A decisão de deixar para fevereiro a reforma administrativa do governo e o consequente adiamento de mudanças mais amplas na equipe fizeram crescer a ansiedade de partidos aliados sobre espaço no segundo mandato do governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Com a vitória no primeiro turno em coligação que inclui siglas de maior porte - diferentemente das eleições de 2018 -, Caiado enfrenta mais cobranças por participação na gestão.A aliança com 12 partidos inclui a maior sigla do estado em número de filiados, o MDB, mais o PP, PSD, PDT e SD. Nos bastidores, lideranças governistas dizem estranhar a ausência de conversas, ainda que por interlocutores - já que o governador está em recuperação de cirurgia cardíaca -, e criticam o fato de o governo iniciar o novo mandato sem um fôlego novo na equipe.Além disso, há incômodo com os sinais do governo de que vai manter os titulares de pastas estratégicas, como Social, Educação, Saúde e Infraestrutura, conforme mostrou o Giro no dia 10. Após a eleição, Caiado confirmou também a continuidade de Adriano da Rocha Lima, secretário-geral da Governadoria, braço direito do governador e que pode assumir a Secretaria de Planejamento, a ser criada.A reforma ficou para depois por conta do rompimento do presidente da Assembleia Legislativa, Lissauer Vieira (PSD), com o governo durante a votação da contribuição sobre produtos agropecuários, que gerou muitos desgastes à situação. O governo alega também que precisava de mais tempo para estudar as possíveis mudanças.Caiado se submeteu a cirurgia no dia 8 de dezembro e recebeu alta na última quarta-feira (14), mas segue em São Paulo. Conforme mostrou o Giro nesta sexta-feira (16), ele participará remotamente da cerimônia de diplomação dos eleitos nesta segunda-feira (19).Embora admita que a coligação com maior força representa expectativa por cargos no primeiro escalão, o governador tem repetido que seus aliados respeitam suas decisões sobre as necessidades de nomes técnicos ou da cota pessoal.“As pessoas já conhecem Ronaldo Caiado, sabem da minha maneira de agir e sempre me deram muita autonomia para governar. Não é esse estilo de toma-lá-dá-cá. Transformar governo em capitania hereditária não dá certo”, afirmou o governador no dia seguinte à eleição, em 4 de outubro, em entrevista ao Grupo Jaime Câmara.Os partidos, no entanto, já começaram a emitir sinais sobre seus interesses. Na última segunda-feira (12), a deputada federal Flávia Morais (PDT) falou ao POPULAR sobre a expectativa de espaço da sigla, ressaltando que não houve indicação no primeiro mandato do governador.“É claro que o partido que apoia, se tem espaço, é uma demonstração de que é reconhecido (...) Muitas vezes o PDT foi deixado de lado (...) Acredito que agora existe amadurecimento e compromisso de ter um olhar para o PDT como um partido aliado, que esteve junto, e quer participar da gestão”, afirmou Flávia, que é casada com o deputado estadual eleito e presidente do PDT goiano, George Morais.Leia também:- Toffoli vota pela legalidade do terceiro mandato de Romário- Reforma pode permitir que Caiado distribua cargos entre as pastas via decreto- Assembleia Legislativa de Goiás fecha ano em sessão célere e em clima de cordialidadeA informação nos bastidores é que o PDT mantém a reivindicação, já manifestada no primeiro mandato de Caiado, de comando do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos de Goiás (Ipasgo), além de outros espaços no segundo escalão.Espaço do MDBLideranças do MDB, partido do vice-governador eleito Daniel Vilela, que preside a sigla em Goiás, tiveram conversas internas recentes para discutir demandas do partido.É tido como certo que a Secretaria de Comunicação (Secom) ficará com a legenda, mas os líderes têm defendido que seria mais uma cota pessoal do governador do que um objetivo do partido.A Agência de Habitação (Agehab) e a Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) estão entre as pastas em que o MDB está de olho. O presidente da Agehab, Pedro Sales, já foi anunciado pelo governador como futuro secretário de Infraestrutura, órgão a ser criado com a reforma.A tendência é que Pedro Sales fique na Agehab até a criação da Seinfra, mas deve deixar a Agência Goiana de Transportes e Obras (Goinfra) nas próximas semanas. A pasta será comandada por Lucas Vissoto, atual diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit), em uma articulação do próprio Sales.Nas reuniões internas, emedebistas manifestaram opinião de que Caiado deveria iniciar o novo mandato já mostrando “a nova cara” do governo, com composição muito diferente do que foi a primeira gestão.No PSD também há opinião de que o atraso da definição da estrutura e das mudanças representam menos tempo para dar velocidade ao novo mandato. “O tempo de governo é curto. Dois ou três meses para aprovar a reforma, mais dois ou três meses para a equipe engatar, se ajustar, se entrosar e executar aí já é um semestre”, diz o presidente do PSD estadual, Vilmar Rocha.Ele admite a expectativa na sigla para ser chamada a discutir a participação no governo, mas diz que o partido está tranquilo porque não houve imposição no fechamento do apoio a Caiado. “Diferentemente do primeiro governo, agora o PSD ajudou a eleger o governador no primeiro turno, então considera natural e se sente confortável em participar. Mas também vamos aguardar sermos procurados”, afirma.Derrotados nas tentativas de reeleição, os deputados federal Francisco Júnior e estadual Max Menezes são indicações do partido para assumir cargos no governo, além da possibilidade de o próprio Vilmar e de o presidente do PSD goianiense, Simeyzon Silveira, ocupar uma pasta.Governo federalDiferentemente de outros aliados, Francisco diz entender a demora de Caiado em iniciar as trocas na equipe. Para ele, o adequado é aguardar as definições sobre o quadro político nacional, já que entrará um novo governo, do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Caiado sempre teve posição dura contra o PT, mas agora é Executivo, e governo não governa contra a União. Eu no lugar dele também esperaria a conclusão do desenho nacional para depois iniciar com calma as conversas”, diz.Entre aliados próximos de Caiado, a tese defendida também é essa: de que esperar as definições no governo federal ajudariam inclusive a definir auxiliares que tenham afinidade com os integrantes do ministério e possam abrir portas no governo petista.Segundo maior partido da coligação em número de filiados, o PP já acenou, em conversa com Caiado, o interesse em ampliar o quinhão no governo. O partido tem hoje a Secretaria de Indústria e Comércio (SIC), comandada por Joel Sant´Anna Braga, irmão do presidente do diretório estadual Alexandre Baldy.Há especulações de que Baldy poderia assumir a pasta no lugar do irmão, mas o grupo demonstra apetite por mais espaço. O dirigente já manifestou disposição de atuar em Goiás, depois de ter passado pelo Ministério da Cidadania, na gestão de Michel Temer (MDB), e na Secretaria de Transportes Metropolitanos no governo de João Doria (ex-PSDB), em São Paulo.Nas conversas com governistas, Baldy diz que recebeu convites para assumir secretarias em São Paulo e no Distrito Federal, mas que prefere ficar no estado. O grupo considera que o afastamento de Goiás dificultou a campanha dele ao Senado este ano.Nos bastidores, as informações são de que Caiado, que já passou por episódios de insatisfação com as pressões de Baldy, preferiu não alimentar as expectativas do PP, evitando responder sobre as demandas.No Solidariedade, o deputado federal Lucas Vergílio, que não conseguiu se reeleger, é cotado para assumir a Secretaria de Esportes, já ocupada por indicação do partido - Henderson Rodrigues. O deputado, que não ganhou a reeleição, afirma que não há qualquer sondagem a respeito e que aguarda sinal do governador para dialogar.Flávia Morais também diz que “não é o partido que tem que se manifestar” e que caberá a Caiado chamar para a distribuição dos espaços.Ainda não há definição sobre quando o governador voltará a Goiânia e não se sabe se ele vai tratar de equipe no retorno, embora algumas lideranças apostem que poderá iniciar sondagens ainda este ano.