Atualizada às 21h50Ao apostar que a Cash Delivery caminha para o arquivamento após decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, o grupo do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) associa a operação às ações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e acusa integrantes do Ministério Público Federal (MPF) e da Justiça de “excessos, ilegalidades, arbítrio, perseguição e atuação política”.O processo retornará à Justiça Eleitoral, que não encontrou indícios de crime eleitoral no ano passado e havia remetido os autos à Justiça Federal. Caberá ao promotor eleitoral agora avaliar se apresentará denúncia sobre as investigações de corrupção, embora a defesa considere o caso finalizado.Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (3), no Metropolitan Mall, em Goiânia, o advogado Cristiano Zanin, que atua na defesa de Lula e assinou, juntamente com o advogado Romero Ferraz Filho, o pedido ao Supremo em favor do ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop, atual Goinfra) Jayme Rincón - braço direito de Marconi e que foi preso a nove dias das eleições de 2018 - disse que a operação teve “metodologia ‘made in Curitiba’”, em referência à Lava Jato.“É mais uma situação que se encaixa plenamente naquilo que foi concluído pela ONU na semana passada”, afirmou Zanin, em referência à decisão do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de que Lula teve direitos violados durante o processo criminal do qual foi alvo na Lava Jato.Zanin afirmou ainda que o caso de Goiás tem uma “peculiaridade” grave: o fato de o procurador responsável pela operação, Mário Lúcio de Avelar, ter sido candidato a governador no Tocantins pelo PSOL no mesmo ano da investigação (em eleição suplementar). “Tínhamos um procurador que promovia uma operação e de forma simultânea estava construindo uma carreira política. A mistura do cenário judicial com o político é inegável.”Ele também citou a amizade do procurador com o atual senador Jorge Kajuru (Podemos, à época candidato contra Marconi). Romero destacou na coletiva que a “perseguição” do MPF teve início em 2016, com a operação Decantação, que investigou desvios na Saneago e teve denúncia rejeitada pela Justiça. A investigação também era de responsabilidade de Mário Lúcio.O procurador Helio Telho, que atuou na Cash Delivery em substituição e assinou a denúncia, também foi alvo de críticas da defesa e do próprio Jayme. Em apresentação de slides, Zanin mostrou postagens do procurador no Twitter, incluindo enquete sobre operações durante o período eleitoral. “Em vez de investigar, ele estava fazendo enquete na internet como se estivesse perguntando ao público: eu devo fazer essa operação contra o candidato que está em 1º lugar nas pesquisas? Será que este é o papel de procurador? Ou é verificar provas concretas e tomar providências?”Na quinta-feira (28), Gilmar Mendes decidiu pela incompetência da Justiça Federal para julgar o caso, declarando nulidade dos atos decisórios e da denúncia apresentada pelo MPF e determinando a remessa dos autos à 135ª Zona Eleitoral de Goiânia.A Cash Delivery foi um desdobramento das investigações da Lava Jato, com aproveitamento das delações de ex-executivos da Odebrecht, que afirmaram que a empresa entregou R$ 2 milhões em 2010 e R$ 10 milhões em 2014 ao grupo de Marconi.A denúncia feita pelo MPF apontava corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Marconi ficou preso por um dia, após as eleições.Jayme Rincón, que participou da coletiva, disse que a Cash Delivery foi “a maior armação política da história de Goiás”. Ele chamou os procuradores de “cretinos e canalhas” e disse que vai adotar medidas judiciais contra eles.RespostasMário Lúcio de Avelar e Hélio Telho não quiseram comentar as críticas feitas pela defesa de Jayme nem a decisão do ministro do Supremo.Procurada para saber se haverá recurso contra a decisão de Gilmar Mentes, a assessoria da Procuradoria Geral da República disse que não adianta posicionamento. “É preciso aguardar a publicação da decisão e a intimação do MPF para que o membro com atribuição no caso avalie a pertinência ou não do recurso.”A 135ª Zona Eleitoral afirmou não ter sido informada ainda sobre a decisão do ministro e não pode antecipar posicionamento, mas que o procedimento comum é que o processo corra normalmente porque não há arquivamento sobre o inquérito.As provas produzidas antes da denúncia do MPF não foram anuladas, o que significa que podem ser aproveitados em uma possível nova denúncia da promotoria eleitoral.Marconi Perillo não quis comentar. O advogado dele, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, divulgou nota em que afirma que a operação foi deflagrada “intencionalmente contra o tucano e seu grupo político, com o claro intuito de interferir naquele pleito eleitoral”. “Nesses anos de batalha, Marconi Perillo teve sua vida pessoal e política devassadas, sua família atacada violentamente, mas resistiu e as defesas seguiram questionando todas as ilegalidades cometidas pelo MPF, acreditando sempre que este dia, enfim, chegaria e seria feita a devida justiça”, completa a nota.Leia também:Gilmar Mendes concede habeas corpus e Cash Delivery pode ser arquivadaArquivada pelo TRE-GO, Cash Delivery tem denúncia aceita na Justiça Federal-Imagem (1.2449055)