito. Hoje, 10% das mulheres goianas são empreendedoras. Mas elas ainda são a grande maioria em negócios de menor remuneração, como os ligados aos serviços domésticos ou serviços pessoais. “Ainda temos poucas empreendedoras em áreas como tecnologia e engenharia, por exemplo”, lembra Vera Lúcia Oliveira, analista técnica do Sebrae Goiás e Gestora do Projeto Sebrae Delas, de empreendedorismo feminino.A renda média dos homens empreendedores ainda é 35% maior que a das mulheres que empreendem e o faturamento de negócios geridos por eles também é, em media, 9% maior. Vera Lúcia diz que uma das explicações para este faturamento menor é o fato delas dedicarem 18% menos tempo aos negócios que eles, já que ainda são as principais responsáveis pelo cumprimento das obrigações domésticas e com os filhos. Outra explicação é que elas ainda empreendem mais em segmentos com menor valor agregado tecnológico.O estudo do Sebrae mostra que as mulheres empregadoras têm renda média 162% maior que as que trabalham por conta própria. O empreendedorismo também tem uma relação direta com o nível educacional: 58% das mulheres que empreendem têm, pelo menos, o ensino médio. Alguns municípios do interior também possuem um índice de empreendedorismo feminino acima da média. É o caso de Aporé, Lagoa Santa, Alto Paraíso, Cristianópolis, Três Ranchos e Caldas Novas. Muitas dessas cidades são polos turísticos que proporcionam muitas oportunidades para elas, entre as quais a produção e venda de alimentos regionais para os turistas, como queijos e doces.Pardas e negrasUm relatório especial sobre o empreendedorismo feminino no Brasil, feito em 2019, mostrou que mais de 59% das empreendedoras goianas se declararam pardas ou negras, o que colocou o Estado na oitava posição nacional em número de donas de negócio negras. Vera Lúcia ressalta que são mulheres na faixa dos 42 anos, com nível de maturidade mais elevado, que já possuem uma consciência de sua condição de cor e de gênero.As empreendedoras em geral também costumam ter mais dificuldade de acesso ao crédito que os homens e pagam juros mais altos que eles, já que tendem a buscar menos recursos no mercado e a se endividar menos. Mas, para a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado, Iêda Leal, barreiras como essa são ainda maiores quando a empreendedora é negra. “Aos negros, o mercado sempre destinou os trabalhos mais difíceis e com renda inferior. Quando somos empresários, temos ainda mais dificuldade de acesso ao crédito, até pela falta de garantias”, acredita.Esta falta de recursos acaba dificultando o crescimento dos negócios geridos por mulheres e, principalmente, mulheres negras, exigindo um esforço bem maior por parte delas. “Na maioria das vezes, precisamos andar muito sozinhas para conquistar o que queremos. Além disso, o racismo sempre opera quando eu resolvo ser uma empresária, criando armadilhas para dificultar tudo”, destaca Iêda. Ela lembra que este racismo é comprovado em experiências até no tratamento diferenciado entre clientes negros e brancos no comércio.A empresária Onésia Batista Guimarães, há seis anos dona de uma loja de roupas e acessórios, enxerga bem todas as barreiras impostas ao empreendedorismo feminino. Ela conta que evita buscar empréstimos em instituições financeiras por medo de se endividar e até por achar que terá o crédito negado. “Tenho muita dificuldade com capital de giro em minha loja e sempre acabo contando com a ajuda do meu filho nas emergências. Gostaria de ter recursos para investir em mais mercadorias, mas acho que não conseguirei nos bancos tradicionais, pela falta de garantias”, diz a empresária.Ela conta que dedica cerca de oito horas por dia ao negócio, que tenta priorizar em detrimento dos afazeres domésticos, já que os filhos já estão praticamente criados. Para Onésia, as mulheres também têm maior dificuldade quando precisam de serviços para suas empresas que geralmente são prestados por homens. “Quando preciso de um pedreiro para minha loja, por exemplo, eles cobram mais caro, sempre atrasam a entrega e não capricham no serviço. Não me respeitam pelo fato de ser uma mulher. Se eu fosse homem, sei que seria tudo mais fácil”, constata.