Um dos coordenadores da primeira campanha do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás (OAB-GO), Lúcio Flávio, e eleito presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag) pela chapa da atual administração, Rodolfo Mota diz que a Ordem em Goiás “se omitiu por completo” nos últimos anos e, por isso, se lançou candidato ao comando do órgão.Segundo entrevistado na série de entrevistas que O POPULAR faz com os candidatos a presidente da Ordem, Rodolfo critica especialmente a falta de ação da instituição durante a pandemia de Covid-19. “Lúcio administrou a Ordem de seu escritório particular; fechou a Ordem de março do ano passado a agosto deste ano, no momento em que a advocacia mais precisou dela.”O candidato cita como exemplo a falta de assento da OAB no comitê de combate à Covid-19, criado pelo governo estadual em 2020 para estudar medidas de enfrentamento ao vírus no estado. “Quantas outras entidades ou segmentos representativos se fizeram presentes para discutir? Tivemos uma OAB absolutamente omissa e, em razão disso, não renovei os votos a mais uma gestão para Lúcio e não via nenhum candidato que pudesse fazer as transformações que a Ordem precisa e merece”, relata.Para ele, a Ordem também deveria ter se manifestado em relação a outras questões, como a ausência do provimento de cargos no interior e o pedido de repasse suplementar feito pelo Poder Judiciário ao governo do Estado, em meio à tramitação de projeto de lei no Congresso Nacional que dificultava recomposição salarial de magistrados, servidores e pensionistas.Questionado sobre a falta de um auxílio mais robusto aos advogados durante a pandemia, Rodolfo diz que a Casag concedeu auxílios financeiros a fundo perdido, tanto extraordinário quanto emergencial, e que “muita gente não entendeu quais eram os requisitos para recebimento desses auxílios.”Segundo ele, para receber o auxílio-Covid, o advogado deveria estar em situação de contágio, de hipossuficiência financeira e que o recurso fosse direcionado a compra de alimentos ou medicamentos. “Requisitos objetivos. Já o auxílio extraordinário: que (o advogado) passasse por uma situação de hipossuficiência momentânea, e não perda de receita.”Ele relata que houve pedidos de auxílio para pagamento de financiamento de carros de luxo. “Pessoas que moravam no Alphaville, nos Jardins, ou seja, que tiveram perda de receita, mas não estavam em uma situação de hipossuficiência. Concedemos auxílio para mais de 800 advogados nesse período. Muita gente. 80% desses benefícios com caixa da própria Casag. Faltou dinheiro? Não. Faltaram pessoas elegíveis para concessão.”ANUIDADESobre a anuidade, que é uma das mais altas do País, Rodolfo Mota afirma que, caso eleito, fará “redução imediata”. “A expectativa é convocar, a partir de 1º de janeiro, uma reunião do conselho extraordinário para refazer o orçamento deste ano e já termos uma anuidade 20% menor a partir do primeiro ano.”Ele diz ser possível cumprir a proposta. “A Caixa de Assistência recebe 20% da anuidade. Isso é lei federal. Mas, por convenção, reduzimos para 5,5%. E fizemos a assunção da administração do CEL (Centro de Cultura, Esporte e Lazer), espaço que dava déficit de R$ 3,5 milhões à Casag. Então, a Casag desonerou em quase 25% a Ordem, fora R$ 18 milhões que converteu em auxílio financeiro à OAB, R$ 6 milhões investidos em subseções, R$ 3 milhões para realização de eventos, palestras e seminários, R$ 1 milhão para reforma da Escola Superior de Advocacia. Então, sabemos fazer gestão.”Perguntado se é favorável à permissão para que inadimplentes com a anuidade votem nas eleições, ele afirma que é preciso fazer uma discussão mais ampla a respeito do assunto. “Sou favorável que todo inadimplente tenha direito de exercer sua profissão, mas sem a concessão de nenhum tipo de regalia. O que a Ordem precisa fazer é assegurar que esse advogado não fique em situação inadimplente.”Ele ainda critica o candidato Pedro Paulo de Medeiros, autor das ações que pedem a liberação do voto de inadimplentes, e a atual gestão. “A Ordem foi negligente, porque poderia ter flexibilizado mais o pagamento da anuidade e ter sido mais parceira da advocacia nesse momento de agrura, e não cerrado as portas. O advogado quer usar de toda a estrutura da Ordem, que, paradoxalmente, coloca cancelas para que o advogado inadimplente não possa usar. Na Casag, ele pode usar toda a estrutura para exercer sua profissão e receber seus honorários para estar em condição de adimplência.”DIÁLOGO POLÍTICOO candidato tem defendido diálogo com a Assembleia Legislativa a fim de sugerir projeto de lei. Questionado a respeito desse diálogo político, em um contexto de críticas à falta de independência política da atual administração, ele afirma que são coisas diferentes. “O representante da Ordem é esseNossa ideologia é a Constituição, mas de tempos em tempos parece que os dirigentes se esquecem disso e acabam se vocacionando a trazer a política partidária para dentro da Ordem político institucional. Sou crítico severo é da política partidária entrando na Ordem, mas a política institucional é mais do que necessária, é indispensável.”De acordo com ele, “o partido político da OAB é a advocacia.” “Nossa ideologia é a Constituição, mas de tempos em tempos parece que os dirigentes se esquecem disso e acabam se vocacionando a trazer a política partidária para dentro da Ordem. Foi assim com Henrique Tibúrcio e agora o é com Lúcio Flávio com essa aproximação com Ronaldo Caiado. Muita gente da sua atual administração ocupando cargos em comissão no governo, a exemplo do próprio irmão.”Em 2015, o então presidente da Ordem Henrique Tibúrcio deixou o cargo para assumir a Secretaria de Governo (Segov) na gestão do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Sua saída causou uma série de questionamentos e desgastes a seu grupo, o que acabou favorecendo a eleição do atual presidente Lúcio Flávio. Já Lúcio Flávio tem pelo menos uma ligação direta com o governo de Ronaldo Caiado (DEM): Luis Antonio Siqueira Paiva, seu irmão, é chefe de gabinete da mesma Segov antes comandada por Tibúrcio. Luís Antônio, como diz a descrição de sua conta em redes sociais, também é advogado e sócio no escritório de advocacia em que Lúcio Flávio compõe o Quadro de Sócios e Administradores (QSA).