Um dos alvos da operação deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (20) para apurar desvios na estatal federal Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Maranhão é a empresa Construservice, responsável por três lotes de reconstrução asfáltica de Goiânia desde 2020 e que ganhou R$ 43 milhões de aditivo da Prefeitura há três meses.O suposto sócio oculto da empresa Eduardo José Barros Costa, conhecido como Eduardo DP e Eduardo Imperador, foi preso na operação chamada Odoacro (referência ao apelido de Eduardo, por conta de sobrenome do soldado italiano que capitaneou uma revolta que colocou fim ao Império Romano).Em março, O POPULAR mostrou problemas na prestação dos serviços de reconstrução asfáltica na capital, como trincas, buracos e desnivelamento nas vias. A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) alegou questões pontuais e corriqueiras e que já estavam sendo corrigidas pelos executores. No mês seguinte, foi autorizado o segundo aditivo do contrato com a Construservice, com aumento de prazo de até 17 meses e de correção dos valores.No dia 7 de junho, o titular da Seinfra, Everton Schmaltz, assinou um novo despacho autorizando um terceiro aditivo, mas não há informações dos detalhes. Ele afirmou ao POPULAR que será de prazo e de “aditivo de serviços em aproximadamente 20% ainda a ser certificado pela Controladoria Geral do Município (CGM)”. Ele não quis falar em valores, alegando ainda não haver definição.A Construservice, que é de Codó (MA), venceu licitação de três dos quatro lotes para recapeamento na capital goiana no fim de 2019, na gestão do ex-prefeito Iris Rezende, ao valor de R$ 173,8 milhões. A Engefort, de Imperatriz (MA), ficou com o outro lote, no valor de R$ 71,6 milhões. Ao total, os contratos preveem 630 quilômetros de asfaltamento.O custo total das obras já passou de R$ 245,4 milhões para R$ 288,6 milhões e o prazo de conclusão de fevereiro para setembro de 2023. Já houve também despacho de autorização de aditivo para reajuste de preços no contrato da Engefort, mas valores não foram informados.Leia também:- PF apreende R$ 1,3 milhão em dinheiro em operação que mira desvios na Codevasf- Codevasf doou 50 caminhões de lixo para Goiás em 2021- Empresa venceu licitação da Saneago para 30 caminhões- Vanderlan indicou comando da Codevasf em Goiás- Empresas citadas em escândalo venceram licitações em Goiás- Cidades goianas receberam veículos citados em denúnciaA PF deflagrou a operação em cinco cidades maranhenses, com cumprimento de 16 mandados de busca e apreensão e um de prisão. Segundo a assessoria de imprensa, a finalidade é “desarticular associação criminosa estruturada para promover fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, envolvendo verbas federais da companhia”.De acordo com a PF, o esquema e as pessoas são os mesmos identificados em investigação da Polícia Civil do Maranhão em 2015, que apurou desvios no município de Dom Pedro. “Descobriu-se que são constituídas pessoas jurídicas de fachada, pertencentes formalmente a pessoas interpostas, e faticamente ao líder dessa associação criminosa, para competir entre si, com o fim de sempre se sagrar vencedora das licitações a empresa principal do grupo, a qual possui vultosos contratos com a Codevasf”, afirma a PF.Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Goiânia afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto “porque não foi citada, nem recebeu qualquer recomendação ou notificação”.CodevasfA gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou a Codevasf é um dos principais meios de liberação de emendas parlamentares em troca de apoio político do chamado centrão no Congresso.O jornal Folha de S.Paulo havia mostrado em maio que a Construservice é segunda maior empresa vencedora de licitações na Codevasf, ao valor de R$ 140 milhões, e utilizou laranjas para participar de concorrências públicas.Ainda de acordo com a Folha, os dois proprietários oficiais da Construservice foram alvos do inquérito policial em 2015 e admitiram atuar como laranjas. Eduardo havia sido preso naquela ocasião e é réu em ações nas Justiças Estadual e Federal que tratam dos supostos desvios e atos de corrupção.A Engefort também é alvo de apurações sobre concorrências vencidas na Codevasf.