Questionada, a ex-secretária da Fazenda de Goiás Ana Carla Abrão lembrou que na época que trabalhou para governo estadual, na gestão de Marconi Perillo (PSDB), a criação de uma contribuição a ser paga por produtores rurais chegou a ser cogitada, mas não foi para frente. O governo de Ronaldo Caiado (UB) conseguiu aprovar a que vem sendo chamada de taxa do agro na Assembleia Legislativa de Goiás, sob protestos de representantes do setor.Economista, Ana Carla participou, nesta sexta-feira (25), do evento "2023, e agora?", promovido pelo advogado Dyogo Crosara, no K Hotel, em Goiânia. Ela fez uma palestra em que destacou os principais desafios da economia brasileira a partir do ano que vem. Ao fim da apresentação, recebeu perguntas de jornalistas.Foi nessa oportunidade que a ex-secretária foi perguntada quanto à taxa, que gerou polêmica no estado nas últimas semanas. Ela lembrou que, na época em que foi titular da Fazenda em Goiás, participou de diversas discussões que envolviam a taxação do agronegócio e que, também naquele período, houve muita polêmica, apesar de não tão exacerbada, já que a proposta não seguiu adiante.Ana Carla afirma que não acompanhou a discussão do governo atual, mas contextualizou os fatos da época do governo Marconi: "A gente não tinha uma evidência de que essa taxa de fato era benéfica no fim das contas, quando você olhava todos os efeitos que ela tinha tanto no agro, quanto na indústria, quanto na infraestrutura. E aí a gente acabou recuando."Leia também:- Marconi reage a Baldy: “Demonstra ódio e desprezo ao agronegócio”- Detalhamento da taxa do agro fica para dezembro- MP-GO também irá apurar invasão a Assembleia Legislativa de GoiásA motivação, segundo ela, era o fato de que com o governo estadual e o federal em crise, sem a possibilidade de empréstimos, a criação do tributo seria uma forma de garantir o investimento em infraestrutura. "Essa era uma forma de suprir uma deficiência na capacidade do estado de fazer esses investimentos, que eram tão necessários inclusive para o agro", disse.Ana Carla cita entre os impeditivos para seguir com a proposta a análise de possível perda de competitividade, porque na época apenas o Mato Grosso tinha a taxa. "Eu, particularmente, me lembro de ter essa conversa com o governador Marconi. Eu falei 'governador, eu não tenho segurança de todos os efeitos", rememora.A ex-secretária lembra que as discussões acabaram avançando para encontrar outras alternativas, como a conquista de um empréstimo com o governo federal. "A gente acabou suprindo de outras formas. Mas a gente tinha a privatização da Celg em vista, que ia trazer recursos para investimento", contextualiza.No governo Marconi, em 2016, foi feito um decreto para criar uma tributação sobre a soja e o milho em Goiás. Cerca de um mês depois, o governo revogou a medida, após conversas com representantes da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), da Associação dos Produtores de Soja de Goiás (Aprosoja) e outras entidades.A ideia, na época, era cobrar o ICMS sempre que o produto agrícola, destinado à industrialização, não passasse pelo processo industrial antes de deixar o estado. Marconi tem se manifestado publicamente contra a contribuição criada agora no governo Caiado. Ao publicar um vídeo da invasão de manifestantes ao plenário da Alego durante a discussão do projeto de lei, o ex-governador disse que se tratava de uma "resposta à traição e desrespeito de Caiado ao agro."Nesta semana, o ex-ministro das Cidades Alexandre Baldy publicou um artigo no POPULAR relembrando tributos criados durante os governos tucanos em Goiás. Na coluna Giro, Marconi reagiu e disse que Baldy demonstrava "ódio e desprezo ao agronegócio".